Diretora da Anistia Internacional: EUA reconheceram morte de Floyd por racismo
Em entrevista à CNN, Jurema Werneck também classificou como 'marco na luta contra o racismo' a condenação do ex-policial que assassinou Floyd
A decisão unânime do júri que condenou o ex-policial Derek Chauvin pela morte de George Floyd, nos Estados Unidos, foi o reconhecimento da Justiça americana de que o assassinato decorreu do racismo estrutural do país. A avaliação é da diretora-executiva da Anistia Internacional no Brasil e ativista dos direitos humanos, Jurema Werneck.
Em entrevista à CNN nesta quarta-feira (21), ela disse esperar que a condenação de Chauvin inaugure um processo de retirada do racismo das políticas públicas dos Estados Unidos e, também, do Brasil. “Como a vice-presidente [Kamala Harris] disse, uma decisão da Justiça não é tudo, mas é um passo importante. Ali tivemos o reconhecimento pelo sistema judiciário de que aquela morte foi fruto do racismo”, afirmou Jurema.
Para ela, a mensagem que fica de todas as ações desencadeadas desde a morte de Floyd, ocorrida em maio de 2020, incluindo o afloramento do movimento Black Lives Matter (Vidas Negras Importam), é de que o mundo não tolera mais a brutalidade e violência policial motivada por discriminação.
“É uma mensagem de que o racismo precisa ser enfrentado com seriedade na polícia e fora dela. A mobilização Vidas Negras Importam, que aconteceu do ocidente ao oriente, é uma mensagem da sociedade que as autoridades precisam ouvir. Perdemos muita gente por violência policial no Brasil, nos EUA e no mundo. A mensagem que passamos é chega, não é possível que isso continue.”
Violência policial
Em discurso na noite de terça (20), o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, repercutiu a condenação de Derek Chauvin pela morte de George Floyd. Biden destacou a importância na mudança de conduta contra crimes raciais, não somente pelos departamentos de polícia, mas também pelo governo americano.
Jurema Werneck viu no discurso comprometimento das autoridades públicas em combater o preconceito racial no país. “A cena que mais me afetou, além da decisão do júri, foi termos a vice-presidente e o presidente de um país juntos chamando a nação para enfrentar o racismo. Devo dizer que sonho com o dia que veremos a mesma cena no Brasil”, disse.
A ativista lembrou casos recentes de mortes por violência policial no Brasil: João Pedro, de 14 anos, morto a tiros em casa na favela do Salgueiro, no Rio de Janeiro, em 2020; Evaldo dos Santos, de 46 anos, morto em operação do Exército no Rio, em 2019; e João Alberto, de 40 anos, espancado e morto em um supermercado em Porto Alegre, em 2020.
“A situação do Brasil é extremamente grave. Quando vemos cenas como a do João Alberto, que foi filmada, vemos também que as autoridades não estão controlando os aparatos de segurança, sejam privados, polícias ou o exército interventor no Rio de Janeiro”, disse Jurema.
(*supervisionado por Elis Franco)