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    Uma lei de 1976 impede você de ter um carro a diesel

    Regra da época da crise do petróleo se mantém ativa. Porém, esse tipo de motor é mais resistente e eficiente, apesar de caro

    Thiago Moreno, colaboração para o CNN Brasil Business

    Enquanto no Brasil as montadoras tentam tirar o máximo de eficiência de pequenos motores flex, na Europa já se usa uma solução mais racional há muito tempo. Por lá, qualquer veículo pode utilizar um propulsor a diesel, como os de caminhões e picapes, desde que respeitem os limites de emissões de poluentes do Velho Continente.

    Mas, por que nós não temos carros pequenos a diesel também? Essa é a hora de jogar a culpa no governo, pois veio dele uma lei que proíbe veículos de pequeno porte de utilizar esse tipo de motor. E a regra é de 1976, o que significa que, por conta de uma legislação de 45 anos atrás, o seu carro precisa ser movido a gasolina ou etanol.

    O que determina isso hoje é a Portaria nº 23 do Departamento Nacional de Combustíveis, que substituiu a Lei nº 346 de 19 de novembro de 1976, redigida pelo então Ministério da Indústria e Comércio do regime militar. No entanto, vale lembrar que eram tempos de crise do petróleo e a importação de combustíveis estava afetando a balança comercial brasileira. Sendo assim, a medida foi tomada para priorizar o uso de diesel em transportes de carga, geradores e máquinas agrícolas.

    Ela poderia ter sido revista em 1994, quando a portaria em vigência foi publicada, mas o governo da época preferiu manter a regra do jeito que estava. Se você queria saber somente o motivo de você ser proibido de ter um carro pequeno a diesel como os europeus, é por conta de uma regra velha que nunca foi alterada.

    Quais carros podem ter motor a diesel?

    Segundo a portaria de 1994, é dito apenas que “fica proibido o consumo de óleo diesel como combustível nos veículos automotores de passageiros de carga e de uso misto, nacionais e importados, com capacidade de transporte inferior a 1.000 kg (mil quilogramas), computados os pesos do condutor, tripulantes, passageiros e da carga”.

    As únicas exceções permitidas pela regra são veículos denominados como “jipes”, com tração nas quatro rodas e função de redução de marchas. Por conta disso, é possível encontrar picapes e utilitários a diesel. No caso das primeiras, a capacidade de carga é superior a uma tonelada, enquanto os SUVs podem ter 4×4 e reduzida, efetivamente driblando a lei. As outras únicas exceções são veículos de outros países temporariamente circulando no Brasil e carros a serviço de missões diplomáticas.

    Então, por que o Jeep Renegade tem motor a diesel?

    Se as regras pedem grande capacidade de carga e tração 4×4 de verdade, com alavancas seletoras para redução, como o Jeep Renegade consegue oferecer um motor a diesel sem cumprir nenhuma das regras?

    Aí aparece mais um artifício utilizado por diversas montadoras no Brasil que querem comercializar veículos a diesel. O inciso 2 da portaria nº 23 de 1994 do Departamento Nacional de Combustíveis diz que modelos que se enquadrem como jipes podem ter motores a diesel. No caso do Renegade, também há o argumento de que a primeira marcha do câmbio atua como uma redução por ser muito curta.

    O governo acatou, e outros modelos utilizam esse artifício antes mesmo do Jeep, como BMW X5 e o Land Rover Range Rover.

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    Afinal, quais as vantagens do motor a diesel?

    Do ponto de vista técnico, um motor a diesel trabalha com uma compressão muito maior dentro dos cilindros na comparação com um a gasolina ou etanol. Com isso, ele aproveita a energia liberada pela combustão de maneira mais eficiente. Em média, um propulsor a diesel pode ser 30% mais econômico do que um a gasolina de mesma cilindrada. Além disso, gera mais força, podendo oferecer até 50% a mais de torque que um motor a gasolina equivalente.

    Por trabalharem com pressões internas maiores, os propulsores a diesel precisam ser construídos de maneira mais robusta. Além disso, também trabalham com regime de rotações mais baixas. O resultado é um motor bem mais robusto e duradouro. Enquanto a vida útil de um motor a gasolina gira em torno de 250 mil km, é fácil ver caminhões ultrapassando 1 milhão de km sem dificuldades, apesar de pegarem no batente todos os dias.

    E as desvantagens?

    Se, por um lado, os motores a diesel geram mais torque, ficam devendo em potência na comparação com aqueles movidos por gasolina ou etanol. O número de potência é um cálculo feito levando-se em consideração o torque, o giro do motor e uma constante matemática. Como o propulsor a diesel gira pouco, tem menos potência.

    Além disso, apresenta outros inconvenientes que são inerentes à sua construção, como vibrações mais fortes, peso elevado e maiores níveis de ruído. Outro fator importante é a poluição. Além de monóxido de carbono e dióxido de nitrogênio, uma das características dos motores a diesel é a emissão de material particulado em forma de fuligem, que pode conter carbono, enxofre, nitrogênio e outros agentes nocivos. 

    Para controlar tal emissão, são necessários sistemas cada vez mais caros e complexos, como a adição de Arla32, um composto líquido de ureia aplicado aos gases de escape para reduzir os níveis de materiais particulados na atmosfera. Por conta disso e da ascensão dos carros elétricos na Europa, cada vez menos montadoras de lá vêm investindo nesse tipo de propulsor.

    Outro fator importante para se considerar antes de sair na rua pedindo a liberação de carros a diesel é o seu preço. Usando como exemplo o Jeep Renegade na versão Longitude, o SUV custa R$ 119.990 com motor flex e R$ 160.590 com o diesel. A diferença é de mais de R$ 40 mil. O modelo mais caro, porém, tem câmbio automático de 9 marchas (6 no flex) e tração nas quatro rodas.

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