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    Dólar fecha em alta e Ibovespa perde quase 5% com incertezas na Petrobras

    Investidores buscam ativos mais seguros como a moeda americana em momentos de turbulência

    Natália Flach, do CNN Brasil Business, em São Paulo

    A decisão do presidente Jair Bolsonaro de indicar o general Joaquim Silva e Luna para o comando da Petrobras, no lugar de Roberto Castello Branco, e suas falas sobre mudanças no setor elétrico injetaram uma dose extra de incertezas no mercado. Com isso, o dólar teve um dia de alta nesta segunda-feira (22), com investidores buscando ativos mais seguros.

    A moeda americana fechou em alta de 1,31% no mercado à vista, cotada a R$ 5,45 na venda. A cotação variou entre R$ 5,53 (+2,79%) — patamar alcançado imediatamente antes de o BC anunciar leilão de swap cambial — e R$ 5,43 reais (+0,87%), por volta de 16h15.

    Já o Ibovespa fechou em queda de 4,87%, aos 112.668 pontos. Os papéis da Petrobras tiveram as maiores quedas do índice, com recuos de mais de 20%. A estatal perdeu hoje R$ 73 bilhões em valor de mercado, o segundo maior tombo dos últimos 27 anos.

    Para Erminio Lucci, CEO da corretora BGC Liquidez, a credibilidade da agenda liberal vai ser seriamente questionada pelos agentes do mercado e econômicos com efeitos nos preços, não somente da Petrobras, mas nas diversas empresas estatais de capital aberto, assim como em outros ativos do país, como o real. “Infelizmente, estamos novamente, menos de cinco anos depois, tendo a credibilidade do país colocada em questionamento pelo capital global.”

    Nem mesmo o leilão de linha de rolagem parcial ajudou a aliviar o dólar com a venda de US$ 1,6 bilhão.  O diretor da Wagner Investimentos, José Raymundo Faria Júnior, diz que a intervenção do presidente Jair Bolsonaro na troca de comando da Petrobras e possivelmente mudanças em outras empresas públicas agravam a percepção dos investidores locais e estrangeiros sobre Brasil em um dia que seria de pressão aqui por causa da queda das Bolsas em Nova York com alta simultânea dos juros longos das Treasuries e do dólar ante pares emergentes do real.

    Nesta segunda, o Bank of America (BofA) excluiu Petrobras e Eletrobras da carteira de investimentos e colocou Klabin, Cosan e Natura. Também cortou recomendação de compra de ações do Brasil no portfólio da América Latina.

    Segundo André Perfeito, economista-chefe da Necton, apesar de ter um impacto concentrado na Petrobras, a medida vai conduzir os demais ativos para uma correção de curto prazo.

    “A nossa visão é que os investidores passam a exigir um maior retorno para compensar a elevação de risco e nível de volatilidade, [por isso] julgamos que dentro desta linha de raciocínio empresas mais alavancadas financeiramente e que possuem maior beta (medida de sensibilidade de um ativo) em relação ao Ibovespa devem liderar as perdas de curto prazo – como por exemplo: varejistas, aéreas, e por último o setor elétrico apesar de ser considerado resiliente e seguro poderá ser impacto por novas falas do presidente que ‘vamos meter o dedo na energia elétrica, que é outro problema’”, escreveu o especialista.

    Intervenção do BC

    Em um dia marcado pela forte alta do dólar ante o real no Brasil, o Banco Central entrou no mercado no fim da manhã. A autarquia promoveu entre instituições financeiras leilão de US$ 1 bilhão numa tentativa de segurar as cotações da moeda americana.

    A intervenção foi feita por meio de swap cambial, um tipo de contrato ligado ao câmbio que, ao ser negociado pelo BC, tem um efeito equivalente à venda de dólares no mercado futuro. Como o mercado futuro da moeda americana é o mais líquido no Brasil, sempre que negocia swaps o BC acaba por afetar também as cotações do dólar à vista – utilizado em transações comerciais, remessas ao exterior e operações entre instituições financeiras, por exemplo.

    Após ter promovido o leilão de US$ 1 bilhão em swaps entre 11h15 e 11h25 da manhã, o BC vendeu ainda outros US$ 800,0 milhões em swaps entre 11h30 e 11h40 – neste caso, numa operação já prevista, para renovar alguns vencimentos destes contratos cambiais programados para o início de abril.

    O efeito da atuação do BC foi perceptível. Após ter sido negociado a R$ 5,5336 mais cedo, o dólar à vista era vendido a R$ 5,4976 às 12h27, conforme o Broadcast, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado. A alta no dia era de 2,08%.

    No exterior, o dólar também sobe ante outras moedas de países emergentes ou exportadores de commodities, como o dólar canadense (alta de 0,08% para o dólar americano), o rand sul-africano (+0,80%), a lira turca (+1,43%) e o peso chileno (+1,34%). Mas o porcentual de ganho da moeda americana no Brasil é bastante superior ao que se vê em outros países.

    Reação do mercado

    Isso ocorre porque o mercado brasileiro reage hoje à intervenção de Bolsonaro na Petrobras, que resultou na demissão de Castello Branco. Para seu lugar, foi indicado na sexta-feira, 19, o general Joaquim Silva e Luna. Para aumentar o estresse do mercado financeiro, Bolsonaro sinalizou com mais mudanças nesta semana. Um dos possíveis alvos é o setor de energia elétrica, outra fonte de pressão inflacionária.

    Como informou pela manhã o Estadão/Broadcast, em meio à alta nos preços dos alimentos e de combustíveis, os economistas do mercado financeiro já projetam uma inflação em 2021 acima da meta perseguida pelo Banco Central.

    O Relatório de Mercado Focus – que reúne as expectativas do mercado – indica que a inflação projetada para este ano já está em 3,82%. O centro da meta perseguida pelo BC é de 3,75%. A margem de tolerância é de 1,5 ponto porcentual (inflação entre 2,25% e 5,25%).

    Foi a primeira vez, considerando as projeções feitas nos últimos dois anos, que o mercado indica a expectativa de que o IPCA – o índice oficial de inflação – fique acima do objetivo central do BC, ainda que dentro da margem de tolerância. O porcentual diz respeito à mediana de todas as projeções encaminhadas ao BC para formulação do relatório. Mas para pelo menos uma instituição consultada no Focus, a inflação encerrará 2021 em patamar ainda maior, aos 4,61%.

    Com o foco voltado para a reeleição em 2022, Bolsonaro tem adotado postura mais intervencionista na economia. A demissão de Castello Branco na Petrobras foi uma reação aos aumentos mais recentes dos combustíveis nas refinarias, que elevaram a pressão dos caminhoneiros sobre o governo.

    No fim de semana, o ministro das Comunicações, Fábio Faria, tentou minimizar a intervenção ocorrida na Petrobras. Numa rede social, ele escreveu que o governo “jamais irá intervir em preços e acredita no livre mercado”. “O que existia era uma total falta de afinidade entre o PR (presidente) e o Castello e a troca foi fato isolado”, defendeu.

    O mercado não entendeu desta forma. Neste início de tarde, o dólar à vista segue próximo de R$ 5,50. O dólar turismo – ofertado pelas casas de câmbio para quem vai fazer viagens internacionais – era negociado a partir de R$ 5,72 em Brasília e de R$ 5,68 em São Paulo.

    Lá fora

    Os índices S&P 500 e Nasdaq encerraram em baixa nesta segunda-feira, com elevação dos yields dos Treasuries e perspectivas de aumento da inflação gerando preocupações em torno dos preços das ações, o que golpeou papéis de empresas de alto crescimento.

    O índice Dow Jones terminou em ligeira alta, com valorização de 4% nas ações da Walt Disney Co.

    Os yields dos Treasuries de dez anos subiam a 1,3670% no fim da tarde desta segunda-feira, alta de 2,2 pontos-base. Desde o início de fevereiro, os yields de dez anos subiram cerca de 26 pontos-base, a caminho do seu maior ganho mensal em três anos.

    Ainda assim, alguns analistas observaram que uma retração dos mercados acionários era esperada após forte alta neste ano e em 2020.

    O chair do Federal Reserve, Jerome Powell, deve falar perante o Comitê Bancário do Senado na terça-feira, e os investidores devem procurar por quaisquer mudanças potenciais nas perspectivas de condução “dovish” da política monetária do banco central.

    As ações de Apple Inc, Microsoft Corp, Alphabet Inc, Tesla Inc e Amazon.com Inc retomaram o recuo da semana anterior, caindo entre 0,9% e 5%.

    Balanços amplamente positivos do quarto trimestre impulsionaram os principais índices de Wall Street a recordes no início da semana passada, mas a recuperação perdeu força, em parte devido a temores de um obstáculo potencial nos esforços de vacinação dos Estados Unidos e a preocupações com a inflação que possa ser gerada pelas medidas de estímulo.

    O índice Dow Jones subiu 0,09%, a 31.522 pontos, enquanto o S&P 500 perdeu 0,773285%, a 3.877 pontos. O índice de tecnologia Nasdaq recuou 2,46%, a 13.533 pontos.

    (Com Reuters)