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    Campos Neto: limite para Selic não é intransponível, mas é preciso cautela

    "Nós entendemos que a economia precisa de muito estímulo. Nós também entendemos que existe uma limitação em mercados emergentes", disse

    Marcela Ayres, da Reuters

    O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou nesta segunda-feira que o limite mínimo para a Selic não é intransponível, destacando que juros em patamares cada vez menores estão sendo experimentados, mas que é preciso cautela para ir além.

    “Nós entendemos que a economia precisa de muito estímulo. Nós também entendemos que existe uma limitação em mercados emergentes, como o Brasil, do quão baixo você consegue ir”, afirmou ele, em live promovida pelo Estadão.

    A queda dos juros foi realizada pelo BC para se propagar no canal de crédito, estimulando a atividade, com paralelo aumento da inflação em direção às metas, disse Campos Neto. Ele ponderou, contudo, que quando esse limite mínimo para a Selic é ultrapassado, ele pode criar o efeito contrário.

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    “Quando nós olhamos esse mínimo de juros, nós não dizemos que é um mínimo que é intransponível. Nós dizemos o seguinte: nós estamos experimentando um nível muito baixo e precisa ter muita cautela”, acrescentou.

    Segundo o presidente do BC, esse limite estaria ligado a um conjunto de fatores. Do lado internacional, a análise é que os juros no mundo como um todo estão muito baixos.

    Internamente, o BC segue acreditando que a persistência no caminho das reformas faz com que os juros estruturais da economia brasileira – consistentes, no médio prazo, com inflação na meta e crescimento do produto igual ao crescimento potencial – sejam mais baixos.

    Campos Neto ponderou ainda que não é possível caminhar com juros muito baixos em meio a um quadro fiscal desarrumado, e reiterou ponto comunicado recentemente pelo BC, de que há preocupação com riscos prudenciais com a Selic tão baixa.

    No início deste mês, o BC cortou a Selic em 0,25 ponto, a 2% ao ano, e manteve a porta aberta para novos ajustes na taxa básica à frente, embora tenha pontuado que, se vierem, eles serão ainda mais graduais e dependerão da situação das contas públicas.

    Ao falar dos riscos prudenciais, Campos Neto disse nesta segunda-feira que o sistema financeiro nacional vinha trabalhando há tempos com taxas indexadas a um percentual do CDI, que é ligado à Selic. Num cenário de Selic tão menor, começa a haver mudança de estrutura de financiamento.

    Nesse sentido, ele chamou a atenção para a migração “muito grande” de fundos de renda fixa para poupança, considerando que, com os juros básicos no atual patamar, qualquer fundo de renda fixa que cobre uma taxa de administração maior que 0,5% renderá menos que a tradicional caderneta.

    De acordo com Campos Neto, outro tema que apareceu recentemente é que o numerário passou a não voltar para o BC, com os bancos preferindo ficar com a moeda rendendo zero, já que a taxa de custódia cobrada pelo BC para manter o dinheiro em papel, em relação ao custo de oportunidade, também passou a ser considerada alta pelas instituições financeiras.

    “Quando você vai em níveis de juros cada vez mais baixos, você começa a ter relações fundamentais na parte de estrutura de financiamento do sistema financeiro nacional que começam a mudar. Isso não quer dizer que é impossível. Só quer dizer que você tem que ir com cautela”, frisou.

    Quanto ao lado fiscal, ele insistiu em vários momentos que perseguir uma trajetória de sustentabilidade é “essencial” e que esse é um dos fatores principais sendo analisado para o BC tanto no curto, quanto no médio prazo.

    “Sempre digo que nesse momento o Banco Central não é o piloto, é o passageiro. Piloto é o fiscal. Não existem juros baixos e inflação baixa sem equilíbrio fiscal”, disse Campos Neto, defendendo ainda o teto de gastos e sua eficácia na criação de disciplina em torno da priorização de despesas.

    Se o teto for afrouxado, o país voltará para situação de inflação alta e juros altos, prosseguiu o presidente do BC.

    “Na parte de economia com juros, nós meio que descemos de escada e vamos subir de elevador”, pontuou ele, em referência à possibilidade de gastos muito maiores com o pagamento da dívida em caso de elevação da Selic, já que a base da dívida será maior por conta dos gastos com a crise, após o governo ter conseguido diminuir essa conta recentemente com o afrouxamento monetário.

    Atividade

    Sobre o ritmo de retomada da economia brasileira, o presidente do BC disse acreditar num “impulso grande” até dezembro, sob o impacto do auxílio emergencial, citando também elementos como o crescimento do crédito e outras medidas de enfrentamento à crise tomadas pelo governo.

    Ele alertou, contudo, que o país precisará de credibilidade para manter o ritmo favorável daí em diante.

    “O que a gente precisa agora ao longo desse caminho é ganhar credibilidade para que a economia pegue no tranco e a gente gere esse movimento positivo a partir de dezembro”, disse.

    Campos Neto se disse “otimista” com a perspectiva para a atividade, ressaltando que o mercado tem revisado para melhor suas projeções para o desempenho do país neste ano.

    “A gente entende que grande parte dessa revisão não está sendo acompanhada de uma subtração do ano que vem, significa que a perspectiva de médio prazo está melhor”, afirmou.

    “Nós vemos o início de uma recuperação em V, acho que não dá para dizer que é uma recuperação em V total, provavelmente esse V vai suavizar”, complementou ele.

    Em sua fala, o presidente do BC também sublinhou que no mundo todo o debate sobre sustentabilidade está vivo e que é preciso preconizar essa variável na retomada, até para atração de investimentos privados. O BC fará em breve o anúncio de uma agenda ampla em relação a isso, afirmou.

    CPMF e nota de R$200

    Na live, Campos Neto também reconheceu que o lançamento da nota de 200 reais “de fato vai contra algumas coisas que o Banco Central está pregando”, mas que a medida foi necessária num momento em que o governo precisou emitir mais dinheiro e de forma mais rápida, em meio a um entesouramento de cédulas pela população que teve como pano de fundo a crise com o Covid-19 e a distribuição de recursos por meio do auxílio emergencial.

    “Nunca foi a nossa ideia desfazer o movimento de digitalização. Ao contrário”, disse.

    Questionado sobre um eventual imposto nos moldes da CPMF, ideia que está sendo aventada pela equipe econômica para bancar a desoneração da folha de pagamento das empresas, Campos Neto afirmou que não lhe cabia comentar iniciativas tributárias, mas admitiu levar ao ministro da Economia, Paulo Guedes, preocupação sobre impactos no sistema financeiro.

    “(É) ter muito cuidado porque nós temos hoje uma intermediação financeira que é muito mais alta e um juro que é muito mais baixo. Então desenho da CPMF deveria levar isso em consideração”, afirmou.

    “Me parece que motivo de desonerar folha é motivo muito nobre, a única preocupação que eu levo ao ministro é que essa parte financeira seja preservada porque a gente tem movimento de algum tempo de crescimento de mercado de capitais, de internacionalização das empresas, de digitalização. Então a gente precisa ter cuidado para não reverter esse processo, que é processo tão saudável.”

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