PIB: Brasil termina 2020 com segunda década perdida — e a pior desde 1900
Ritmo de crescimento foi o pior em 120 anos e PIB per capita retrocedeu aos níveis de 2009
Atingido por duas das piores recessões de sua história em apenas cinco anos, o Brasil fecha o ciclo dos anos de 2010 tendo vivido a pior década de que se tem registro em mais de um século na economia do país.
Efeito direto da pandemia que paralisou a economia global em proporções jamais vistas, o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil teve em 2020 uma queda histórica de 4,1%. O resultado foi divulgado nesta quarta-feira (3) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
É um dos piores resultados já registrados desde 1900, data a que remontam as estimativas mais antigas disponíveis para o país. Nos 120 anos de lá para cá, o Brasil passou por 17 anos de crescimento negativo. Só em 1981 e em 1990, ambos com retração de 4,3%, houve resultados parecidos com o que aconteceu no ano passado no Brasil.
Os tombos de alguns anos e o crescimento baixo de outros deixam o período de 2011 a 2020 para trás até da “década perdida” de 1980, quando o país tinha vivido seus menores níveis de crescimento e os maiores retrocessos de renda até aqui.
Cálculos feitos pela Fundação Getulio Vargas apontam que o crescimento médio do Brasil na década que se encerra foi de apenas 0,3% ao ano, o menor desde o começo do século passado. Na década de 1980, agora a segunda pior da história, essa média tinha sido de 1,6% ao ano.
PIB per capita de volta a 2009
Como a população seguiu ainda crescendo a um ritmo anual de 0,7% — ou seja, mais do que o PIB —, o efeito no PIB per capita foi ainda pior. O PIB per capita é a conta que divide o total da riqueza do país pelo total da população, e serve como referência do nível de renda da economia. Em 2020, ele despencou 4,8%, para R$ 35.172.
Como o PIB per capita já tinha caído mais de 8% na recessão de 2015 e 2016, e seguia ainda longe de se recuperar, o resultado é que o Brasil, agora, voltou 11 anos para trás nessa métrica: o PIB per capita de 2020 é o menor registrado desde 2009. O valor mais alto a que chegou — R$ 39.580 mil por pessoa, em 2013 — ficou ainda mais longe de ser novamente alcançado.
Na média, o PIB per capita caiu 0,6% ao ano ao longo da última década, de acordo com a FGV. Nos anos de 1980, a queda média foi de 0,4%. Juntas, as duas décadas são as únicas desde 1900 em que o país andou para trás, ou seja, saiu ao fim delas mais empobrecido do que entrou.
Pior década com ou sem pandemia
O estrago econômico deixado pela pandemia responde por uma parte grande dessa história, mas não é o único responsável por ela. Mesmo se 2020 não tivesse tido uma crise sanitária, a última década acabaria entre as piores da história brasileira.
Se, por exemplo, o PIB do ano passado tivesse repetido a mesmo ritmo dos três anteriores — avanço de 1,5% —, o crescimento médio da década teria sido de apenas 0,6% ao ano, ainda o pior desde 1900. A média de crescimento do PIB per capita ficaria em zero, quase empatando com a década de 1980 da mesma maneira.
Não dá para botar a culpa na pandemia, ela só intensificou uma situação que já era ruim
Silvia Matos, pesquisadora sênior de economia aplicada do FGV/Ibre
“A nossa primeira década perdida foi realmente os anos 80. Mas, ao mesmo tempo em que ela teve anos muito negativos, o crescimento era rápido depois”, disse a pesquisadora da FGV.
“É o que em geral acontece quando há uma recessão, mas não foi o que aconteceu desta vez. Tivemos uma recessão intensa entre 2015 e 2016, mas depois vieram três anos de crescimento muito baixo. Não tínhamos nem recuperado o nível anterior ainda quando veio a pandemia.”