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    Agenda liberal era eleitoral e desafio governo a privatizar, diz Salim Mattar

    Em entrevista ao CNN Business, ex-secretário do ministério da Economia, Salim Mattar, diz que troca na Petrobras foi coisa de governo "autoritário e truculento"

    André Jankavski, do CNN Brasil Business, em São Paulo

     

    A mudança abrupta na presidência da Petrobras fez com que o homem escolhido por Jair Bolsonaro para privatizar estatais não enxergue mais o atual governo como liberal.

    Em entrevista ao CNN Brasil Business, Salim Mattar demonstra frustração com os rumos do governo, critica a escolha de um militar para o comando da Petrobras e desafia os ex-chefes – o presidente da República e o ministro da Economia, Paulo Guedes – a privatizarem.

    O governo não é liberal e eu acreditei no candidato Bolsonaro. No candidato que falava em privatizar a 'TV da Dilma', a empresa do trem bala. Mas foi um discurso de campanha

    Salim Mattar

     

    Mattar, que foi secretário de Desestatização do Ministério da Economia até o meio do ano passado, classifica como desrespeitosa a forma como a possível substituição do CEO Roberto Castello Branco está ocorrendo. E define o episódio como um ato de um “governo autoritário e truculento”. Ele ainda desafia o presidente e o ministro da Economia, Paulo Guedes, a privatizarem as estatais do país.

    “Eu desafio o governo a privatizar. É um desafio ao presidente, ao ministro Guedes e ao establishment”, diz ele.

    Ele ainda classifica o possível novo presidente da estatal, o general Joaquim Silva e Luna, como um “indivíduo muito bem preparado”, mas que a estatal precisa de um homem de mercado.

    “Me desculpe, mas estamos militarizando demais o país. O militar é para quartel. Temos que colocar um homem de mercado na Petrobras. Um homem que saiba o que é um departamento de relações com os investidores. Esse é o tipo de pessoa que precisamos em uma empresa listada. O governo brasileiro está mostrando que não é confiável.

    Salim Mattar
    O ex-secretário de Desestatização, do Ministério da Economia, Salim Mattar: governo foi autoritário com decisão na Petrobras
    Foto: Antonio Cruz/Agência Brasil(19.fev.2020)

     

    Confira a entrevista completa a seguir.

    Qual foi a sua análise da intenção do governo em trocar o presidente da Petrobras?

    Antes disso, temos que saber o porquê isso está acontecendo. Porque o Brasil tem uma estatal de petróleo. Nós nem estaríamos conversando aqui se não houvesse uma estatal e precisamos deixar isso claro para a sociedade brasileira. Só existe greve de caminhoneiros em países que possuem estatais de petróleo, como o México, a França, a Itália e o Brasil. Isso não acontece nos Estados Unidos e no Canadá. O problema da Petrobras é que ela está em uma área onde não deveria estar.

    O Estado precisa cuidar da educação, da saúde e da segurança dos cidadãos. O nosso Estado extrapolou. Quando eu era secretário, havia 698 empresas estatais, contando subsidiárias e investidas. Temos Estado de mais. Isso não deveria existir. Não deveríamos ter uma empresa para perfurar petróleo.

    Na sua opinião, essa decisão mostra que o governo Bolsonaro não é liberal?

    Verdade. Eu confesso que você tem razão. O governo não é liberal e eu acreditei no candidato Bolsonaro. No candidato que falava em privatizar a “TV da Dilma”, que é a EBC, a empresa do trem bala, que é a EPL. Ele falava em tirar o estado do cangote do cidadão. Mas foi um discurso de campanha. Eu deixei todos os meus negócios para ir para o governo. Fui motivado pelo desafio espetacular, que era um projeto de Brasil e não do governo.

    Fui com o objetivo de vender tudo e privatizar tudo. Eu me frustrei e resolvi sair porque eu vi que nada seria privatizado. Você está acompanhando e nada está acontecendo. O establishment não quer a privatização das empresas.

    Quem seria o establishment?

    O Executivo, com o presidente Jair Bolsonaro, e o Legislativo, com a Câmara dos Deputados e o Senado, não querem privatizar. A bancada do Norte e do Nordeste, por exemplo, não quer a privatização da Eletrobras. E se o Judiciário puder colocar uma pedrinha para atrapalhar, ele coloca. É uma triste realidade.

    Qual a sua opinião sobre a forma como foi conduzido esse tema?

    É importante registrar que, no mínimo, faltou respeito, elegância e consideração com o Castello Branco. Não é assim que ocorre com a iniciativa privada. Isso é coisa governo autoritário e truculento.

    Imagina o presidente da Petrobras saber por uma live que foi demitido. Isso é um absurdo. Por isso, temos que privatizar tudo. Temos que reduzir o tamanho do Estado e tirar o poder dos governantes. Como fazer isso? Vendendo todas as estatais.

    O senhor acredita que ainda é possível ocorrer privatizações no governo Bolsonaro? O governo falou de correr com a venda da Eletrobras e os Correios.

    Eu sou mineiro. É um cidadão desconfiado que só vê montanha e não enxerga horizontes. Eu, particularmente, com toda essa questão da Eletrobras e da Petrobras, além de 2022 ser um ano de eleições, não acredito em mais privatizações no governo Bolsonaro. Eu desafio o governo a privatizar. É um desafio ao presidente, ao ministro Guedes e ao establishment.

    Esse caso mostra que o establishment é resistente às mudanças. Ele não deseja a redução do Estado, pois se reduzir também diminui o poder. O Estado foi moldado pela social-democracia nos últimos 35 anos e eles gostam do estado gigantesco e de pobreza. Gostam de pessoas que não tenham estudo, que sejam analfabetos ou semi-analfabetos e que possam ser ludibriados pelo discurso deles. Temos uma Constituição que é um desastre. A nossa Constituição foi feita em 1988, antes da queda do muro de Berlim. Ela é revanchista com os militares e populista porque prometeu tudo e não conseguiu cumprir.

    Qual a sua opinião sobre o general Luna?

    O general Luna é um indivíduo muito bem preparado, tem um excelente currículo, mas, me desculpe, estamos militarizando demais o país. O militar é para quartel. Temos que colocar um homem de mercado na Petrobras. Um homem que saiba o que é um departamento de relações com os investidores. Esse é o tipo de pessoa que precisamos em uma empresa listada. O governo brasileiro está mostrando que não é confiável.

    Como o senhor enxerga a posição do conselho de administração da Petrobras? Acredita que vão aceitar a indicação?

    Lembre-se que o conselheiro tem diligência e pode ser processado pelos minoritários e pela CVM. Por qual justificativa que o conselho vai demitir um excepcional presidente? Eles estão correndo um risco enorme em ter os seus bens alienados. É isso o que eu queria chamar a atenção. Vamos testar se esse conselho é independente ou não. Isso cabe uma ação de bilhões de reais. Se isso acontecer, pode arrastar ainda mais. Não sou constitucionalista, mas pode sobrar lá para cima. Eu acho que ter essa demissão do presidente Castello Branco é um risco enorme.

    Com todas essas notícias, como o senhor enxerga o futuro do país e da economia? 

    É uma pena que o país, hoje, num período de pandemia, esteja tratando de assuntos como a demissão de um presidente da Petrobras. Precisaríamos estar trabalhando sobre como cuidar dos brasileiros invisíveis com o auxílio emergencial. Estamos discutindo STF, deputado que falou demais e demissão de CEO. Não temos foco. Deus está em débito no Brasil e precisamos de um governo absolutamente liberal e para reconstruirmos o Brasil.