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    Trump planeja sua vingança nos ensolarados campos de golfe da Flórida

    Ex-presidente americano prepara seu ressurgimento nas eleições intermediárias de 2022, quando pretende se marcar como o mais poderoso entre os republicanos

    Donald Trump, presidente dos Estados Unidos
    Donald Trump, presidente dos Estados Unidos Foto: REUTERS

    Kate Bennett, da CNN

    Em uma sala de guerra no sul da Flórida, ocupada quase todos os dias por um grupo de uma pessoa, um ex-presidente dos Estados Unidos está planejando seu retorno – e sua vingança.

    Ele normalmente passa as manhãs em seu campo de golfe, fazendo e recebendo ligações de um carrinho que funciona como seu escritório móvel.

    As várias idas aos campos de golfe nas últimas semanas serviram para cumprir uma promessa feita há muito tempo, diz alguém que passou algum tempo com ele recentemente: Donald Trump afirma que aumentou sua precisão em 20 jardas, um novo feito que ele exibe aos parceiros de golfe, ou a quem quiser ouvir.

    Dezoito buracos depois, ele deixa o Trump International Golf Club e retorna a Mar-a-Lago, um resort na praia de Palm Beach, onde se retira para sua própria sala de estar privada, separada da de sua esposa, e pondera duas questões principais: Quem está com ele? E quem está contra ele?

    De acordo com várias pessoas familiarizadas com os hábitos atuais de Trump, que pediram anonimato para falar livremente à CNN sobre o dia-a-dia do ex-presidente, seu objetivo declarado – tirando o impacto da investigação criminal em curso – é concorrer à presidência novamente, em 2024.

    Ele não tem nenhum motivo para descartar isso agora – manter-se no páreo o ajuda a sustentar seu papel de influenciador.

    Em 2022, ele espera provar aos críticos e apoiadores que ele é o mais habilidoso político do Partido Republicano – um papel que ele provavelmente lembrará ao partido durante sua aparição na Conservative Political Action Conference, um grande congresso conservador, que começa nesta quinta-feira (25) e se estende até domingo (28).

    Seu objetivo de curto prazo inclui ajudar seu filho Donald Trump Jr., o fervoroso porta-voz da campanha MAGA (Make America Grate Again), a percorrer todo o país em nome dos partidários e seguidores de Trump para as eleições intermediárias, em 2022, que serão realizadas em novembro de 2022 e que coloca todos os 435 assentos na Câmara e 34 das 100 cadeiras do Senado em disputa.

    “Assim que 2022 começar em alta velocidade, espere que Don (Trump Jr.) seja uma presença extremamente ativa na campanha”, disse à CNN uma pessoa que trabalha com Trump Jr., confirmando não apenas o gosto do jovem Trump pela batalha política, mas também a postura do ex-presidente nesta nova fase.

    A influência de Donald Trump nas eleições está ficando mais clara a cada dia. Na terça-feira, o ex-senador David Perdue anunciou que não lançará sua campanha, embora recentemente tenha entrado com documentos para fazê-lo. A decisão foi tomada depois da recente visita de Perdue a Palm Beach, onde jogou golfe com Trump, disse uma pessoa familiarizada com a rotina do ex-senador republicano do estado da Geórgia.

    Na noite de terça-feira, de acordo com o The Washington Post, Trump reuniu-se com Ronna McDaniel, presidente do Comitê Nacional Republicano. A intenção da líder do partido era sentir o que o ex-presidente pensa sobre o futuro do partido, e se ele se sente inclinado a ajudar ou se opor a alguém em particular. O relato é de quem está por dentro das movimentações dos políticos republicanos.

    “Já vimos isso há anos – Trump parece incentivar outras pessoas em seus projetos com propostas que parecem mais as ameaças de um mafioso: ‘aqui você terá a oportunidade de fazer um bom negócio'”, disse Doug Heye, um antigo estrategista e consultor que trabalhou na comunicação do Partido Republicano no Capitólio. “O problema para esses candidatos avançarem é que, apesar de sempre batalharem para marcar pontos, Donald Trump não dá pontos, ele apenas tira. Um de cada vez.”

    Movimentações na família Trump

    Em Mar-a-Lago, a família está cerrando fileiras em torno do ex-presidente e de seus planos, mas a líder da política de Trump da próxima geração não é Ivanka Trump, há muito tempo considerada herdeira do domínio de seu pai, seja no ramo imobiliário ou da política.

    Ela foi objeto de comentários frequentes de Trump: Em 2019, ele cogitou Ivanka Trump como embaixadora dos EUA nas Nações Unidas e chefe do Banco Mundial. Em uma entrevista ao The Atlantic ele disse ainda que ela seria “muito difícil de ser vencida” em uma disputa presidencial.

    Mas, aparentemente, Ivanka Trump não só tem interesse zero em política no momento, como disseram à CNN três pessoas próximas a ela, como também foi superada em popularidade pelo seu irmão dentro da base eleitoral de Trump.

    Em 2019, estava claro que Trump Jr. era o fanfarrão republicano sem o qual a base não poderia viver. Trump Jr. não estava em alta apenas por causa das aparições em eventos, mas também por sempre aparecer vomitando teorias da conspiração nas redes sociais, atacando os correligionários que ele classificava como democratas e chamava pelo apelido jocoso de RINOs (Republicans in Name Only – republicanos apenas no nome) e qualquer um que não concordasse com as teorias e políticas de Trump, verdadeiras ou não.

    Ivanka Trump está agora morando em um condomínio de luxo à beira-mar em Miami, só enquanto a não fica pronta sua nova mansão, que está sendo construída em um terreno próximo, que vale US$ 30 milhões e foi comprado no ano passado. Ela não quer fazer “nada relacionado à política”, disse uma amiga de Ivanka sobre o atual estado de espírito da herdeira de Trump.

    Em vez disso, ela está “acomodando sua família, e esse é seu único foco”, disse a amiga.

    Ivanka tem estado em Mar-a-Lago para visitar seu pai desde que se mudou para a Flórida, diz outra pessoa familiarizada com suas idas e vindas, mas seu interesse em discutir a próxima passagem de seu pai pela Casa Branca é nulo.

    Os cinco anos que Trump passou na campanha e na Casa Branca “foram muito”, disse sua amiga à CNN, e falar sobre um futuro político é proibido. Fotógrafos capturaram momentos de Ivanka nas últimas semanas, principalmente descansando na praia, ao lado da sua nova casa. Um dia ela foi flagrada lendo The book of joy, do Dalai Lama.

    A ausência de interesse da filha de Trump abre caminho para que seu irmão brilhe ainda mais na órbita do pai, mesmo que ele não seja o filho favorito. Em uma entrevista, em 2019, Trump foi bastante comedido ao comentar o empenho do filho mais velho. “Don está gostando de política; na verdade, isso é muito bom.”

    Trump Jr. e sua namorada, Kimberly Guilfoyle, serviram como substitutos altamente eficazes de seu pai na região por quase três anos. E a relação entre o casal não mostra sinais de desgaste. Na próxima semana, a dupla realizará um encontro de arrecadação de fundos de alto valor em Mar-a-Lago para a governadora republicana da Dakota do Sul, Kristi Noem, disse à CNN uma pessoa que sabe sobre o evento.

    Noem está concorrendo à reeleição em 2022 e o evento, que custa mil dólares por pessoa será tecnicamente a primeira incursão oficial de Trump Jr. e Guilfoyle no cenário eleitoral. A parte VIP da festa, segundo uma pessoa conhecida, inclui a participação do convidado em uma mesa com Noem, Trump Jr. e Guilfoyle, além de uma foto.

    O preço desse privilégio é de US$ 4 mil por pessoa. Nenhuma palavra sobre se o ex-presidente fará uma aparição, já que Noem é uma amiga de Trump. Uma vez ela o presenteou com uma réplica de US$ 1.100 do Mount Rushmore com o rosto de Trump incluído entre os dos outros presidentes, de acordo com uma reportagem do New York Times.

    Sede do Sunshine State

    Assim como sua irmã, Ivanka Trump, e sua meia-irmã, Tiffany Trump, que também se mudou recentemente para Miami, Trump Jr. pretende fazer do Sunshine State, como é conhecido o estado da Flórida, sua residência permanente.

    Duas pessoas com conhecimento da situação disseram que ele pretende se mudar para mais perto de sua ex-mulher, Vanessa Trump, e dos cinco filhos do casal.

    Vanessa Trump passa boa parte do ano em Júpiter, cidade localizada no condado de Palm Beach, onde seu ex-marido está fechando a compra de uma mansão de US$ 11 milhões à beira-mar no empreendimento de alto luxo chamado Admiral’s Cove.

    Uma fonte que conhece os investimentos de Trump Jr. não quis confirmar a compra da casa, que, de acordo com registros imobiliários, está sob contrato de venda pendente. Um representante da imobiliária responsável pela venda não comentou à CNN sobre a possibilidade de Trump Jr. ser o comprador.

    Mas o compromisso com a Flórida, um estado entusiasticamente favorável a Trump, onde o ex-presidente ganhou durante as eleições presidenciais de novembro passado, indica que os Trump não têm Nova York como o seu principal reduto.

    Além disso, é muito mais agradável para Trump receber seus visitantes em Mar-a-Lago, que tem uma comunidade bastante integrada, incluindo muitos bajuladores.

    Uma pessoa que está por dentro das atividades de Trump em Mar-a-Lago diz que ele está cada vez mais atuando como CEO de seus clubes e vive envolvido em operações, reformas e afiliações.

    Por um tempo, seus vizinhos de Palm Beach expressaram irritação pelo fato de Trump estar morando a poucos quarteirões de suas mansões multimilionárias, o que pode significar uma perturbação que eles não queriam mais sofrer após os últimos quatro anos de problemas com segurança e privacidade.

    “Eu não acho que a maioria dos Palm Beachers esteja pensando muito em Trump. Ele nunca sai de seus dois clubes”, disse Laurence Leamer, um residente de Palm Beach em meio período e autor de dois livros sobre a região: Madness Under the Royal Palms e Mar-a-Lago: Inside the Gates of Power at Donald Trump’s Presidential Palace.

    A presença de Trump na região tem sido frequente, o que torna mais fácil a tarefa de quem quer encontrá-lo, buscar sua bênção ou pedir perdão por ter virado as costas, uma prática que Doug Heye, o antigo estrategista do Partido Republicano, acredita que acontecerá com frequência nos próximos meses.

    “Para muitos, a lealdade nunca terminou. Mas a aposta de Trump quando sua campanha se tornou séria era que o partido se curvaria a ele, e ele não se curvaria ao partido. Naquela ocasião, ele estava certo”, disse ele.