O que Abraham Weintraub vai fazer no Banco Mundial?
Salário de US$ 230 mil e uma posição em que a diplomacia é requisito fundamental. Porém, a fama de Weintraub já chegou à cidade de Washington
Um excelente salário, uma cadeira exclusiva e distância dos conflitos políticos no Brasil. Este será o prêmio de consolação de Abraham Weintraub se ele for mesmo indicado para uma representação brasileira no Banco Mundial. Demitido do Ministério da Educação, o economista sai do governo Bolsonaro deixando um rastro de ataques aos opositores do presidente, sendo o mais grave deles aos ministros do STF.
Weintraub fará parte do Conselho da Diretoria Executiva do Banco Mundial, formado por 25 cadeiras que representam os 190 acionistas da instituição. Destas, os mais ricos e maiores acionistas do banco mandam sozinhos como os Estados Unidos, França, China, Rússia, França, Alemanha e Japão. No assento reservado ao Brasil, nós temos a maior fatia do grupo que dividimos com Colômbia, Equador, República Dominicana, Panamá, Haiti, Suriname, Trinidad e Tobago e Filipinas.
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Ninguém tem poder de recusar o nome apontado pelo governo brasileiro, nem os companheiros de grupo, nem os mais ricos. “O Brasil tem parcela do capital suficiente para pilotar uma cadeira caso os demais países não votem no candidato por ele indicado. Se isso acontecer, o poder da cadeira encolhe, mas é só”, disse em entrevista à coluna Otaviano Canuto, que ocupou esta mesma posição e chegou à vice presidência da entidade.
Para ocupar a EDS15, nome do posto, é recomendável ter características da diplomacia, boa articulação, poder de convencimento e muita gentileza na relação com seus pares e equipe. Cada uma das 25 cadeiras representa interesses variados e quem grita mais alto tende a perder – o voto e espaço nos debates.
“Para isso precisa ter respeito, consideração pelo tema, ter o reconhecimento de que pode falar por todos, na hora certa. Não é uma coisa individualizada. É preciso capacidade de influência para defender os interesses do Brasil e isto depende da habilidade diplomática e de articulação. O conteúdo técnico do trabalho é elevado, como entender as características das operações e as políticas do banco. Não há hierarquia nenhuma, a não ser a do convencimento, da persuasão e das alianças necessárias”, descreve Canuto.
O mandato na EDS15 é de 2 anos e exige a presença dos diretores em reuniões duas vezes por semana, sem contar os diversos comitês que os representantes dos países se dividem para analisar operações da entidade. É o Conselho da Diretoria Executiva que aprova, ou não, os projetos em que o Banco Mundial se envolve.
O ex-ministro ocupará um cargo por onde já passaram Pedro Malan, Murilo Portugal, Marcos Caramuru e Otaviano Canuto, todos com reputação de bons negociadores, diplomáticos, articuladores e com legado de amizades e boa defesa dos interesses brasileiros no Banco Mundial. A fama de Abraham Weintraub já desembarcou em Washington, sede da instituição.
“Se ele cometer algum abuso de linguagem como ele fez no governo, ao xingar os ministros do STF, ele vai para comitê de ética do Banco que é muito forte. Ele corre o risco de ficar no ostracismo, sem voz para defender interesses do Brasil. A atividade e interação entre os membros do Conselho é permanente. A marca da instituição desde o seu nascedouro é que todos façam esforço para o comprometimento e o consenso pelas políticas do banco”, alerta o ex-vice-presidente da entidade.
A diplomacia não é o forte do ex-ministro da Educação e ele poderá encontrar mais um obstáculo ao sucesso de sua passagem por Washington. A agenda atual do Banco Mundial está ligada aos chamados ODS da Organização das Nações Unidas, Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, com metas para tratar temas como a pobreza, a educação, a igualdade de gênero e aquecimento global, entre outros.
“Todo mundo lá acredita em mudança climática, em igualdade de oportunidade entre gêneros, na redução da desigualdade de renda, nos métodos de educação moderna. O Banco tem tradição em todas as áreas que não estão com bolsonarismo que conhecemos. O Banco Mundial é globalista por essência, por vocação, por desenho e por propósito”, disse Canuto.
Com salário de US$ 230 mil por ano, cerca de R$ 1,3 milhão, o posto em Washington promete dar ao ex-ministro da Educação uma situação bem mais confortável do que os R$ 360 mil que ele recebeu no primeiro ano do governo Bolsonaro. Dos 4 assessores diretos que trabalham com o escolhido para a EDS15, apenas 1 pode ser escolhido pelo ocupante da cadeira, a de sênior advisor. Se ele quiser levar o Olavo de Carvalho, guru dos bolsonaristas, ele pode. As outras posições são os países que escolhem.
Mesmo estando perto da Casa Branca, onde fica um aliado conhecido do presidente brasileiro, Weintraub não poderá contar com ele para ganhar espaço no Banco Mundial. Além da fama que criou sozinho durante seu mandato na Esplanada bolsonarista, Weintraub acabou ganhando mais um quesito em seu currículo pela boca do presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia. Perguntado sobre o que achava da indicação para o cargo no exterior, ele respondeu: “Ele trabalhou no Banco Votorantin que quebrou em 2009 quando ele era economista chefe lá”, ironizou Maia.
“Tem muita gente me ligando para saber dele. Agora, é importante lembrar que a marca do Banco Mundial é de uma relação muito diplomática. Não se faz grosserias lá, não”, conta à CNN Otaviano Canuto.
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