IPOs: saldo das ações novatas na B3 em 2020 é negativo até aqui
Das 15 empresas que começaram a negociar seus papéis na bolsa este ano, apenas 6 possuem retrospecto positivo
O ano de 2020 prometia a entrada de várias novas empresas na B3 (B3SA3): economia crescendo, Ibovespa no seu maior patamar, mercado confiando no ministro Paulo Guedes como fiador das reformas estruturais. Veio a pandemia e estes planos ficaram paralisados durante alguns meses, mas a coisa voltou a esquentar em agosto.
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Apesar disso, o resultado desta leva de aberturas de capital não tem sido dos melhores até aqui. É verdade que o mercado como um todo está patinando, mas, das 15 empresas que começaram a negociar seus papéis na bolsa este ano, apenas 6 possuem retrospecto positivo do pregão de estreia até a sessão da última sexta-feira (25). Veja a lista:
Dois setores comandaram os pedidos de IPO deste ano: construção civil e varejo. Muito por conta deste grande volume, além da presença de companhias fortes na B3, Rodrigo Weinberg, analista da Suno Research, citou os dois segmentos entre os mais complicados para abertura de capital na bolsa brasileira.
Entre as incorporadoras, a Moura Dubeux (MDNE3), por exemplo, acumula a maior desvalorização entre as novatas, despencando quase 50% até aqui. A Mitre (MTRE3) tem queda de 27,9%. Já a Lavvi (LAVV3), tombou 16% desde que começou a negociar os seus papéis. Mas, para não dizer que está tudo dando errado, a Cury (CURY3), que concluiu seu IPO no última dia 21 de setembro, vai subindo 10% até aqui.
André Freitas, CEO e CIO da Hedge Investments e especialista em FIIs, vê movimento apressado. “Várias das companhias do setor que estão entrando na B3 não estão maduras. São aberturas de capital com valores pequenos, muitos abaixo de R$ 1 bi, que vão expor os investidores à baixos níveis de liquidez”, diz.
“Este boom de aberturas de capital está sendo um pouco apressado. As empresas deveriam esperar um pouco mais e se consolidar, ganhar consistência. Se você não cria massa crítica antes de um processo como esse, todo mundo sai no prejuízo.”
No varejo, em um ambiente dominado por Magalu (MGLU3), Via Varejo (VVAR3) e B2W (BTOW3), estreantes como a Havan podem encontrar problemas de demanda. A companhia de Luciano Hang foi questionada por projetar operação de R$ 10 bilhões, o que colocaria a empresa em um valor de mercado de R$ 100 bilhões.
Das empresas que já estrearam, no entanto, alguns setores segmentados estão se dando bem até aqui. A Petz (PETZ3), de produtos para animais, está avançando 9%; já a Lojas Quero-Quero (LJQQ3), de materiais de construção, subiu 17,15%; e a rede de farmácias Pague Menos subiu 11,5% – no mesmo segmento, a d1000 (DMVF3) recua 24,23%. A grande expectativa do mercado agora é pela chegada do Grupo Mateus.
Locaweb
Grande destaque positivo entre as novatas (e da B3 como um todo), a Locaweb (LWSA3) mostra um desempenho fora da curva e sobe 231,3% desde fevereiro, quando abriu capital. Além de agradar os investidores, se beneficiou da alta dos papéis de tecnologia e falta de opções do mercado brasileiro nesta área.
Aproveitando o embalo, a empresa adquiriu em setembro a Social Miner, companhia que oferece tecnologia e soluções para e-commerces e varejistas que permite interações em tempo real com os visitantes. Entre as clientes da Social Miner, estão Natura (NTCO3), Wine, Kabum e a Raia Drogasil (RADL3). O valor da operação não foi divulgado.
“Estamos falando de uma solução que complementará o nosso portfólio, com potencial de gerar cross sell [venda cruzada] e consistente com a estratégia da companhia de oferecer o maior e mais completo ecossistema para apoiar nossos varejistas no processo de aceleração de suas vendas”, afirma Fernando Cirne, CEO da Locaweb, em nota.
Em entrevista ao CNN Brasil Business, em julho, Cirne havia dito que estava de olho em empresas que pudessem “agregar novas integrações para o mercado de e-commerce”. Até o momento, já foram mais de 120 funcionalidades instaladas no sistema.
A Ambipar é a outra grande vencedora até o momento, subindo mais de 20%. Com core business único entre as empresas listadas no Brasil, começou desempenhando atividades relacionadas a gerenciamento de resíduos e em 2008 passou a atuar também na resposta a emergências e a fazer aquisições estratégicas.
Cuidados para o investidor
“O mercado está tentando tirar proveito dos juros baixos. Com a Selic neste nível, existe uma demanda maior por esse tipo de ativos”, diz Rafael Cota Maciel, gestor de renda variável da AF Invest. “Pelo lado da B3 e da CVM não há nenhum problema com esse volume IPOs ocorrendo ao mesmo tempo, mas o investidor tem que ficar atento.”
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Maciel cita alguns pontos que podem afastar os investidores de varejo do processo. “Primeiro, existe uma assimetria de informações. Não se sabe muito das empresas que têm capital fechado”, diz. “Outro ponto é que as empresas e os bancos vão tentar vender os ativos pelo maior preço possível, o que deixa o comprador em desvantagem.”
Por fim, afirma que o tempo curto de análise aumenta a dificuldade para se separar ”o joio do trigo”. Weinberg concorda. “Investir em IPOs tem caráter mais especulativo. O investidor tem que concentrar seus recursos em empresas com histórico e, caso queira entrar nestes processos, é preciso alocar uma porcentagem pequena de recursos.”
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