‘Cutuca no privilégio’, diz CEO da Empodera sobre trainee exclusivo para negros
Leizer Vaz Pereira avaliou que 'se deixar no ritmo que está, vai demorar muito [para alcançar igualdade]' entre brancos e negros
Fundador e CEO da Empodera, uma startup que busca preparar as empresas na adoção de uma cultura inclusiva, Leizer Vaz Pereira acredita que ações como o programa de trainee para negros, anunciado pela Magazine Luiza, são “iniciativas estratégicas” por igualdade.
Em entrevista à CNN, nesta terça-feira (24), ele avalia que o caso causou polêmica porque vagas de trainee formam “futuros executivos do país”.
“Então, a grita foi grande. Cutuca no privilégio” analisa ele, que classifica que iniciativas do tipo ajudam a avançar na inclusão racial. “Se deixar no ritmo que está, vai demorar muito [para alcançar igualdade]”, pontuou.
“É uma questão de mudança de cultura organizacional muito forte. As organizações estão tentando fazer esse movimento, mas elas são feitas de pessoas, que vêm da sociedade com suas virtudes e seus vícios, então existe muito preconceito e discriminação no mundo corporativo”, reflete.
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Para Leizer, o entrave para a mudança “está, em um primeiro momento, na alta liderança” das empresas. “E depois você precisa disseminar essa nova cultura para todos os colaboradores, treinar e desenvolver os gestores e RH”, indicou.
“É uma jornada complexa e demorada, mas para a qual estamos dando passos largos nos últimos anos. A gente não quer tirar espaço de ninguém, só que tenha oportunidade para todos”, acrescentou.
“Ninguém tem culpa de 350 anos de escravidão e 132 anos de exclusão, mas agora requer uma ação de todos os indivíduos, e sobretudo das organizações para a gente transformar essa realidade e conseguir, de fato, construir uma sociedade mais inclusiva, justa e menos desigual, que oferece oportunidade para todos”, concluiu.
Explicando por que não existe “racismo reverso”, o fundador da Empodera foi enfático. “O racismo e o machismo pressupõem hierarquia de poder, de ter uma raça superior a outra, e isso é o legado que temos da escravidão”, defendeu.
“Nenhum branco, hoje, é responsável pelo sistema escravocrata que foi montado, mas ele não consegue abdicar dos privilégios que ele tem por causa da cor da pele – por mais que seja progressista e tenha um sentimento de justiça social muito grande”, completou.
Como exemplo, Pereira comparou as consideradas piadas sobre “loiras burras”. “É preconceituoso, mas você não tira essa mulher branca e loira do status de superioridade que ela tem em relação à mulher negra”, citou.
“O que estamos discutindo é espaço de poder e privilégio. Entre ganhar dinheiro e mudar o mundo, dá para ficar com os dois”.
(Edição: Sinara Peixoto)