Retomada pós-pandemia amplia uso de carvão e ameaça sustentabilidade
Relatório estima que emissões de carbono para uso de energia podem aumentar 1,5 bilhão de toneladas neste ano
Em relatório divulgado antes da Cúpula do Clima, que ocorre nesta semana, a Agência Internacional de Energia estima que as emissões de carbono para uso de energia podem aumentar 1,5 bilhão de toneladas em 2021, já que o consumo pesado de carvão na Ásia – em particular na China – é maior que o uso de fontes renováveis.
Este será o segundo maior aumento anual em emissões relacionadas à energia da história. “É terrível. A recuperação econômica por conta da crise da Covid atualmente é tudo, menos sustentável “, disse o diretor executivo Fatih Birol em um comunicado.
“A menos que os governos de todo o mundo comecem a cortar as emissões rapidamente, provavelmente enfrentaremos uma situação ainda pior em 2022.”
O grupo, cuja sede fica em Paris, quis fazer o alerta antes da reunião virtual sobre a crise climática que começa nesta quinta-feira (22). Convocada pelo presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, o encontro contará com a presença de 40 líderes mundiais. “O momento é crítico e necessita de uma ação clara e imediata”, alerta.
O presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, vai discursar na quinta-feira (22) por três minutos.
O Reino Unido pretende anunciar antes da cúpula uma meta mais ambiciosa na redução de emissões de carbono.: o primeiro-ministro Boris Johnson se comprometerá a reduzir as emissões do Reino Unido em 78% até 2035, em comparação com os níveis de 1990, informou o Financial Times na segunda-feira (19). A informação foi confirmada por uma fonte do governo pelo CNN Business na terça-feira (20).
Ano passado as emissões caíram drasticamente após alguns países defenderam o isolamento social no combate a Covid-19. No entanto, todo o benefício climático herdado da pandemia parece ter vida curta. A IEA estima que a demanda global de energia aumentará 4,6% em 2021 e excederá os níveis de 2019, por causa do uso de energia em economias em desenvolvimento e mercados emergentes.
As emissões relacionadas à energia devem terminar o ano um pouco abaixo de onde estavam em 2019, revertendo os 80% de declínio visto em 2020. O ressurgimento do uso de carvão é uma preocupação particular -principalmente com a demanda se aproximando do pico que teve em 2014. Só a China deve responder por 50% do crescimento da demanda global por carvão.
Estados Unidos e na Europa também mostraram um aumento, mas devem ficar “bem abaixo dos níveis anteriores à crise”.
No início desta semana, o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, pediu aos países desenvolvidos eliminar o uso do carvão até 2030 e vetar a construção de novas usinas de carvão. A demanda por eletricidade, por sua vez, deve crescer exponencialmente.
Mas há também boas notícias: mais da metade do aumento global de fornecimento de eletricidade em 2021 virá de fontes renováveis, impulsionado principalmente pelo aumento na produção de energia solar e eólica na China.
As estimativas da IEA estão sujeitas a “grandes incertezas” devido à falta de clareza sobre a trajetória das infecções e vacinações por Covid-19. Se as viagens se recuperarem antes do esperado, por exemplo, a demanda de energia aumentará ainda mais.
Luke McGee e Sarah Dean contribuíram para este artigo. Texto traduzido. Leia o original em inglês.