Com a B3 altamente volátil, analistas recomendam as melhores ações para investir
Setores mais seguros, como o elétrico, ou empresas bem estruturadas como a Renner, podem ser boas opções
Há exatos dois meses, parecia que não haviam investimentos ruins na bolsa brasileira, a B3. Empresas acumulavam ganhos em valor de mercado e o Ibovespa, principal índice da bolsa, crescia diariamente e se aproximava do recorde histórico de 120 mil pontos. Agora, a situação não poderia ser mais diferente. Com o avanço da pandemia de coronavírus, contaminando as pessoas e, consequentemente, as previsões de crescimento econômico pelo mundo, a B3 se tornou extremamente volátil e difícil de prever.
O caminho ladeira abaixo foi rápido, incluindo seis circuit breakers – paralisação dos negócios que ocorre quando a bolsa se desvaloriza muito e de maneira acelerada – em oito dias. Os 120 mil pontos foram derretidos à metade, rondando os 64 mil pontos no dia 23 de março. Ainda mais preocupante: as empresas listadas na Bovespa perderam, em conjunto, mais de R$ 1,8 trilhão em valor de mercado durante o complicado período – o equivalente a quase 25% de todo o produto interno bruto do país em 2019.
E, além dessa queda já assimilada, é preciso entender a extensão da crise. Até quando vão durar os períodos de quarentena e distanciamento social? Por quanto tempo certos setores da indústria ficarão sem produzir? Quando o surto de coronavírus passar, quantas empresas terão sobrado para retomar as operações? E as que sobreviverem, voltarão com a mesma capacidade produtiva? No momento, sobram questões e faltam respostas.
Apesar disso, com as ações em baixíssimo patamar, investidores experientes (e com estômago forte) começam a avaliar novas possibilidades de compra olhando lá na frente. A linha de raciocínio é simples. Comprar, enquanto estão mais baratos, papéis de empresas bem estruturadas, de setores estratégicos e com boa capacidade de recuperação no pós-crise e consolidar um investimento a médio e longo prazo.
Tiago Reis, fundador da Suno Research e analista CNPI, estabelece algumas diretrizes para encarar a turbulência. “Neste momento, existem pessoas desesperadas e outros que enxergam a situação atual como uma oportunidade de investir. Tentamo passar para o investidor que, no longo prazo, existem bons negócios em todos os segmentos, só é preciso conhecer as empresas e colocar seu dinheiro na que poderá trazer melhores resultados”, diz.
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Este longo prazo pode ser para daqui três a cinco anos, no mínimo. Thiago Salomão, analista da Rico Investimentos, reforça a existência de um espaço para compra de ativos, mas prega cautela. “As coisas podem piorar ainda mais antes de melhorar, então é melhor ir comprando aos poucos, com consciência. Sempre falo para investir gradualmente, ter sempre caixa e não investir mais dinheiro do que aceita perder”, alerta.
A partir dos últimos movimentos da bolsa e pegando emprestada a experiência dos analistas entrevistados, o CNN Business preparou uma lista de setores e ações que podem fazer parte da sua carteira de investimentos e trazer bons resultados no longo prazo. Confira abaixo:
Setor elétrico
“Uma das áreas mais seguras para se investir”, aponta Reis, indicando as ações da Taesa, opção sólida entre as maiores empresas brasileiras de transmissão de energia elétrica. Companhia que tem ainda, como acionista majoritária, outra gigante do ramo, a Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig). Para além da estabilidade dessa corporação específica, os índices do setor crescem ano após ano, superando com folga a média da bolsa. Salomão também vê Engie, Equatorial e Alupar com bons olhos.
Papel e celulose
Por ser um setor essencialmente exportador, o real desvalorizado deixa esse mercado bem atrativo. Isso porque as empresas têm seus gastos calculados na moeda local e os dividendos entrando em dólar. “Lá fora, com a diminuição da demanda, podem até estar discutindo o fechamento de fábricas. Aqui, somos competitivos”, diz Tiago Reis da Suno Research. Empresas consolidadas no ramo e possíveis bons investimentos: Klabin e Suzano.
Varejo
Com o fechamento de lojas e shoppings durante período de quarentena, este se tornou um dos setores mais imprevisíveis. É bem possível que registre quedas acentuadas no curto prazo, então é preciso “olhar para os fundamentos das empresas”, diz Thiago Salomão, analista da Rico Investimentos. “A Lojas Renner, por exemplo, vai ter um período complicado agora, mas tem estrutura”, completa. Magazine Luiza e Iguatemi também são boas possibilidades, aponta o especialista.
Commodities
Nesta categoria, há possibilidades melhores que as outras. A pior, ou mais incerta no momento, é a Petrobras. Além da queda de demanda em consequência das restrições de circulação, existe uma guerra comercial entre Rússia e Arábia Saudita que vem condicionando negativamente a cotação de preços do barril. Por outro lado, áreas como o agronegócio e a mineração podem se reerguer mais rapidamente. Para Reis, com a China – maior consumidora de minério de ferro – já se recuperando da crise, a Vale tende a performar bem.
Bancos
“Nessa estrutura de investir nas melhores empresas, nada se compara com os bancos. Com a taxa básica de juros em queda, é natural que os retornos sejam menores, mas as empresas estão em posição segura”, diz Salomão. E, para deixar claro, aqui fala-se nos bancos tradicionais, que vêm sofrendo com a concorrência das fintechs e também perdem com as sucessivas diminuições na projeção do PIB brasileiro, mas são estáveis (e podem remunerar um bom volume em dividendos). Por isso, o analista aposta em Itaú e Bradesco.
Saúde
Aqui a coisa vai ficando mais delicada. Obviamente, a área da saúde estará sob escrutínio nos próximos meses devido ao coronavírus. A iniciativa privada precisará atender os infectados, juntamente com o Estado, e evitar que o contágio fuja do controle em suas instalações, caso as tenha. Salomão afirma que é uma aposta de risco, por isso “entraria leve”, ou com pouco dinheiro, em empresas como Hapvida e Notredame Intermédica.
Aéreo
Coragem! Talvez nem isso seja suficiente para colocar seu dinheiro neste setor. Para Salomão, no entanto, papéis da Azul podem ser bons para aquele investidor com estômago para aguentar ativos de alto risco. “A Azul é bem preparada, mas caiu mais de 80%. Para o investidor que se arrisca mais, dá para colocar o mínimo lá. Ou vai subir absurdamente, ou vai quebrar”, afirma. Já para a CVC, que não é exatamente do ramo, mas vive através dele, as palavras são mais duras. “Eu não compraria. Ela está perdendo receita e ainda vai precisar estornar todas as viagens que já foram pagas. Além disso, vem perdendo espaço para as empresas online”, diz.