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    COEs são os novos títulos de capitalização? Levantamento da FGV mostra números

    Desde que foi regulamentado no Brasil, em 2013, o Certificado de Operações Estruturadas (COE) é tratado como um patinho feio dos investimentos

    Matheus Prado, , do CNN Brasil Business, em São Paulo

    Desde que foi regulamentado no Brasil, em 2013, o Certificado de Operações Estruturadas (COE) é tratado como um patinho feio dos investimentos. Muitos agentes do mercado financeiro acusam bancos e corretoras de cobrar taxas gigantescas sobre os títulos, completamente fora do padrão do seu retorno.

    O COE é tão mal visto que anda sendo chamado de novo título de capitalização, forma tradicional de poupança no passado, que já deixou de ser considerado um investimento e é tratado como sorteio. Isso porque, novamente, trazia consigo taxas exorbitantes na comparação com sua rentabilidade.

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    Mas, então, os COEs merecem este apelido? Na teoria, não. Trata-se de um investimento chancelado pela CVM e pela B3, com enorme tradição internacional nos Estados Unidos e na Europa, explica a planejadora financeira e professora da Fundação Getúlio Vargas, Myrian Lund.

    O que ocorre, segundo estudo da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e especialistas ouvidos pelo CNN Brasil Business, é a disponibilização de produtos ruins e complexos, além da venda predatória por parte dos bancos e corretoras. “Alguns dos meus clientes aparecem aqui com 60% da carteira em COEs. É uma aposta, não pode colocar tudo isso”, diz Lund.

    Nessa linha, Otávio Bitu, Fernando Chague, Bruno Giovannetti e Tomaz Hamdan, da FGV, calcularam o retorno esperado para dois grupos de COEs. Um com os 50 papéis de maior volume dentre os que foram vendidos para mais de 100 indivíduos entre 2016 e 2019; e outro com 234 certificados distribuídos por uma grande corretora entre os anos de 2019 e 2020.

    O resultado? 252 dos 284 COEs foram vendidos aos investidores de varejo com retorno esperado abaixo da taxa livre de risco. “O comprador investiu seu dinheiro em um produto ilíquido, sem garantia de crédito e com retorno esperado abaixo do que poderia ser obtido no Tesouro Direto”, diz o texto publicado no início de outubro.

    Isso impactou muita gente. O estudo mostra que 306.717 pessoas compraram ao menos um COE durante os anos 2016 e 2019. O ano de 2018 foi o ano com maior nu´mero de pessoas, 136.532, seguido por 2019, com 105.158, 2017, com 95.346, e por 2016, com 58.391.

    Estrutura

    Para entender o porquê de tamanha polêmica, é preciso conhecer o produto, certo? O COE é um título que combina renda fixa e variável, limita ganhos e perdas e tem prazo fixo. Podem estar atrelados à ações, índices acionários, inflação, juros, moedas, ouro, commodities.

    “É um produto financeiro complexo, que as pessoas com pouca experiência não conhecem”, diz Gabriela Mosmann, economista e analista da Suno Research. “Essa estruturação não é simples e nem barata, então a instituição cobra bem mais caro do que deveria por esses títulos. Parece que é ganha, ganha, mas não é.”

    Aprofundando um pouco mais, os bancos que montam esses produtos colocam a maioria dos ativos em renda fixa, como CBDs, para “garantir” o dinheiro do cliente, e uma pequena parte em alguma modalidade de renda variável. A título de exemplo, vamos supor que um investidor quer ter um pouco de exposição ao dólar, mas não tem experiência para operar com a moeda em si.

    Este investidor pode comprar então um COE e, com o câmbio desvalorizado, apostar que o real vai se recuperar daqui a um ano. Se na data específica do vencimento do papel (tem que ser naquele dia), o dólar tiver realmente caído nos termos do contrato, quem investiu ganha um prêmio, além de recuperar seu dinheiro.

    E esse é um dos pontos que torna essa classe de ativos tão vendável. Ele é comercializado – em 95% dos casos – com um mecanismo chamado Valor Nominal Protegido. Com isso, o investidor garante a mesma quantia que ele aplicou de volta, caso o cenário buscado não seja atingido.

    Mas, atenção: embora o investidor não tenha perdas em termos nominais, em termos reais ele pode sair no prejuízo. Primeiro, pois ele deixou de aplicar em um produto que daria rendimento (até o Tesouro Direto tem rendido mais, como mostra a pesquisa da FGV). Segundo, pela própria inflação.

    Outro ponto a ser avaliado é a liquidez: você fica preso até a data de vencimento do produto. Nesse caso, se o investidor optar por desistir, ele correrá o risco de ter que vender para a instituição por um valor menor do que foi aportado no início.

    Ao todo, 59.140 COEs diferentes foram adquiridos por investidores pessoas fi´sicas entre 2016 e 2019. O ano de 2016 teve o maior número de COEs, 27.113, seguido pelo ano de 2017, com 11.490, 2018, com 10.598, e 2019, com 9.939.

    Mas, apesar da queda no número de COEs, o volume captado se manteve relativamente estável. O ano com o maior volume captado foi 2018, com R$ 9,8 bilhões, seguido por 2017, com R$ 8,2 bilhões, e por 2019 com R$ 7,5 bilhões.

    “Muitas vezes são produtos não tão bons, mas com uma história muito boa. É atraente para o investidor que não entende o mercado e para o corretor ou agente autônomo que precisa bater meta”, diz Gabriela. “É preciso seguir uma lei fundamental: só invista naquilo que você conhece.”

    Conclusão do estudo

    “Encontramos que a grande maioria parte dos COEs avaliados neste estudo tem um retorno esperado inferior ao retorno do ativo livre de risco. Apenas 32 de um total de 284 COEs oferecem um retorno esperado maior ao retorno do ti´tulo Tesouro Prefixado disponível no momento da emissão do COE”, diz o relatório.

    “Alpem do mais, os COEs que oferecem um retorno em excesso positivo, fazem isso com bastante volatilidade. Considerando-se ainda que COEs são investimentos ilíquidos, o resultados apresentados neste trabalho não são animadores para os investidores.”

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