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    Castello Branco: meta de redução da dívida da Petrobras ainda é dúvida em 2020

    Na estreia do Líderes, comandado por Raquel Landim, presidente da estatal diz que resposta da companhia ao cenário de petróleo mais barato deve ser cautelosa

    Presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, diz que empresa deve responder com cautela a cenário de instabilidade de preços do petróleo
    Presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, diz que empresa deve responder com cautela a cenário de instabilidade de preços do petróleo Foto: REUTERS/Sergio Moraes

    A guerra de preço de petróleo provocada pelas discórdias entre Rússia e Arábia Saudita e a desaceleração da economia global acentuam as incertezas de que a Petrobras atinja sua meta de redução de endividamento em 2020. A avaliação é de Roberto Castello Branco, presidente da estatal, e foi feita, em primeira mão, à Raquel Landim, analista da CNN Brasil. A entrevista marca a estreia do programa CNN Líderes, comandado semanalmente pela jornalista. 

    “Nós pretendíamos fazer isso (reduzir a dívida) esse ano. Ano passado pagamos US$ 24 bilhões de dívida, (e) foi para US$ 87 bilhões. Vamos ver se isso é viável ou não. É um ponto de interrogação agora, que não existia antes”, disse o executivo. Ele não descarta a previsão de ganhos menores neste ano, diante do cenário global de menor crescimento e, consequentemente, demanda por petróleo. “Nossos resultados econômicos serão afetados, isso é claro. Como uma companhia de petróleo, ela tem sua lucratividade afetada pelos preços do petróleo”, afirmou.

    Apesar disso, Castello Branco citou que a empresa tem feito o dever de casa e que a situação financeira está mais confortável que há cinco anos, mas lembrou que a estatal ainda conta com uma dívida que é superior a duas vezes às medidas de geração de caixa. 

    Impacto do preço do petróleo ao consumidor

    Em meio à guerra do petróleo protagonizada pela Árabia Saudita e Rússia, a dúvida sobre como a estatal repassaria a queda dos preços ao consumidor final passou a pairar no ar. Castello Branco, porém, avalia que o momento pede cautela, principalmente pela alta volatilidade e incertezas no mercado.  

    Além do risco de um choque de oferta da commodity, os temores com a pandemia de coronavírus fizeram com que os preços do petróleo fechassem no menor nível desde a crise financeira de 2008. No acumulado da semana passada, o Brent perdeu 25%, a US$ 33,85 por barril. 

    Para ele, a resposta da empresa ao atual cenário de instabilidade de preços deve ser cautelosa e não imediata, para não tornar o mercado disfuncional. “Não podemos tomar uma decisão num ambiente de alta volatilidade, pois corremos o risco de transmiti-la aos compradores de combustíveis”, explicou. “Observamos o comportamento do mercado para, então, alinharmos nossos preços à paridade internacional.”

    Como resposta aos últimos acontecimentos do setor, porém, a Petrobras reduziu o preço do diesel em 6,5%, e da gasolina, em 9,5%, nas refinarias desde a última sexta-feira (13).

    Futuro da estatal e venda de refinarias

    Apesar dos desafios e das incertezas no cenário global, a empresa brasileira mantém inalterado o plano de venda de refinarias, sobretudo as localizadas nas regiões Norte e Nordeste. Ao final de janeiro, a estatal anunciou o início de fase vinculante para vender três refinarias na região, sendo elas Isaac Sabbá, no Amazonas, Lubrificantes e Derivados de Petróleo do Nordeste (Lubnor), situada no Ceará e Unidade de Industrialização do Xisto (SIX), no Paraná. 

    “Continuamos a executar nossa estratégia, como estávamos executando. Nós não recebemos nenhum sinal de desistência, falta de entusiasmo, dos interessados na compra das refinarias. Pelo contrário: temos potenciais compradores visitando as refinarias”, afirmou. 

    Na entrevista, o executivo também afastou as possibilidades de interferência na política de preços por parte do governo federal e de privatização da estatal durante o mandato do presidente Jair Bolsonaro.

    “Como presidente da Petrobras, sou disciplinado. Tem o ‘economista’ e o ‘executivo’. Como executivo, não tenho nenhum mandato para privatizar a Petrobras”, disse. 

    Confira, a seguir, trechos da entrevista: 

    CNN Brasil Business: A Petrobras já foi a companhia mais endividada do mundo, embora tenha melhorado sua situação financeira, graças à venda de ativos. Precisa reduzir mais o endividamento? 

    Precisa. A Petrobras ainda tem uma dívida que é superior a duas vezes sua geração de caixa. Normalmente, uma companhia produtora de commodity, fica confortável com indicadores abaixo de duas vezes (a geração de caixa). Nós pretendíamos fazer isso (reduzir a dívida) esse ano. Ano passado pagamos US$ 24 bilhões de dívida, (e) foi para US$ 87 bilhões. Vamos ver se isso é viável ou não. É um ponto de interrogação agora, que não existia antes

    O plano continua sendo reduzir esse endividamento. Só não sabe se isso acontecerá este ano. É isso? 

    Não sabemos se vai acontecer esse ano. Mas o nosso objetivo é reconquistar o grau de investimento, para reduzir o custo de capital. Petróleo é uma indústria altamente intensiva em capital. Para somente manter nossas reservas, temos que gastar bilhões de dólares. Temos que manter nossas reservas para manter a capacidade produtiva e, na medida do possível, crescer. Temos bons projetos para fazer isso
    Desde o início do ano, a Petrobras promove reduções de preços, acompanhando a expectativa de menor demanda, devido ao coronavírus e ao recente choque do petróleo. 

    Como será a política para lidar com o novo patamar da commodity nos próximos meses? 

    Volatilidade faz parte da natureza dos preços do petróleo e de combustíveis. Então, a Petrobras tem como padrão, diante de um choque de preços, (…) não reagir imediatamente. Observamos o comportamento do mercado para, então, alinharmos nossos preços à paridade internacional. Quando acontece um evento inesperado, a reação, além de altas ou baixas significativas, há grande volatilidade. Não podemos tomar uma decisão em um ambiente de alta volatilidade. Corremos o risco de transmitir essa volatilidade aos compradores de combustíveis. Então, nós procedemos com cautela. Assim foi e assim será.

    Há muitas implicações para o consumidor, arrecadação federal e dos Estados. Consideram tudo isso ao tomar decisões? 

    Aí diz respeito à tendência ao longo do tempo. No ano passado, os preços médios do petróleo no mercado internacional foram US$ 64 por barril. Este ano, independentemente do problema entre Rússia e Arábia Saudita, há uma desaceleração do crescimento da economia global, que acontece desde o terceiro trimestre do ano passado. O crescimento da economia global afeta diretamente a demanda por petróleo. Então, é razoável supor que, na média, mesmo que essa situação atual se resolva, satisfatoriamente, os preços serão mais baixos.

    O cenário atual de preços mais baixos do petróleo compromete, de alguma forma, a operação e os investimentos da estatal? 

    A Petrobras, hoje, encara a situação com a tranquilidade que fez o dever de casa. Nossa situação é muito melhor do que era em 2014 e 2015, apesar de a companhia ainda estar muito endividada. Nossos projetos são economicamente viáveis, a preços de petróleo de longo prazo mais baixo, abaixo de US$ 40. Temos projetos muito bons, como o de Búzios, e em termos de geração de caixa, podemos resistir a um preço médio anual de US$ 25. A Petrobras está saudável financeiramente. Ao mesmo tempo, nossos resultados econômicos serão afetados, isso é claro. Como uma companhia de petróleo, ela tem sua lucratividade afetada pelos preços do petróleo. 

    O novo preço do petróleo afeta o processo de venda das refinarias? Pode atrasar ou diminuir o interesse de compradores? 

    Não muda nenhum plano da companhia. Nós continuamos a executar nossa estratégia, como estávamos executando. Nós não recebemos nenhum sinal de desistência, falta de entusiasmo, dos interessados na compra das refinarias. Pelo contrário: temos potenciais compradores visitando as refinarias, fazendo seu processo de investigação, (…) para então apresentar proposta definitiva. 

    Como economista liberal, formado na Universidade de Chicago, sempre defendeu privatizações de estatais, incluindo a Petrobras. Mantém essa posição, um ano após estar no comando da petroleira? 

    Como economista, sou a favor do livre mercado, sem dúvida nenhuma. Acho que o Estado tem que atuar, em outras áreas: educação básica, pré-escola, saúde a pessoas que não têm recursos; saneamento, segurança pública e nacional. Então, minha posição não mudou. Como presidente da Petrobras, sou disciplinado. Tem o “economista” e o “executivo”. Como executivo, não tenho nenhum mandato para privatizar a Petrobras. Não tomarei nenhuma iniciativa para privatiza-la. Encaro isso como  missão para transformar a Petrobras em uma empresa bem melhor do que a que recebi. 

     

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