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    Mais casas italianas estão à venda por 1 euro

    Iniciativa é tentativa do país de dar nova vida a locais rurais remotos que estão morrendo silenciosamente

    Julia Buckley, da CNN

     

    Procurando um presente de Natal, mas ainda não encontrou nenhum satisfatório? Que tal uma casa na Itália que pode ser sua por menos do que o preço de uma xícara de café?

    Sim, mais um conjunto de casas de campo idílicas em vilas italianas estão à venda por apenas 1 euro – e, como as anteriores, fazem parte da tentativa de dar nova vida a locais rurais remotos que estão morrendo silenciosamente.

    No entanto, se você está acostumado com o modelo usual (autoridades municipais querendo atrair novos residentes com a oferta de casas com preços reduzidos ou subsidiados), desta vez é um pouco diferente.

    Nos esquemas regulares, os compradores geralmente têm que fazer uma proposta sobre o que farão com a propriedade e depositar o valor estabelecido como caução – que será reembolsado se eles concluírem as reformas dentro de um prazo específico. É bom lembrar que a reforma de uma casa na Itália tem seus desafios, mas também generosas isenções fiscais no caso de propriedades em áreas rurais.

    Eis que surgem Nicolò Bolla e Alessandro Barba. Os dois sócios – da Emilia-Romagna e da Sicília, respectivamente – criaram um site para promover a venda de casas italianas por valores simbólicos. Elas estão disponíveis a partir de 1 euro (R$ 6,25) em todo o país.

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    “Nosso objetivo principal é simplificar o processo, não só com tecnologia, mas com todas as possibilidades de incentivos fiscais e de imigração”, diz Bolla. “Não queremos que as pessoas optem pela compra sem ter os documentos necessários para concluir o negócio. Elas podem precisar de ajuda para a imigração ou de suporte para abrir um negócio na Itália. Nossa intenção é oferecer um serviço completo”.

    Para fazer isso, os dois sócios estão combinando suas respectivas profissões (Bolla é contador e Barba, um especialista em imigração e realocação) para ajudar os compradores em todo o processo, seja reformando sua segunda casa de sonho ou se mudando para a Itália.

    Além disso, como é adequado em tempos de Covid-19, o objetivo é fazer tudo online (uma exigência em algumas outras cidades é que os licitantes devem fazer sua oferta pessoalmente ou contratar um representante nomeado, como um advogado local).

    “Quando a Covid-19 for embora, poderemos fazer passeios, ver o imóvel de antemão, mas no momento tudo pode ser feito online”, explica Bolla, que acredita que “o procedimento antigo não funciona mais”. Ele diz que seu novo serviço procurará evitar o “atrito” que pode surgir em projetos conduzidos por prefeituras. “Podemos lidar com a burocracia”, promete.

    Lançado em meados deste ano, no verão europeu, o site Auctions2Italy já lançou seus primeiros leilões, com seis casas em três locais: Vetto, na região centro-norte da Emilia Romagna, e Mussomeli e Campofelice di Fitalia, na Sicília. Todas são de regiões ligadas às origens dos sócios: Bolla é de Vetto, mas agora mora a uma hora de distância, na cidade de Parma, enquanto o pai de Barba cresceu em Mussomeli.

    “Sou muito apegado a Vetto, mas tive que ir trabalhar em outro lugar”, conta Bolla, cuja família era proprietária de um hotel perto da vila, que está desativado (embora Bolla sonhe transformá-lo num ponto atraente para nômades digitais interessados em estadas longas).

    “Sempre que vou para lá, volto a ser como era. Essas pequenas cidades, de 2 mil habitantes ou menos, têm um grande senso de comunidade, do qual eu realmente quero fazer parte. Queremos repovoar essas áreas, manter o seu sentido de comunidade”.

    É claro que também há a questão do custo, quando se trata de comprar na Itália. Não haverá casas à venda por 1 euro em cidades grandes ou em locais rurais populares como a Toscana. No entanto, as pequenas cidades nas colinas da Itália em áreas rurais menos elegantes nunca se recuperaram da emigração pós-Segunda Guerra Mundial. Muitas vivem às moscas, restritas a moradores aposentados. As autoridades estão ansiosas para atrair sangue novo para impedir que essas cidades morram.

    Preços intencionalmente baixos

    É bom não perder de vista que a casa, na realidade, vai acabar custando muito mais do que € 1 em qualquer caso – as reformas podem chegar a dezenas de milhares de euros, dependendo do trabalho que for necessário.

    O site da Bolla e Barba se propõe a ser transparente sobre o processo. Das seis casas que estão oferecendo (o plano é expandir o serviço), as duas em Mussomeli não têm preços de reserva, o que significa que dá para comprá-las por € 1. As outras têm reservas que variam de € 3.000 a € 5.000 (cerca de R$ 18.700 a US$ 31.200). No entanto, todos os leilões são limitados a cerca de € 10.000 (R$ 62.500), portanto o preço nunca será maior que esse, independentemente do número de pessoas que fizerem lances. 

    “Nossa ideia é que as pessoas não deveriam lutar para obter o preço de mercado”, diz Bolla. “Não faz sentido os compradores gastarem mais em um leilão do que pagariam no mercado livre. Queremos que os preços permaneçam baixos, porque a ideia é ajudar os municípios a reviver. Não estamos vendendo mansões.”

    Além disso, observa Bolla, que paga pouco tem mais incentivo para renovar e mais orçamento para desenvolver seus projetos na Itália. “Tenho visto muitas pessoas deixando Vetto. Se os preços das casas forem altos, os novos moradores não virão para fazer a cidade reviver.”

    Reformas “gratuitas”

    Outras cidades já lançaram sites antes – incluindo Mussomeli, que lançou seu próprio esquema por meio do site Case1Euro. O site de Bolla e Barba é um pouco diferente dos sites administrados pela comunidade, porque funciona como um intermediário entre comprador e vendedor, sem reduzir o preço de venda. Não há taxas para se inscrever ou fazer uma oferta. Os únicos ganhos de Bolla e Barba virão com a contratação deles para serviços adicionais, como imigração ou ajuda fiscal.

    A Itália tem incentivos fiscais generosos para essas propriedades em reforma: atualmente, a pessoa pode receber o reembolso de 110% do que pagou para tornar uma casa mais eficiente em energia, 90% dos gastos com a reforma da fachada de um prédio e até 60% dos investimentos em renovações em geral.

    Normalmente, essas “restituições” vêm na forma de créditos tributários, distribuídos ao longo de cinco anos. No entanto, Bolla diz que os residentes que não pagam impostos podem potencialmente “negociar” os créditos, seja com uma construtora ou com instituições financeiras, trocando o crédito por serviços, num caso, ou dinheiro vivo, no outro. Barba pode ajudar no processo de imigração e Bolla orientar no processo tributário notoriamente complexo do país.

    “Os regimes fiscais favorecem os recém-chegados”, observa Bolla. “Se você trabalha remotamente da Itália, pode obter um desconto de imposto de 70% nos primeiros cinco anos. Se você mudar para o sul, a isenção é de 90%. Ou se você é um aposentado que se muda para o sul, paga apenas 7% de sua renda no exterior nos primeiros 10 anos. Há burocracia a percorrer, mas com certeza podemos ajudar”.

    Por que as casas são tão baratas

    Ao contrário de muitos dos esquemas administrados por autoridades, onde é preciso pagar um depósito reembolsável se você concluir as reformas em um período especificado, não há penalidade aqui. No entanto, se for uma segunda casa, será preciso pagar imposto sobre a propriedade. Se você já se perguntou qual é o problema (por que alguém venderia sua casa pelo preço de uma xícara de café?), a resposta é que os residentes não querem pagar o imposto sobre uma casa que nunca irão reformar, diz Bolla.

    O benefício para os vendedores é simples. As casas estão paradas há um tempo, os proprietários estão pagando o imposto territorial, ninguém quer comprá-las, então eles precisam passar por um corretor.

    “Muitas vezes, as casas são propriedade de cinco pessoas, que as herdaram dos avós. Eles podem morar longe, podem já ter duas casas, o que é comum no meio rural, e não estão dispostos a reformar”, explica Bolla. “Em situações como essa, um recém-chegado se oferecendo para tirar o aborrecimento das mãos deles é muito atraente.”

    Nômades digitais

    Vetto está a uma hora de distância de Reggio Emilia, na principal linha ferroviária de alta velocidade da Itália.

    A Auctions2Italy começou com Vetto e Mussomeli, por causa das ligações pessoais dos dois fundadores com as cidades. As autoridades em Vetto, em particular, declararam-se interessadas em atrair sangue novo e dizem que pretendem agilizar qualquer papelada.

    No entanto, Bolla espera que, se tudo correr bem, outros municípios e proprietários privados se envolvam.

    “Não queremos as restrições que alguns dos outros esquemas tiveram”, explica. “Queremos um processo mais livre, um que diga às cidades que elas terão novos residentes, novos negócios, e isso é bom”.

    Uma coisa que vale a pena notar: os sócios estão trabalhando apenas com cidades que têm wifi super-rápido, em uma tentativa de atrair nômades digitais. Portanto, embora você esteja no campo, não ficará completamente isolado.

    Para quem chegar primeiro

    Então, o que está em jogo? As primeiras seis propriedades estão em leilão agora, e os primeiros deles terminam neste domingo, 20 de dezembro.

    Há duas casas em Vetto – uma pequena cidade de 2 mil habitantes no sopé verde dos Apeninos, a menos de uma hora da artística Parma, na Reggio Emilia (na linha ferroviária de alta velocidade da Itália), e cerca de 80 minutos de carro de Modena, famosa por sua catedral românica.

    Bolonha fica a duas horas de distância e Milão a duas horas e meia a noroeste.

    Mussomeli, onde ficam outras duas casas em oferta, é uma cidade maior, com cerca de 11 mil habitantes, no centro da Sicília, que se aquece ao sol, mesmo no inverno.

    Finalmente, há dois em Campofelice di Fitalia, uma aldeia no centro da Sicília não muito longe da famosa Corleone.

     

    (Texto traduzido, clique aqui para ler o original em inglês).

     

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