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    Crise política agravada por saída de Moro faz risco-país do Brasil disparar

    Credit Default Swap (CDS) do país se descolou dos de outros mercados emergentes nesta sexta, saltando mais de 30 pontos

    Luísa Melo, do CNN Brasil Business, em São Paulo

    A saída de Sérgio Moro do Ministério da Justiça nesta sexta-feira (24) piorou imediatamente a percepção dos investidores sobre a segurança de se fazer negócios no Brasil. O risco-país brasileiro medido pelo Credit Default Swap (CDS) de cinco anos subia 33 degraus por volta das 13h, a 363 pontos, em um movimento descolado dos de outros mercados emergentes.

    Para se ter ideia, em uma comparação com outras economias em desenvolvimento de traços similares à do Brasil, a do México era a que apresentava o maior salto no CDS nesta sexta e ganhava apenas 9 pontos. Veja no gráfico:

    O risco-país de todos esses mercados cresceu consideravelmente desde que a crise do coronavírus se intensificou. Isso aconteceu diante da perspectiva de que todos terão uma piora no quadro fiscal, seja por queda na arrecadação, decorrente do crescimento fraco, seja por conta dos altos gastos emergenciais no combate à doença.

    O CDS de cinco anos do Brasil triplicou desde o fim de fevereiro, quando estava na casa dos 130 pontos. O pico do indicador neste ano, porém, foi atingido no dia 18 de março, quando o dólar fechou perto dos R$ 5,20 pela primeira vez e o Banco Central cortou a taxa básica de juros para a mínima histórica de 3,75% ao ano.

    “A velocidade de resposta dos países (à pandemia) determinou a piora da percepção de risco. O Brasil até duas semanas atrás não estava em situação muito pior do que os demais, mas essa crise política mudou o cenário”, avalia o economista Homero Guizzo, da corretora Guide Investimentos. 

    Segundo analistas, a dúvida que paira é se o presidente Jair Bolsonaro conseguirá terminar o mandato após as acusações feitas por Moro ao deixar o cargo, de que ele teria interferido politicamente na Polícia Federal. Se sim, o governo terá força política para continuar com a agenda de reformas que garante o ajuste fiscal? Se não, como será um possível novo governo? Que condução econômica adotará?

    Essas incertezas, adicionais às referentes ao tamanho e à duração do impacto do coronavírus na atividade, tornam o ambiente de negócios mais arriscado no Brasil. 

    “A economia está enfrentando um choque gravíssimo. Não era hora de inventar outra crise”, diz Carlos Kawall, diretor do ASA Bank e ex-secretário do Tesouro.

    Guedes será o próximo?

    O pedido de demissão de Moro vem uma semana após a saída de Henrique Mandetta da pasta da Saúde (contrariando apoio popular) e o mercado teme que o ministro da Economia, Paulo Guedes, seja o próximo a desembarcar do governo.

    A especulação ganhou força depois que a presidência lançou, dois dias atrás, um plano para investir R$ 30 bilhões em obras públicas nos próximos três anos, batizado de Pró-Brasil. A apresentação do programa foi comandada pelo ministro da Casa Civil, general Walter Braga Netto, na ausência representantes da equipe econômica. 

    Por sua agenda liberal, Guedes foi fundamental para que o mercado reagisse de forma favorável à então candidatura de Bolsonaro à presidência. E um possível governo sem ele preocupa.

    “Além da crise que é desafiadora no mundo todo e exige coordenação, temos o ruído político. Temos um presidente que não se acomoda e é fonte constante de instabilidade. O temor agora é de que o Paulo Guedes saia do governo e não necessariamente seja subsituído por alguém com o mesmo perfil”, avalia o economista Bráulio Borges, LCA Consultores.

    Kawall, do ASA Bank, acha improvável a saída de Guedes e pondera que a visão liberal do ministro é compartilhada por dirigentes de outros agentes econômicos importantes como o Banco Central, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e a Caixa Econômica Federal. 

    “É um pacote fechado, uma coisa muito central. E não me parece haja uma mudança radical no governo, que o presidente tenha se convencido de que tem que ser mais estatizante, até porque não tem como fazer isso”, afirma.

    O economista diz se preocupar principalmente com a “sobrevida” do governo após o episódio e questiona se a saída de Moro provocará perda de apoio popular, já que o movimento “anticurrupção”, do qual o ex-juiz é o maior representante, também ajudou a eleger Bolsonaro.

    “Um presidente com base política quase inexistente, com perda de apoio popular, no meio de uma crise sem precedentes: esse filme a gente já viu com (o ex-presidente Fernando) Collor. Teve uma acusação de corrupção e o inimaginável aconteceu”, diz em referência ao impeachment, inédio no Brasil até então.

    Na visão dele, o fiscal continua sendo o grande problema do Brasil e a principal missão do governo é fazer com que o apoio emergencial (e seu impacto negativo nas contas públicas) fique restrito à 2020, algo que a lei do teto de gastos ajuda a garantir.