Luxo, sofisticação e fartura: como era viajar na ‘era de ouro’ da aviação
Voar era uma aventura destinada a pouquíssimos afortunados que podiam pagar os altíssimos preços cobrados por uma passagem aérea
Viajar de avião hoje em dia é apenas um meio de se deslocar com agilidade entre duas cidades distantes entre si. Já houve um tempo, porém, que as viagens aéreas eram repletas de glamour e sofisticação, uma aventura destinada a pouquíssimos afortunados que podiam pagar os altíssimos preços cobrados por uma passagem aérea.
Esse período de sofisticação ficou conhecido como a “era de ouro” da aviação comercial. No Brasil, a companhia aérea mais famosa pelo atendimento primoroso foi a Varig, que chegou a receber o prêmio de melhor serviço de bordo do mundo em 1979 pela revista norte-americana “Air Transport World”.
Em todas as companhias aéreas do mundo, o luxo e a fartura eram itens obrigatórios. Serviço de bordo com barrinha de cereal? Nem pensar. Os passageiros comiam o que havia de melhor, de caviar a uma feijoada completa. Para beber, as melhores marcas de vinhos, uísques ou outra bebida disponível a bordo.
Surgimento da classe econômica
Até a década de 1950, não havia nem mesmo divisão de classes dentro dos aviões. Todos os passageiros eram tratados igualmente e com total conforto a bordo. Em uma tentativa de reduzir os preços das passagens e aumentar o número de passageiros, as aéreas passaram a dividir a cabine em duas classes. Surgia, assim, a então classe turística, hoje conhecida como classe econômica.
A diferença não estava nem tanto no serviço de bordo, mas no espaço disponível para os passageiros. A nova classe era um pouco mais apertada para que coubessem mais poltronas e para diluir os custos entre mais pessoas. Com isso, houve uma redução de 30% nos preços das passagens aéreas, segundo a holandesa KLM, a companhia aérea mais antiga do mundo.
De acordo com a KLM, a nova classe permitiu um rápido crescimento no número de passageiros. Em 1951, cerca de 340 mil pessoas cruzaram o Atlântico Norte de avião. Três anos mais tarde, esse número já subia para 580 mil passageiros. Em 1957, 1 milhão de passageiros viajavam de avião entre a Europa e os Estados Unidos.
Refeições fartas a bordo
Com louças de porcelana, talheres de metal e taças de cristal, o serviço de bordo era requintado até mesmo para os passageiros da classe econômica. As extintas Vasp e Transbrasil serviam feijoada em seus voos, enquanto a Varig era conhecida pelo caviar na primeira classe.
Na hora das refeições, os passageiros se sentiam em um restaurante voador. Os comissários de bordo tinham os melhores treinamentos para servir ao estilo dos melhores chefs do mundo. Até os anos 1950, havia realmente chefs a bordo para preparar as refeições fresquinhas.
Mesmo depois que os chefs deixaram de voar, as refeições não perderam o glamour. Uma foto de 1965 em um voo da KLM mostra um comissário de bordo servindo uma peça inteira de carne. Era praticamente um churrasco a bordo.
Viajar era um evento social
Com tanto glamour por parte das companhias aéreas, os passageiros também se preparavam à altura para viajar de avião. Os homens escolhiam seus melhores ternos e as mulheres vestiam os vestidos mais elegantes.
Além de se deslocar entre dois aeroportos, a viagem também servia para ver, ser visto e fazer contatos. Na ponte aérea Rio-São Paulo a bordo dos antigos turboélices Electra, o local mais disputado do avião era a sala de estar na parte traseira, que tinha um grande sofá. A primeira versão do Boeing 747 também tinha uma ampla área para socialização dos passageiros. Seja qual fosse o avião, os passageiros pegavam um copo de uísque, acendiam um cigarro e ficavam ali conversando boa parte do voo.
Fumar, aliás, era um hábito comum nos voos do passado. No Brasil, até 1997, os passageiros podiam acender o cigarro em qualquer momento voo. O máximo que as companhias aéreas faziam era reservar as últimas fileiras a bordo para os fumantes.
Hoje, esse é um hábito impensável. Mas como não se pode ter tudo, o serviço de bordo também nem chega perto daquela época. Restam mesmo só as lembranças da era de ouro da aviação.