Conheça a fotógrafa inovadora que mudou a forma como vemos a moda
Eve Arnold ingressou na fotografia em 1951 e seu extenso trabalho registrou imagens de Marilyn Monroe e Malcolm X a desfiles de moda negra e maternidades nos EUA
Quando Eve Arnold ingressou na Magnum em 1951 – quatro anos após a fundação da renomada agência fotográfica – ela foi a primeira fotógrafa mulher. “Magnum estava prestes a abrir um escritório em Nova York”, ela escreveu em sua aclamada monografia, “The Unretouched Woman”, de 1976.
“Fui visitá-los. Ser mulher ajudou. Eu seria o símbolo da mulher americana”. Em 1957, quando se tornou membro titular, ela era uma das duas únicas mulheres presentes na agência internacionalmente.
Setenta anos depois, uma nova exposição investiga o extenso arquivo de Eve Arnold, destacando uma coleção de seus trabalhos mais significativos. “O assunto definitivamente não é apenas as mulheres, mas é a perspectiva dela que queríamos refletir”, disse Nicola Jones, fundadora e diretora da Newlands House Gallery na Grã-Bretanha.
As imagens mais célebres da fotógrafa são apresentadas ao lado de vários de seus trabalhos menos conhecidos, mas igualmente atraentes: de Marilyn Monroe no set de “The Misfits” a Malcolm X falando em Washington, e desfiles de moda negra no Harlem até uma maternidade em Long Island.
“Uma coisa que transparece em todas as suas fotografias é uma personagem empática e sem julgamento”, continuou Jones. “A amplitude do seu trabalho também foi extraordinária, assim como a forma como ela superou vários tabus de forma silenciosa e eficaz e, da mesma forma, o acesso que conseguiu obter”.
Nascida na Filadélfia, filha de pais imigrantes judeus da Ucrânia, Eve se mudou aos 31 anos para Nova York, onde se casou, e acabou se estabelecendo no Reino Unido na década de 1960, onde viveu até sua morte, aos 99 anos em 2012. Enquanto estava em Nova York, ela fez aulas de fotografia com Alexey Brodovitch – o então diretor de arte da Harper’s Bazaar – na New School for Social Research.
Encarregada de uma tarefa de “moda”, Eve passou um ano fotografando desfiles semanais no Harlem, uma série de eventos praticamente invisível (dentro da indústria da moda convencional) com modelos negras exibindo roupas feitas em casa para um público negro.
“As fotos foram fantásticas e realmente inovadoras”, disse Jones. “Ela escolheu fazer algo incrivelmente diferente numa época em que a segregação ainda prevalecia na América”.
“As questões que ela fotografou são tão importantes (agora), se não mais, do que nunca”, disse Michael Arnold, neto da fotógrafa. “Ela se manteve neutra porque via seu trabalho como repórter. Ela estava fascinada com o que estava acontecendo no mundo ao seu redor e queria esclarecer isso. Apesar de apolítica, seus tópicos fotografados (revelaram) os seus interesses”.
Em outro lugar em exibição está uma imagem solitária de uma série filmada para acompanhar um artigo na The Sunday Times Magazine: “Celebração de casamento lésbico” destaca a heterogeneidade da câmera de Eve.
“O artigo original, curiosamente, chamava-se ‘Mulheres sem Homens’ – como se isso fosse algo inovador – mas em 1965 era algo que dava para fazer uma reportagem”, disse Michael. “Quando Eve começou a fotografar, 95% das mulheres eram donas de casa. Para ela, sair e viajar pelo mundo foi inovador”.
Na verdade, ela reconheceu a anomalia e suposta excentricidade do seu gênero em “The Unretouched Woman”. “Não se falava dos meus colegas entre aspas; eles não eram ‘homens de carreira’ ou ‘homens fotógrafos’”, escreveu ela, reconhecendo o duplo padrão, embora nunca se estabelecendo como feminista.
O seu gênero, no entanto, embora não de forma alguma moldasse os seus sucessos fotográficos, iria, por padrão, informar o seu legado na vanguarda da fotografia do século 20, algo que ela frequentemente subestimou, disse Michael. “Não foi falsa modéstia, ela realmente achou muito estranho”, lembrou ele. “Ela talvez nem tenha reconhecido o papel que desempenhou na história da fotografia”.
Embora Eve tenha dito uma vez a Michael que não queria ser conhecida apenas por seu trabalho de Marilyn Monroe, as imagens são um exemplo impressionante de sua prática mais ampla e capacidade de construir relacionamentos autênticos com seus tópicos fotografados.
“Essas fotos, hoje mundialmente conhecidas, contam a história de uma mulher que conseguiu ganhar a confiança de alguém que era notoriamente vulnerável e às vezes frágil, que confiou em Eve para fotografá-la de maneiras que talvez ela não permitiria que outros o fizessem”, disse Jones.
Além disso, o que permitiu que Eve produzisse um trabalho como o fez foi seu ousado senso de curiosidade. “Isso a motivou, um tipo de curiosidade genuína e insaciável. Ela queria saber o que motivava alguém”, disse Michael.
“Acho que sua compaixão e curiosidade são uma das principais coisas que a diferenciam. É o tipo de humanidade que transparece, quer ela esteja fotografando a família real ou uma família da classe trabalhadora. É isso que torna sua fotografia identificável e atemporal”.
“Eve Arnold – To Know About Women” está em exibição na Newlands House Gallery em Petworth, Reino Unido, até 7 de janeiro de 2024.