Mercado Livre diz que não quer ser banco, mas é – e pretende ser a maior fintech
Na quinta-feira (24), a empresa anunciou um aporte de R$ 400 milhões do banco americano Goldman Sachs – mais um passo para ser uma instituição financeira
Tem cheiro de banco, gosto de banco, visual de banco e opera como um banco. Mas o Mercado Pago, braço financeiro do Mercado Livre, não quer ser reconhecido como um. Oficialmente, é claro. De acordo com Túlio Oliveira, vice-presidente da companhia e também diretor-geral do Mercado Pago no Brasil, a intenção não é ser um banco – mas ele admite que quer ser a maior fintech do país.
“A nossa intenção é alcançar a liderança em qualquer mercado em que atuamos”, diz Oliveira.
E a empresa vem ainda mais forte para o setor de crédito, focado principalmente em micros, pequenos e médios varejistas que vendem na plataforma do Mercado Livre.
Nesta última quinta-feira (24), a empresa anunciou um aporte de R$ 400 milhões do banco americano Goldman Sachs. O investimento será feito por meio de fundos de investimento em direitos creditórios (Fidc).
Com esse dinheiro em mãos, o Mercado Livre chegará a ter quase R$ 1 bilhão disponíveis para concessão crédito. Essa prática dentro da empresa começou em 2016 e, até agora, já foram concedidos R$ 2,4 bilhões tanto para pessoas jurídicas quanto para pessoas físicas. Os empréstimos vão de R$ 100 a R$ 350 mil, mas, na média, ficam em R$ 12,5 mil.
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O Mercado Livre quer potencializar ainda mais esses números utilizando a sua base de usuários. Nos últimos 12 meses, a companhia registrou 11 milhões de vendedores únicos e 52 milhões de usuários ativos. Para completar, foram mais de um milhão de maquininhas somente no último trimestre – que também significa uma outra forma de emprestar dinheiro para os empresários.
A inadimplência, segundo Oliveira, não teve grandes aumentos com a pandemia. Ao contrário: como a empresa empresta, em sua maioria, para varejistas com foco no digital, muitos tomaram crédito para aumentar as operações. Seja para prazos curtíssimos, de sete dias, até de períodos bem mais longos. Aqueles que tomaram crédito para as lojas físicas, contudo, têm sofrido mais.
Te cuida, Nubank?
O Mercado Livre pode ser considerado um dos maiores destaques do ano no continente – se não, o maior. No segundo trimestre, por exemplo, a companhia cresceu em todas as métricas: vendas de mercadorias (+49%), receitas (+61%), lucros (245%) e usuários únicos (45%). Durante um mês, inclusive, a companhia se tornou a mais valiosa da América Latina, ultrapassando a mineradora Vale a estatal Petrobras.
O Mercado Pago seguiu nessa toada: alta de 72%. Então, com essa linha de crédito vitaminada pelo Goldman Sachs, os resultados devem crescer trimestre após trimestre. E Oliveira quer incomodar as fintechs que já estão consolidadas nesse mercado, como Nubank e Neon.
Aliás, as empresas de tecnologias estão mudando completamente esse mercado. Não basta ser somente uma varejista eletrônica ou a fornecedora de cartão de crédito. Tem que ser tudo isso e muito mais. Presidente da Creditas, o espanhol Sergio Furio deu uma definição precisa em entrevista ao CNN Business.
“Cada vez mais, os ‘Itaús’ se tornarão ‘Mercados Livres’ e os ‘Mercados Livres’ se tornarão ‘Itaús’”, diz o executivo.
Então, as fintechs precisarão prestar cada vez mais serviços para os seus clientes. E o potencial do Mercado Pago é gigantesco. Um exemplo de fora ajuda a ilustrar isso. O Ant Group, fintech do Alibaba em moldes similares que o Mercado Pago é do Mercado Livre, deve ter o maior IPO da história em breve ao levantar quase US$ 30 bilhões.
Hoje, cerca de 54% de todo o comércio eletrônico chinês, passa pela plataforma. Em dólares, é o equivalente a US$ 7,6 trilhões por ano. Ou seja, um portento.
Não por acaso, a criatura deve ultrapassar a cria – o Alibaba levantou ‘somente’ US$ 19,3 bilhões em seu IPO.
O Mercado Pago vai seguir esse mesmo caminho independente? “Nós acreditamos que somos mais fortes com o Mercado Livre e o Mercado Pago juntos”, diz Oliveira. A conferir.
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