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    Pandemia aumenta número de inadimplentes no Brasil: veja qual conta priorizar

    Com o avanço da pandemia de coronavírus, mais famílias têm entrado na inadimplência

    Manuela Tecchio, , do CNN Brasil Business, em São Paulo

    A crise gerada pela pandemia do novo coronavírus é sem precedentes. Enquanto a projeção para o PIB brasileiro em 2020 é de queda de quase 6%, para as famílias, o cenário é de aumento de endividamento. No início de maio, por exemplo, a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), realizada pela Confederação Nacional do Comércio (CNC), constatou que passa de 66% o índice de famílias endividadas por cartões de crédito.

    Mas, quando o dinheiro não dá para cobrir tudo, o que vale a pena pagar primeiro? Qual tipo de dívida vai dar mais dor de cabeça? E o que fazer para se organizar financeiramente, mesmo sabendo que alguma conta vai ter que ficar para trás? Para entender como organizar as contas em um período tão atípico para a economia – e finanças pessoais – CNN Brasil Business conversou com especialistas e fez uma lista de prioridades para as despesas essenciais do brasileiro, com suas respectivas multas, juros e prazos até o corte de serviço. 

    Para a consultora de finanças pessoas e especialista em mercados financeiros da Universidade Presbiteriana Mackenzie Cilene Vieira, antes de deixar de pagar qualquer dívida, é essencial apertar o cinto e estruturar um planejamento financeiro.

    “Sempre aconselho a mudar o consumo e adaptar o estilo de vida. Se você chega ao ponto de não poder pagar uma conta, é porque em algum momento você extrapolou sua faixa de consumo. Suas contas fixas precisam estar muito bem anotadas. Essas despesas precisam ser as primeiras da lista de prioridades”, explica.

    Entre os gastos que podem ser cortados, diz a especialista, estão compras mais supérfluas – itens que não são considerados essenciais. Se mesmo assim, o dinheiro estiver curto, existe uma forma muito simples de entender qual boleto vai dar mais dor de cabeça: aquele que cobrar mais juros.

    Vieira ressalta, porém, que a situação econômica atípica, induzida pela pandemia, fez mesmo os mais organizados financeiramente sofrerem. “É muito incomum o que a gente está vivendo. Quem é que tem reserva de emergência para ficar mais de seis meses sem renda no Brasil? Então mesmo quem tem um bom padrão de vida, vai precisar se adaptar.”

    Cartão de crédito e cheque especial

    Por ter um dos juros mais altos do mercado, esse é o tipo de conta que não é aconselhável postergar.  “Quando você sabe que não vai conseguir pagar a fatura, ligue para o banco ou empresa antes de chegar a data do vencimento e negocie. Mesmo no caso do cartão de loja. Uma simples ligação pode resolver.”

    Desde o início deste ano, os juros cobrados pelos bancos para o uso do limite do cheque especial, historicamente abusivos, está limitado por diretrizes do Conselho Monetário Nacional (CMN). Na medida, que passou a valer em janeiro de 2020, ficou determinado que as instituições financeiras não podem cobrar taxas superiores a 8% ao mês pelo serviço — ainda assim um valor alto, que equivale a 151,8% ao ano.

    Já entre os cartões de crédito, a bola de neve pode crescer ainda mais rápido. De acordo com dados do Banco Central (BC), a taxa de juros do rotativo — para quem paga pelo menos 15% da fatura antes do vencimento — pode chegar a 790% ao ano, em algumas instituições financeiras do Brasil. 

    Por isso, na opinião de Vieira, essas são as duas principais contas que devem ser pagas religiosamente, sem desculpas. Se for o caso, é melhor pegar um empréstimo junto ao banco para quitar a fatura. “Juros compostos só é bom pra quem recebe. Qualquer empréstimo que você pegar vai ter condições melhores que os juros do rotativo. Parcele a dívida com o banco e cancele o cartão.”

    Aluguel

    “Eu sempre olho para o aluguel como uma das prioridades, porque é bem difícil de negociar. A imobiliária geralmente é inflexível, porque saber que vai ter que pagar o mesmo valor para o proprietário”, diz Vieira. 

    Mas, em tempos de pandemia, a situação tem ficado um pouco diferente: inquilinos passaram a solicitar a redução do aluguel de suas casas pelo período de 60 à 90 dias. Nas imobiliárias de São Paulo, por exemplo, os pedidos de acordo de aluguel cresceram em 40%.

    Já em situações que a negociação não seja possível, a especialista indica o acesso ao crédito para que a dívida não vire uma bola de neve. Segundo Vireia, como a Selic, taxa básica de juros, chegou ao menor patamar da história, é um momento favorável para recorrecor ao crédito. 

    Além disso, o Copom ainda admite que é possível que haja um novo corte na próxima reunião, mas não maior do que o realizado atualmente. Ou seja, a taxa de juros ainda pode ter um corte para até 2,25% no próximo encontro.

    Telefone e internet

    Por conta da essencialidade do uso de serviços de telecom durante a pandemia — já que boa parte dos brasileiros tem trabalhado de casa, em sistema de home office —, essas são contas que também valem a pena serem quitadas em dia, na opinião de Vieira. Até porque esses são um dos primeiros serviços a serem cortados em caso de inadimplência.

    A maioria das operadoras, inclusive, está disposta a negociar o valor do serviço. É o que recomenda a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel). “Orientamos um primeiro contato com as operadoras, para uma negociação caso a caso. Caso o cliente não receba uma resposta adequada à sua demanda, deve encaminhar suas reclamações à Anatel, por meio do nosso site”, disse a assessoria.

    De quanto é a multa? De 2% sobre o valor total da fatura, mais a correção monetária e uma mora, que não pode ser superior a 1% ao mês.

    Como funciona a suspensão? Após 15 dias de atraso na fatura, há a redução do pacote de dados. Após 30 dias de suspensão parcial, a operadora pode cortar completamente o serviço por mais um mês. Depois disso, o contrato é rescindido e o cliente pode ser negativado junto às agências de proteção ao crédito.

    Luz

    Em função da pandemia de coronavírus, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) proibiu, por 90 dias contados a partir do fim de março, o corte no fornecimento de energia por inadimplência de consumidores residenciais e de serviços essenciais, como os hospitais. A medida temporária, entretanto, não impede outras sanções, como a negativação do cliente em cadastros de crédito.

    De quanto é a multa? No máximo, 2% do valor da fatura. Correção monetária, juros e mora obedecem ao limite de 1% ao mês.

    Água

    Em São Paulo, a Companhia de Saneamento Básico do Estado (Sabesp) isentou mais de 2 milhões de pessoas de baixa renda do pagamento das contas. A medida vale para a fatura de abril, maio e junho de 2020, período em que também não serão realizados cortes no fornecimento de água para os beneficiários da tarifa social que já haviam contraído dívida com a Sabesp. 

    Para os demais consumidores, a Companhia ampliou prazo para medidas de cobrança e tem disponibilizado negociações especiais através do site. 

    De quanto é a multa? Em caso de inadimplência, as penalidades por atraso de pagamento são cobrança de 2% sobre o valor da dívida e atualização monetária com juros de mora de 0,033% ao dia.

    Já no Rio de Janeiro, a Companhia Estadual de Águas e Esgotos (Cedae) ofereceu prazo de 60 dias para pagamento das contas de abril e maio a todos os consumidores, sem cobrança de multas, além de permitir o parcelamento. Também suspendeu a cobrança das faturas, por 90 dias, para os clientes de tarifa social e comércios de pequeno porte.

    Enquanto durar a pandemia, a Cedae também garante que não vai suspender o abastecimento e nem negativar seus clientes inadimplentes.

    Gás

    Outra companhia que vai suspender os cortes motivados por inadimplência é a Agência Reguladora de Saneamento e Energia do Estado de São Paulo (Arsesp). A medida temporária, que tenta amenizar os efeitos da pandemia de Covid-19 junto aos clientes da Arsesp, é válida até o fim do mês de maio, a princípio. Ainda assim, o atraso está sujeito à multa.

    De quanto é a multa? A taxa de juros diária e a multa não podem ser superiores, respectivamente, a 0,033% e 2%. 

    Como funciona a suspensão? Após 31 de maio, a Arsesp deve voltar a efetuar cortes no fornecimento de gás para quem atrasar o pagamento da fatura em mais de 30 dias, no caso de pessoas físicas, ou 15 dias, para as empresas. 

    No Rio de Janeiro, a Naturgy também suspendeu o corte por inadimplência do fornecimento de gás natural canalizado. A medida excepcional vale para residências, pequenos comércios, microempreendedores individuais e serviços médico-hospitalares.

    No entanto, a Naturgy orienta aos clientes a quitarem suas contas, se possível. “Caso possam honrar com suas faturas, evitem adiar seus pagamentos, contribuindo para a garantia da continuidade da prestação do serviço, além de não comprometerem o orçamento familiar no futuro próximo”, disse a assessoria da empresa.

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