Real atinge nível extremo de desvalorização, mas fundamento melhora, diz FGV
A depreciação do real foi tão intensa que acabou provocando uma reação mais rápida das métricas de fundamentos referentes às contas externas
Os fundamentos para a taxa de câmbio melhoraram recentemente, depois de o real ter fechado abril com nível extremo de desvalorização, comparável aos piores números de 2015 e entre os mais intensos desde a década de 1980, conforme o mais recente estudo da Fundação Getulio Vargas (FGV) sobre o tema, antecipado à Reuters.
Segundo Emerson Marçal, coordenador do Centro de Macroeconomia Aplicada da Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (FGV EESP), que elaborou a análise, a depreciação do real foi tão intensa que acabou provocando uma reação mais rápida das métricas de fundamentos referentes às contas externas –alvo do estudo. Esse foi um dos fatores, segundo ele, que ajudou na valorização da divisa brasileira desde então.
A taxa de câmbio real de equilíbrio –que mede o desempenho da moeda brasileira contra uma cesta de divisas e ajustada pela inflação– fechou abril desvalorizada, em média, em cerca de 33% ante à linha de fundamentos, de acordo com a análise. Todos os modelos estimados sugerem que a moeda brasileira está mais fraca que o sugerido pelos fundamentos. O intervalo de desalinhamento vai de -40% a -22,8%.
“Os principais fatores para a depreciação excessiva da moeda são o aumento do risco global e doméstico por conta da pandemia”, disse o estudo.
Em abril, a taxa de câmbio nominal do dólar contra o real subiu 4,69%, depois de disparar 15,92% em março. Em meados de maio a cotação bateu recorde histórico, mas posteriormente passou a cair e fechou o mês em queda de 1,79%. No acumulado de junho, a divisa cai 3,91%, de acordo com dados da véspera, quinta-feira.
Segundo Marçal, o modelo aponta que a taxa de câmbio real está em patamar compatível com situação relativamente mais favorável para o balanço de pagamentos.
“A saída de capital aparentemente acalmou, o ajuste no estoque no balanço de pagamentos parece acalmar. Num prazo mais longo, se você não tiver inflação –algo ligado à questão fiscal–, não teria por que o câmbio nominal continuar depreciando”, disse.
Marçal, porém, cita riscos ao câmbio nominal, sobretudo relacionados à política fiscal e a incertezas políticas.
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