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    Preços mais altos devem evitar desabastecimento de energia, diz Adriano Pires

    Enquanto o ambiente para novos investimentos não melhorar, deveremos conviver com ameaças de desabastecimento e tarifas muito altas para os consumidores

    Thais Herédiada CNN

     

    A discussão sobre a MP da Eletrobras avança na Câmara dos Deputados, mas a tão esperada autorização para privatizar a estatal chega ao mesmo tempo em que o país enfrenta riscos no abastecimento de energia. A primeira parte da conta desta ameaça já chegou, com adoção da bandeira vermelha, nível 1, nas tarifas de energia. 

    Enquanto o ambiente para novos investimentos não melhorar, deveremos conviver com ameaças de desabastecimento e tarifas muito altas para os consumidores. O alerta da crise energética foi feito pelo próprio presidente Jair Bolsonaro, apontando para o menor nível de água nos reservatórios das usinas hidrelétricas em mais de 90 anos.

    Para o especialista no setor elétrico Adriano Pires, o Brasil depende de “São Pedro, para fazer chover”, ou de investimentos no parque gerador de energia. 

    “A bandeira vermelha deveria estar acionada desde janeiro. E, do jeito que estão os reservatórios das usinas, ela vai precisar ficar assim pelo menos até o final do ano. As térmicas mais caras já foram acionadas para atender à demanda por energia. As mais baratas, que são movidas a gás natural, estão lidando com aumento de 39% anunciado há poucos dias pela Petrobras”, explica o presidente do Centro Brasileiro de Infraestrutura, o CBIE. 

    Pires afirmou à CNN que não adianta mais culpar as medidas equivocadas adotadas pela ex-presidente Dilma Rousseff em 2012. De lá para cá, o país poderia ter avançado na capacidade de geração de energia mais segura, com preços menos voláteis e que permitissem a recuperação dos níveis dos reservatórios das usinas hidrelétricas, que respondem por 70% do abastecimento nacional. 

    “Energia não é uma coisa elástica, você não consegue gerar do dia para noite. Depende de muito investimento, planejamento. Não adianta mais culpar o que aconteceu há 9 anos. Os parques eólicos e solares aumentaram muito a capacidade do sistema, mas são intermitentes e dependentes do vento e do sol, assim como as usinas dependem da chuva”, aponta Adriano Pires. 

    Aqui entra o debate sobre a MP da privatização da Eletrobras, muito aguardada por investidores e empresas que já operam no setor elétrico brasileiro. A estatal é a maior geradora e distribuidora de energia do Brasil e perdeu capacidade de fazer investimentos no volume necessário para acompanhar o desenvolvimento do país e garantir crescimento econômico sem riscos. 

    “Toda MP tem coisa boa e coisa ruim. Ainda não vimos o relatório final do relator na Câmara. O investidor ainda mostra interesse, mas nós demoramos tanto para autorizar a privatização que a aprovação da MP chega num momento ruim, com incertezas sobre a crise energética e de muita instabilidade política”, alertou o economista. 

    O cientista político Cristiano Noronha, sócio da Arko Advice, disse à coluna que a MP da Eletrobras deve ser aprovada na Câmara até o final da próxima semana. Se este prazo for cumprido, haverá tempo razoável para que o Senado aprecie o projeto. 

    “O texto que sair da Câmara nós podemos considerar que já passou por um crivo político importante, inclusive por parlamentares do Norte e do Nordeste, regiões que têm muito interesse na Eletrobras. O governo está tentando manter pontos importantes da MP original e, no limite, pode vetar o que for aprovado se despertar insegurança.” 

    Para o cientista político, o sucesso do leilão das áreas de concessão de saneamento básico que eram da Cedae, no Rio de Janeiro, demonstra que o Congresso acertou na aprovação do marco regulatório do setor e também na manutenção dos vetos do presidente Bolsonaro que garantiram interesse na disputa.

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