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    Futuro econômico dos EUA está em jogo na Geórgia, e investidores estão aflitos

    Uma vitória dos democratas abriria a porta para um estímulo fiscal mais poderoso, mas também elevaria o risco de aumento de impostos corporativos

    Foto: REUTERS/Andrew Kelly

    Matt Egan, CNN Business, em Nova York

    A Geórgia não é apenas o centro do universo político hoje. É o palco central em Wall Street também.

    O segundo turno das eleições para duas vagas vai decidir o controle do Senado dos Estados Unidos – e isso por sua vez tem um papel fundamental na definição da recuperação econômica, bem como no ambiente de investimento.

    “Essas eleições são as mais cruciais possíveis para a política fiscal, tributária e regulatória nos próximos dois anos”, escreveu Chris Krueger, analista de políticas da Cowen Washington Research, a clientes em um relatório na segunda-feira (4).

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    Uma vitória dos democratas abriria a porta para um estímulo fiscal mais poderoso, do qual a economia instável pode muito bem precisar. Mas também aumentaria o risco de aumento de impostos corporativos que os investidores desprezam.

    Até recentemente, esperava-se que os republicanos mantivessem o controle do Senado ao vencer pelo menos uma das duas disputas na Geórgia.

    No entanto, as chances de os democratas retomarem o Senado aumentaram nos mercados de previsão nos últimos dias e semanas, um ponto para o qual os investidores estão apenas começando a acordar.

    Se o partido Democrata ganhar na Geórgia, ele controlará efetivamente o Senado, a câmara alta do Congresso, com a vice-presidente eleita Kamala Harris dando o voto decisivo para quebrar qualquer impasse de 50 a 50. Nos EUA, o vice-presidente exerce a função de presidente do senado.

    “O controle do Senado é uma chance de 50% em qualquer direção”, escreveu Ed Mills, analista de política da Raymond James em Washington, em nota aos clientes na segunda-feira (4).

    Apostadores no PredictIt, um mercado de previsões, estão apostando apenas US$ 0,55 para ganhar US$ 1 se o partido Republicano mantiver o controle do Senado. Isso é uma queda acentuada frente aos US$ 0,87 no dia da eleição e de US$ 0,75 no final de dezembro.

    Dada a “natureza totalmente inédita” da eleição, “a disputa na Geórgia” é quase um “cara ou coroa”, disse Krueger.

    Trump aumenta a incerteza

    As perspectivas do Senado estão sendo ainda mais turvas pela revelação bombástica de que o presidente Donald Trump pressionou as autoridades da Geórgia para “encontrar” 11.780 votos que reverteriam sua derrota no estado.

    “Isso não ajuda em nada os republicanos”, afirmou Greg Valliere, estrategista-chefe de política norte-americana da AGF Investments.

    Ele acrescentou que os esforços de Trump para lançar dúvidas sobre a integridade da eleição “podem ter confundido” os eleitores republicanos na Geórgia – exatamente quando é preciso que eles votem.

    Os investidores também podem estar confusos.

    As ações EUA subiram nos EUA após o dia das eleições, em 3 de novembro, em parte porque Wall Street acreditava que nenhuma das partes estaria firmemente no comando do governo federal. O pensamento era de que o próximo governo seria impedido de implementar políticas fiscais e climáticas abrangentes por um Senado liderado pelo Partido Republicano.

    No entanto, Wall Street agora está se preparando para a possibilidade de que possa haver menos entraves em Washington do que se pensava anteriormente. Há pontos positivos e negativos para os investidores.

    Logo, as ações caíram acentuadamente na segunda-feira (4) e alguns analistas apontaram para a incerteza sobre a Geórgia como motivo.

    “A possibilidade de Kamala Harris ser a responsável pelo desempate em qualquer questão parada no Senado deixa os investidores nervosos no curto prazo”, relatou Lindsey Bell, estrategista-chefe de investimentos da Ally Invest.

    Receio exagerado com impostos

    O grande medo dos investidores é que a perda do partido Republicano na Geórgia abra caminho para escalada de impostos, que poderia atrapalhar a recuperação econômica. Em teoria, os democratas poderiam usar a reconciliação orçamentária para promulgar mudanças radicais nas políticas com votos partidários.

    Alguns analistas dizem, porém, que os temores de aumentos de impostos imediatos são exagerados, dadas as realidades econômicas e políticas do momento.

    “Não sinto ânimo no Congresso para agir rapidamente sobre os impostos até que as pessoas tenham certeza de que a economia se recuperou”, disse Valliere.

    É preciso lembrar que um empate 50 a 50 no Senado dos EUA dificilmente reflete a “onda azul” (ou onda democrata) que os progressistas esperavam. Todos os 50 democratas teriam que aprovar a legislação — incluindo moderados como Joe Manchin, da Virgínia Ocidental.

    “Manchin não passaria um cheque em branco para os democratas”, opinou Valliere.

    Michael Cembalest, presidente de estratégia de mercado e investimento do JPMorgan Asset Management, concorda que os democratas podem achar “difícil” aprovar as propostas de impostos e gastos de Biden por maioria “muito estreita” no Senado e na Câmara. Ele acrescentou que Manchin está “ideologicamente mais próximo dos republicanos moderados do que dos democratas progressistas”.

    Quanto mais ajuda para a economia?

    Ao contrário dos aumentos de impostos que preocupam os investidores, a possibilidade de uma nova rodada de ajuda econômica traz alívio para quem investe.

    No fim do mês passado, o Congresso aprovou um pacote de ajuda federal de US$ 900 bilhões para pequenas empresas e famílias.

    O agravamento da pandemia e o início lento da distribuição de vacinas sugerem que a economia pode muito bem precisar de mais ajuda nos próximos meses. Mas, com os republicanos fora do poder executivo, o partido agora está sinalizando preocupação com o crescente déficit orçamentário federal. Se o partido Republicano mantiver o controle do Senado dos EUA, pode haver pouco apetite por outra rodada de ajuda federal substantiva.

    “Um Senado dirigido pelos democratas pode significar que um estímulo maior estará a caminho para garantir que a recuperação volte aos trilhos”, afirmou Bell, de Ally.

    O presidente eleito Joe Biden pediu US$ 3 trilhões em gastos com infraestrutura para acelerar a economia e reconstruir estradas, pontes e aeroportos em ruínas.

    Analistas disseram que o plano de Biden é uma possibilidade real se os democratas tomarem a Geórgia. Do contrário, pode ser difícil convencer o Congresso a gastar até US$ 1 trilhão em infraestrutura.

    “Os investidores veriam os grandes gastos em infraestrutura como um fator positivo para o mercado”, disse Bell.

     

    (Texto traduzido, clique aqui para ler o original em inglês)