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    Autônomos: 8 dicas para atravessar a crise e proteger suas finanças

    Trabalhadores informais têm renda afetada pela paralisação de alguns setores, imposta pela pandemia do coronavírus; saiba como minimizar riscos financeiros

    O produtor Matheus Cavalcanti, a cabeleireira Bianca Hulmann e o maquiador Patrick Pontes: menos trabalho durante a crise do coronavírus 
    O produtor Matheus Cavalcanti, a cabeleireira Bianca Hulmann e o maquiador Patrick Pontes: menos trabalho durante a crise do coronavírus  Foto: Arquivo pessoal

    Luís Lima Do CNN Brasil Business, em São Paulo

    A paralisação do setor de entretenimento afetou em cheio a renda do produtor Matheus Cavalcanti, de 23 anos. Trabalhador autônomo, o potiguar, radicado no Rio de Janeiro, conta que já perdeu ao menos três trabalhos, entre eventos cancelados ou adiados – incluindo o Lollapalloza – por causa do coronavírus. O prejuízo estimado por Cavalcanti é de R$ 25 mil.  

    “Quem trabalha como freelancer, como eu, está acostumado a ficar períodos de tempo sem trabalhar. O problema dessa vez é que há muitas incertezas sobre quanto tempo isso vai durar”, disse Cavalcanti ao CNN Brasil Business

    Cavalcanti diz que sua renda oscila entre R$ 2 mil, em um mês ruim, e R$ 12 mil, em um mês “excepcional”. Na média, fatura R$ 6 mil mensais, e gasta, aproximadamente, R$ 5 mil: R$ 1,8 mil em aluguel e o R$ 3,2 mil em contas e despesas adicionais. O valor de R$ 1 mil que sobra, ele poupa para fortalecer uma reserva para períodos de crise – uma das recomendações para blindar a instabilidade sofrida por autônomos em períodos como o atual. 

    No segmento de beleza, a empresária e cabeleireira paulistana Bianca Hulmann, de 23 anos, prevê um rombo de R$ 15 mil com a decisão fechar o seu salão por uma semana. “É um dinheiro que fará diferença. Como alternativa, vou lançar um curso online para reforçar a renda”, conta.

    Já o maquiador cearense Patrick Pontes, de 34 anos, evita fazer cálculos e não tem plano B. “Não tenho reserva e os boletos não param. Publicidade, eventos, e mesmo clientes a domicílio estão cancelando trabalhos. Tenho medo de por na ponta do lápis e entrar em pânico”, diz.

    Os impactos da pandemia nas finanças dos autônomos

    Assim como os casos de Matheus Cavalcanti, Bianca Hulman e Patrick Pontes, mais de 24 milhões de trabalhadores por conta própria, como como microempreendedores individuais (MEIs) e freelancers, terão suas rendas reduzidas como consequência da pandemia. Isso porque muitos deles não conseguem realizar serviços de home office. Além disso, outros tantos recebem pelo dia trabalhado. 

    Em São Paulo, seis entre dez empreendedores estão “muito preocupados” com os impactos econômicos do novo coronavírus, mostra uma pesquisa realizada pelo Sebrae-SP com 1509 donos de empresas do Estado. O levantamento ainda mostra que 83% dos donos de pequenos negócios acreditam que sua empresa será afetada pela pandemia. 

    Como medida de proteção, o governo federal anunciou na quarta-feira (18) medidas para minimizar os efeitos da crise. Entre elas, estão a concessão de um auxílio mensal de R$ 200 a profissionais autônomos, como parte de um pacote de R$ 15 bilhões a pessoas consideradas mais vulneráveis, que inclui desempregados. 

    Para ajudar a estruturar as finanças de quem se encontra nesta situação, o CNN Brasil Business conversou com o professor de Finanças do Insper Ricardo Rocha. Confira, a seguir, oito dicas para organizar sua vida financeira e atravessar períodos de crise sem grandes solavancos.

    1- Estime gastos fixos 

    Esta é a regra básica para quem quer iniciar um planejamento financeiro. Se você não sabe identificar seus gastos e estimá-los, será muito difícil conseguir estabelecer uma reserva de emergência. 

    Quanto maior a exatidão do seu controle financeiro, melhor para seu fluxo de caixa pessoal. Assim, você poderá “se pagar”, ou seja, destinar parte do que recebe para um fundo de emergência. Assim, evitará gastos supérfluos. 

    “Calcular o fluxo de caixa, de março a dezembro, e quantificar gastos fixos, como aluguel e suprimentos básicos, é a regra número um”, diz Rocha. 

    2- Corte supérfluos 

    Não é fácil, mas em tempos de crise e de renda encurtada, fazer cortes com coisas desnecessárias é o primeiro passo para conseguir o equilíbrio financeiro. 

    Diminuir o pacote de TV por assinatura, banda larga de internet ou reduzir o plano do celular, por exemplo, são algumas medidas sugeridas pelo professor do Insper. 

    O foco deve ser a redução de gastos que não gerem multas ou outros tipos de penalidades. É importante redobrar a atenção com gastos já contratados, e que podem ter juros altos, como o cartão de crédito.
    Mas, atenção: cortar despesas desnecessárias não significa deixar de investir no que te traz satisfação. O objetivo é, justamente, cortar custos extras e que não agregam para sua situação financeira atual.   

    3- Reserva de emergência

    Com os cortes feitos e o planejamento financeiro em mãos, o próximo passo é entender o quanto é possível deixar guardado para reserva financeira. 

    Segundo o professor do Insper Ricardo Rocha, o ideal é ter guardado em uma reserva de emergência entre 6 e 18 meses do seu orçamento mínimo. Caso não seja possível, comece com três meses e, aos poucos, expanda para o período ideal. Assim, você evitará dor de cabeça no futuro. 

    Mas, se o seu atual momento não contemplar nenhuma verba para emergência, o especialista recomenda a obtenção de crédito, preferencialmente de prazo longo e sem taxas de juros altas.  

    4- Apele ao governo 

    Para ajudar pessoas nessa situação, o governo federal anunciou o “coronavoucher”, um auxílio mensal de R$ 200 a profissionais autônomos durante a crise do coronavírus, em um total de recursos de R$ 15 bilhões. 

    Outra medida de apoio ao setor produtivo é a suspensão temporária do pagamento de impostos como o FGTS e o INSS. “É preciso se informar e reivindicar tudo o que puder aliviar esse momento turbulento.”  

    5- Seja conservador 

    Se decidir aplicar parte do dinheiro de sua reserva (quando ela existir), prefira opções de baixo risco e alta liquidez. Exemplos são os fundos DI, títulos públicos, poupança e CDBs de bancos. 

    Arriscar-se na renda variável, com a compra de ações, por exemplo, não é a melhor saída neste momento. Ainda mais se o dinheiro usado for da reserva de emergência. “A Bolsa está muito instável e trata-se de um investimento de longo prazo”, lembra Rocha.  

    6- Adie planos que darão gastos extras 

    Em tempos de crise, é preciso planejar muito bem antes de fazer investimentos que darão gastos extras. Reformas e troca de móveis e equipamentos para a sua casa e que não sejam urgentes, por exemplo, podem esperar. 

    “É muito comum, entre pequenos empreendedores, a mistura entre o pessoal e o profissional. Em momentos de crise como esse, a cautela deve ser redobrada, e o dinheiro, poupado, para fortalecer reservas”, recomenda Rocha. 

    7- Foque na renda extra  

    Adaptar sua atividade dentro de casa pode ser um subterfúgio para minimizar prejuízos. Oferecer curso online, como a cabeleireira Bianca, é uma alternativa concreta e criativa. 

    Quando isso não for possível dentro da sua área de profissão, uma saída é pensar em funções correlatas que possam garantir uma renda extra. Além disso, existem aplicativos e sites que vendas online podem ajudar você a se desfazer do que não usa mais, e ainda conseguir uma verba a mais para a reserva de emergência. 

    8- Não demore 

    Procrastinar a redução de custos pode ser pior no médio prazo. Por exemplo, se não tiver recursos para manter todos os funcionários e você não enxergar melhora no curto prazo é preferível dispensá-los assim que possível. Dessa forma, você garante uma sobrevida ao empreendimento. 

    No caso de Bianca, que tem dois funcionários, a opção foi por afastá-los temporariamente, e manter o pagamento regular. “Quando há dúvidas se a atividade pode ser retomada nos próximos dias, é bom ter esse cuidado, para ajudar a economia seguir girando e não prejudicar os mais frágeis”, pondera Rocha.