Além de Porto Seguro: Forma Turismo quer expandir para EUA, Europa e planeja IPO
A média de cancelamentos, que era de 15%, 16%, por causa da pandemia subiu para 19%, 20%, mas a empresa garante que estes números estão diminuindo
#PortoTodoDia. Esse costuma ser o mantra de milhares de jovens por todo o Brasil durante seu último ano de ensino médio. Isso porque rola, normalmente nas férias de julho, a tão sonhada viagem para Porto Seguro, operada pela Forma Turismo há mais de duas décadas (e por outras agências em menor escala).
Com a pandemia do novo coronavírus, o setor de Turismo sofreu um baque grande e imagina-se que esse tipo de gastos deixou de ser prioridade nas famílias brasileiras, certo? A CVC, por exemplo, viu suas receitas caírem 99%. Já Renato Costa, sócio-diretor da Forma, disse em entrevista ao CNN Brasil Business que a procura pelo seu produto principal aumentou.
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“Tínhamos vendido cerca de 30 mil pacotes para Porto Seguro no ano passado e este ano já vendemos 46 mil”, afirma. “Eu estava esperando 25 mil, mas vendemos quase o dobro e sabemos que vai aumentar bastante assim que tivermos um horizonte mais claro, com vacina.”
A média de cancelamentos, que era de 15%, 16%, por causa da pandemia subiu para 19%, 20%, mas a empresa garante que estes números estão diminuindo (as viagens custam, em média, R$ 4,2 mil). As receitas também sofreram baque de cerca de 15%. O gestor acredita, no entanto, que, como reduziu 30% dos seus custos fixos durante o período, estes números devem se equilibrar.
“Tínhamos mais de 30 lojas antes da pandemia e vimos que algumas delas, que nem eram em capitais, já não faziam sentido para a operação pelo número de passageiros”, diz. “Também suspendemos contratos e diminuímos a carga horária de funcionários. Mas em julho já retomamos para preparar para o lançamento do ano que vem.”
É claro que agora a coisa já deu uma acalmada, mas Costa confessa que bateu um desespero nos primeiros meses de pandemia. E o problema ainda não está todo resolvido. O grupo de 2020 foi transferido para fevereiro e março de 2021, datas que ainda não puderam ser confirmadas. O deadline para novo adiamento é dezembro.
Ajudando clientes e parceiros
“Logo que começou a pandemia, tivemos uma onda de cancelamentos, alguns pais pela incerteza da questão de saúde, outros por questões econômicas mesmo”, diz. “Esses fizemos de tudo para ajudar. Propusemos até congelar os pagamentos que foram parcelados durante várias vezes”
Hotéis e companhias aéreas também foram auxiliadas, estes podendo manter as parcelas que já haviam sido transferidas. Da mesma maneira que o cliente está comprando uma viagem para julho do ano que vem, a Forma também começa a pagar os fornecedores com antecedência, explica Costa.
As viagens também costumam contar com artistas e influenciadores, que, segundo o executivo, ainda não tinham sido contratados. As negociações foram retomadas no último mês de agosto.
Futuro
Renato afirma que enxerga no Conhecer, braço pedagógico da empresa, um dos pilares para os próximos anos. “É um grande apoio para as escolas e uma grande consolidação para a nossa marca. Temos um plano de investimento grande para esse braço da empresa.”
A empresa promove passeios como a visita à Maurício de Sousa Produções, ao turismo cívico de Brasília, entre outros, com a ideia de fortalecer a parceria que já possuem com as escolas e, não necessariamente, gerar lucro.
Nos planos do gestor, a palavra expansão também é forte. “Começamos a entrar no Chile e na Argentina, mas precisamos recuar por conta da pandemia. Então a ideia é voltar em 1, 2 anos no máximo”, diz. “E depois, com capital aberto, Europa e Estados Unidos que é a nossa meta. E com o mesmo público alvo.”
Esse processo de abertura de capital, no entanto, está bem no comecinho. “Acredito que vai ocorrer daqui 3, 4 anos.” Confira a entrevista completa:
Qual era a situação da Forma estava antes da pandemia? Quais adaptações vocês precisaram fazer?
Já estávamos num processo de diminuir nossa estrutura física por conta da digitalização. Antes, vendíamos tudo em loja física, com cheque. Hoje em dia não dá nem pra imaginar o que era feito. Começamos esse processo de digitalização criando um app em que os pais conseguem fazer tudo por lá, inclusive comprar as viagens, há dois anos.
E esse processo de transformação foi acontecendo gradualmente.Terminamos 2019 com mais de 70% das vendas já no online. Queríamos virar essa chave em 2020 e a pandemia nos forçou a tomar essa decisão mais rapidamente. As pessoas estão mais contextualizadas com o e-commerce, até aqueles que eram resistentes em comprar pelo celular e pela internet foram obrigados a comprar.
Então fizemos esse trabalho de mudança de mindset de toda nossa cadeia de vendas e também da parte tecnológica. A partir disso, começamos a perceber que, por conta da pandemia, não sabíamos o que ia acontecer com o setor de Turismo. Aproveitamos para fazer alguns cortes na estrutura, diminuir lojas.
Tínhamos mais de 30 lojas antes da pandemia, e a nossa intenção já não era aumentar esse número. Mas vimos que algumas lojas pequenas, que nem eram em capitais, já não faziam sentido para a operação pelo número de passageiros que vinham dessas cidades no pré-pandemia.
E agora, com o digital, não fazia o mínimo sentido, porque o pai não tem mais porque ir à loja fazer a compra. Com essa mudança, nosso custo fixo diminuiu mais de 30%. Aproveitamos também para suspender contratos e diminuir a carga horária de alguns funcionários. Mas em julho já retomamos tudo, mesmo com as lojas fechadas, para preparar para o lançamento do ano que vem.
Nossa expectativa era uma, e fomos surpreendidos com quase o dobro de vendas. Decidimos então acelerar essa transformação digital. Antes as vendas eram só pelo aplicativo, agora estamos nos tornando mais omnichannel, mais completos. Acredito que, guardadas as devidas proporções, o impacto na Forma foi bem menor do que podia ter sido.
O impacto foi de cerca de 15% nas receitas. Mas como as viagens ainda não foram entregues, não temos como apurar os resultados. E acredito que, como reduzimos bastante os custos fixos, isso vai acabar dando uma compensada.
De quanto foi esse incremento nas vendas para 2021?
Em 2019 levamos mais de 80 mil passageiros. Dentro disso, temos alguns produtos que são mais estratégicos do que rentáveis. Uma boa parte, quase 30 mil, são do Conhecer, nosso braço pedagógico. Um serviço que prestamos para as escolas sem visar lucro, mas sim oferecer saídas culturais.
Temos alguns parceiros exclusivos como visita à Maurício de Sousa Produções, turismo cívico de Brasília, uma série de produtos focados para essa parte de conhecimento. Esse braço realmente parou.
Como não tem aula presencial, obviamente não tem saída pedagógica para lugar nenhum. Mas o que fizemos foi ajudar as escolas com conteúdo. Disponibilizamos uma versão online todas as viagens de maneira gratuita, assim conseguimos manter parceiros, que é o mais importante, mas na parte de lucratividade não tivemos nada com esse setor.
No setor de viagens internacionais também prorrogamos tudo para o ano que vem, mas não era um movimento tão grande. Do total, essas viagens representam um pouco mais de mil passageiros.
Além do carro-chefe, que é a viagem de formatura do ensino médio, temos outro público forte, que é o da viagem de formatura do nono ano, modalidade que também temos parceria com vários resorts espalhados pelo Brasil.
Esse produto nós não vendemos, porque é uma viagem mais comercializada dentro das escolas, com o estabelecimento de ensino puxando para si a responsabilidade, oferecendo o produto para os pais. Então esperamos a retomada das aulas para voltar a vender. Vendemos quase 30 mil no ano passado e retomamos há 15 dias.
Porto Seguro, que é a viagem para alunos que estão se formando no ensino médio, tínhamos vendido 30 mil no ano passado e este ano já vendemos 46 mil. Eu estava esperando 25 mil, mas vendemos quase o dobro e sabemos que vai aumentar bastante assim que tivermos um horizonte mais claro, com vacina.
Vocês trabalham com alguma possibilidade de fazer viagens com medidas sanitárias mais duras ou até com algum tipo de distanciamento?
Toda a temporada de 2020, prorrogamos para fevereiro e março do ano que vem, depois do Carnaval. Esse grupo nos preocupa, porque está chegando perto e até agora não tem vacina, não tem uma solução mais palpável.
Temos um deadline até dezembro para decidir se adiamos mais uma vez. Mas a nossa vantagem é que vendemos um produto que é um sonho dessa meninada. Temos fretamento saindo de todas as capitais e criamos um produto que é referência para fechar esse ciclo que é o período escolar. Imagino que os pais tenham sofrido uma pressão muito grande dos alunos neste momento.
Logo que começou a pandemia, tivemos uma onda de cancelamentos, alguns pais pela incerteza da questão de saúde, outros por questões econômicas mesmo. Esses fizemos de tudo para ajudar. Propusemos até congelar os pagamentos parcelados durante vários vezes, o que reduziu a média de cancelamentos.
Anualmente temos uma média de cancelamento de 15%, 16% e por causa da pandemia estamos em 19%, 20%, mas essa média está diminuindo. Conforme a viagem vai chegando, mais pessoas vão retomando o otimismo e comprando. Muitos que cancelaram no começo voltaram e, assim que tivermos um horizonte mais positivo, os outros também deve voltar.
Como foi a negociação com fornecedores e parceiros?
Diferentemente do resto da cadeia de Turismo, que trabalha com faturamento, temos uma parceria muito sólida com hotéis, companhia aérea, porque pagamos tudo antecipado. Da mesma maneira que o cliente está comprando uma viagem para julho do ano que vem, também começamos a pagar os fornecedores.
Então, muitos deles já estavam com boa parte desse valor recebido e acredito que deve ter ajudado muito nesse período de seca. O que fizemos foi suspender as demais parcelas e continuar esse pagamento depois.
Com relação às atrações, ainda não tínhamos contratado. As negociações estavam começando, logo depois do carnaval, que foi quando parou tudo. Voltamos a contratar agora, no mês de agosto. Já estamos parcelando porque, por mais que não ocorra em fevereiro e março, temos certeza que vai ocorrer entre junho e agosto.
Acredita que o governo suportou bem o setor de turismo neste momento?
Avalio que a intervenção governamental foi bastante positiva, principalmente nesse setor trabalhista. Essa ajuda que eles deram com relação à suspensão de contratos, redução de carga foram fundamentais para salvar muitas empresas.
Comparado com outros governos, como o da Argentina, acredito que o Brasil foi até além do que eu esperava. Hoje estamos nessa situação de otimismo, mas no começo da pandemia deu um desespero grande. Será que vamos ter que devolver o dinheiro de todo mundo? Cancelar todas as viagens? Mas conforme as coisas foram passando, vimos que temos uma marca forte e fomos ficando mais tranquilos.
Tínhamos até começando um projeto em fevereiro com a Ernst&Young para implementar práticas de governança corporativa, visando uma abertura de capital para daqui há uns anos, e tivemos que suspender isso. Mas agora em agosto pudemos retomar.
Quais são os próximos passos da Forma?
Vejo a empresa avançando bastante nessa parte pedagógica. É um grande apoio para as escolas e um grande consolidação para a nossa marca. Temos um plano de investimento grande para esse braço da empresa.
Antes da pandemia também estávamos aumentando nossa participação na América do Sul. No Paraguai já estamos presentes há 3,4 anos. Também começamos no Chile e na Argentina, mas precisamos recuar. Então a ideia é voltar em 1, 2 anos no máximo.
E depois, com capital aberto, Europa e Estados Unidos que é a nossa meta. E com o mesmo público alvo.
Para quando a empresa imagina essa abertura de capital?
O processo de abertura de capital está bem no comecinho. Primeiro essa parte de governança, instaurando conselho executivo. Uma série de passos que temos até chegar no IPO. E acredito que vai ocorrer daqui 3 ou 4 anos.
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