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    Netflix levou quase 10 anos para dar lucro. O que esperar do Disney+?

    Segundo a Disney, o streaming deve se tornar lucrativo apenas em 2024, quando deve chegar também à marca de 240 milhões de assinantes

    Tamires Vitorio, do CNN Brasil Business, em São Paulo

    Quase 10 anos. Esse foi o tempo que a maior empresa de streaming do mundo levou para se tornar lucrativa —de 1997 a 2006, a Netflix investia tudo o que ganhava, sem deixar o suficiente em caixa.

    A empresa seguiu à risca o lema que diz que, para crescer, é preciso investir, além de, é claro, ter uma pitada de paciência. Foi em 2002 que a empresa fundada pelo empresário americano Reed Hastings abriu capital, com uma oferta inicial de US$ 15 por ação.

    Em 2007, a Netflix decidiu se aventurar de vez nos códigos de um serviço de vídeo por streaming, pouco parecido com o que utiliza atualmente. À época, em um setor menos competitivo, a forma de assinatura não era como agora, e os usuários precisavam pagar pelo tanto de horas que consumiam streaming no site. Também era necessário ter uma assinatura dos DVDs da companhia para conseguir ter acesso ao streaming.

    Naquele mesmo período, houve uma queda de 12% nas ações e o jornal americano “The New York Times” sentenciou: a Netflix estava à beira de um colapso. A preocupação do mercado não durou muito, e a previsão do jornal não se mostrou verdadeira.

    Ao longo do tempo, a companhia teve um crescimento linear, ao mesmo tempo em que investia em conteúdos próprios e na aprimoração de seus algoritmos. Agora, um ativo da Netflix custava mais de US$ 500, o que representa um aumento de mais de 3.000% em relação aos primeiros dias da companhia na Nasdaq.

    Isso significa que um investidor que comprou cerca de US$ 1.000 em ações da Netflix em 2002 teria 100 papéis durante a abertura do capital. Segundo a Nasdaq, com algumas divisões que ocorreram nos ativos, atualmente essa pessoa teria 924 ações da plataforma de streaming avaliadas em cerca de US$ 472 mil.

    “De 2015 a 2018, a companhia se endividou novamente para produzir conteúdo, mesmo sem ter lucro, mas os analistas previam que a empresa iria gerar caixa”, afirma André Kim, analista da gestora de fundos Geo Capital. “E as pessoas continuaram investindo, pensando no futuro da companhia”, explica.

    O que esperar do Disney+

    O mesmo deve acontecer com o Disney+, prevê o analista.

    Um braço ainda não lucrativo da quase centenária Disney, a plataforma de streaming alcançou a marca de 94,9 milhões de assinantes, mais do que o triplo registrado no mesmo período do ano passado. O número gigante, no entanto, ainda não foi revertido em capital.

    Mas, para Kim, o possível prejuízo no streaming do Mickey não gera preocupação. “Essa fase em que a Disney está, em especial com o streaming, é uma dor do crescimento. É impossível querer crescer sem perder dinheiro”, diz. “Para os acionistas, é muito mais uma questão de tempo, e o mercado já está precificando isso de antemão. Com a velocidade que a Disney está alcançando mais pessoas, o lucro pode vir muito antes do que o previsto.”

    Segundo a Disney, o streaming deve se tornar lucrativo apenas em 2024, quando deve chegar também à marca de 240 milhões de assinantes —a Netflix, principal concorrente do streaming do Baby Yoda, já bateu a marca de 203,6 milhões de pessoas que acessam a plataforma.

    O crescimento rápido do aplicativo é um incentivo para os investidores, segundo Kim, e inspira confiança por ser uma companhia consolidada em outras áreas, como os parques temáticos (segmento afetado duramente pela pandemia do novo coronavírus, que puxou os ganhos da companhia para baixo).

    Estratégias para driblar a pandemia

    Para driblar os cinemas fechados, a empresa lançou os longas “Hamilton” e “Mulan” direto no streaming. A princípio, para que os clientes pudessem assistir ao musical, era preciso pagar uma taxa mais barata do que a de um cinema tradicional.

    A estratégia deu resultado e foi utilizada por outras empresas. O filme “Mulher-Maravilha 1984” estreou simultaneamente na plataforma HBO Max e nas salas de cinema que já estavam abertas, por exemplo.

    Enquanto o lucro não vem, a Disney tenta tampar os buracos com a sua experiência em conteúdo original. A série “WandaVision” é um dos maiores exemplos do sucesso do modelo do streaming. Seguindo a vida de dois dos super-heróis que participavam dos filmes dos Vingadores, a série é lançada no mesmo modelo usado para a televisão, com um episódio por semana.

    Mesmo sem dar dinheiro ou ter uma audiência gigantesca como as das temporadas lançadas de uma vez para maratonar, como os seriados da Netflix, a estratégia traz tração na internet e gera curiosidade —toda semana, o nome da produção é um dos assuntos mais comentados no Twitter.

    As novidades vêm como uma forma de suavizar as perdas que aconteceram no ano passado. No último trimestre de 2020, a empresa  registrou uma receita de US$ 16,2 bilhões, queda de 22,1% em relação ao mesmo período de 2019, quando a receita registrada foi de US$ 20,8 bilhões.

    Kim acredita que a força da marca Disney fará com que a paciência dos investidores seja mais longa do que geralmente é.

    “Hoje a empresa está trabalhando para não dar prejuízo aos acionistas, e eu também acho que não vai dar, porque, se tem uma coisa que ela pode oferecer, essa coisa é conteúdo. Lucro, uma hora ele chega. A não ser que a empresa seja muito ruim, o que a Disney não é.” Nesta segunda-feira (1º), a companhia estava avaliada a US$ 351,88 bilhões.

    Se o Yoda, da saga “Star Wars”, pudesse dar um conselho para os investidores da Disney, com certeza ele seria: “Paciência você deve ter, meu jovem Padawan”.

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