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    ‘É cedo para falar de restabelecimento imediato da economia’, diz Ferraz, do BTG

    “Alguns setores parecem se recuperar mais rapidamente e quase desenhar o V completo”, explica. “Outras áreas, no entanto, foram desligadas durante a pandemia"

    Matheus Prado, do CNN Brasil Business, em São Paulo

    O mercado financeiro tem revisto suas perspectivas de queda para o PIB brasileiro em 2020. Exemplo disso é o relatório Focus, publicado pelo Banco Central, que vem revendo positivamente suas previsões durante as últimas sete semanas. Se no fim de junho as projeções eram de um tombo de 6,54%, na terceira semana de agosto esse valor já havia sido revisado para queda de 5,52%.

    No caso específico do BTG Pactual, o valor chegou a apontar para um encolhimento de 7% da economia nacional – algo que vem sendo reavaliado periodicamente pelo banco e que hoje está em 5,5%. Em entrevista ao CNN Brasil Business para a série Economia Pós-Pandemia, o economista-chefe Brasil da instituição, Cláudio Ferraz, afirma que os números em junho foram mais positivos do que o esperado.

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    “A produção industrial teve dados bons em junho, o varejo também. A priori o setor de serviços também deve crescer no mês”, diz. “Com isso, a contração que se esperava para o segundo trimestre parece hoje um pouco menor. Se a economia não sofrer outro baque com a pandemia, um risco que parece mais mitigado, a indicação é que a gente deva revisar este número para algo menos negativo.”

    Diante do cenário, Ferraz enxerga movimentos heterogêneos nesta retomada. A tão falada recuperação em “V” não foi descartada pelo BTG, mas o executivo acredita ainda é cedo para falar de restabelecimento imediato da economia como um todo. Ele defende, inclusive, que é preciso tomar um pouco de cuidado para não “ler demais” estes primeiros dados positivos.

    “Alguns setores parecem se recuperar mais rapidamente e quase desenhar o V completo”, explica. “Outras áreas, no entanto, foram desligadas durante a pandemia, estavam em estado de coma. Então é importante notar que haverá uma heterogeneidade no crescimento e na retomada.”

    Ele cita setores como turismo e aviação, que “dependem do distanciamento social”. O economista reitera que o governo pode até dar estímulos, mas se as pessoas continuarem temerosas, sem confiança para voltar a se aproximar, estes segmentos devem sofrer um pouco mais e dificilmente terão recuperação pujante.

    Riscos

    O executivo do BTG Pactual elenca ainda outros riscos que permeiam a recuperação econômica, globais e domésticos. E tudo começa, claro, pela própria pandemia. Ferraz ressalta avanços no protocolo médico e a expectativa pela chegada da vacina, mas pondera que novo surto da doença pode voltar a impactar as projeções.

    Aponta também as eleições presidenciais dos Estados Unidos como fator de atenção. “O candidato de oposição tem chances relevantes e qualquer alternância de poder causa incertezas”, diz. “A retórica eleitoral americana é bastante dura. É preciso esperar e ver o que realmente será implementado. Até lá, permanece a dúvida.”

    Por parte do governo federal, Claudio afirma que é preciso olhar para como serão as reversões das políticas de estímulo, a exemplo do auxílio emergencial. “Uma reversão muito brusca tem seu custo sobre a atividade econômica. Uma extensão longa tem riscos fiscais, podendo elevar a carga tributária”, defende.

    Ferraz entende que a demanda por auxílios é bem justificável, mas sentencia que “estes programas têm um custo e precisam ser temporários”. Com a situação fiscal num patamar longe do considerado “confortável”, ele argumenta que não existe espaço para iniciativas de longo prazo.  

    Como “risco positivo”, enxerga um quadro inflacionário bem baixo, com expectativas ancoradas. Afirma ainda que, “pela comunicação recente do BC, se aponta uma manutenção de juros em patamares baixos durante muito tempo”.

    Reformas

    Questionado sobre a falta de celeridade do governo para tocar reformas estruturantes, o executivo pondera que o ambiente político até melhorou com a recente aproximação entre o executivo e o congresso. “Quando se caminha para esse lado da coalizão, normalmente fica mais fácil para avançar e discutir reformas estruturantes”, diz. Ele cita o Marco do Saneamento como exemplo dessa aproximação.

    Apesar disso, também vê certo ruído por parte da equipe econômica e estima que as grandes reformas possam ficar somente para 2021. “Precisa avançar mais rápido”, diz, citando a reforma tributária enviada recentemente ao Congresso. “É possível que se tenha avanços setoriais em temas como a autonomia do Banco Central, mas a conclusão das reformas deve ficar mais para o ano que vem”. 

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