BC diz que não planeja usar afrouxamento quantitativo como política monetária
Diretor de Política Econômica da autarquia, Fabio Kanczuk, indicou que a autorização dada pelo Congresso para que o BC compre títulos será usada com parcimônia
O Banco Central não tem afrouxamento quantitativo –ou quantitative easing (QE)– como política monetária na cabeça, afirmou nesta sexta-feira (22) o diretor de Política Econômica da autarquia, Fabio Kanczuk, indicando que a autorização dada pelo Congresso para que o BC compre títulos públicos será usada com parcimônia.
Em live promovida pelo UBS, ele afirmou que o BC acredita que há formas mais efetivas de agir através da parte curta da curva de juros.
Ao ser questionado se o BC estaria disposto a usar o QE como ferramenta adicional de política monetária, já que a inflação não está convergindo à meta, ele respondeu que não.
Aprovada pelo Congresso, a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) do Orçamento de Guerra abriu a possibilidade de o BC atuar na crise na compra de títulos públicos. Com isso, o BC ganhou autorização para potencialmente imprimir dinheiro, financiando a aquisição de papéis emitidos pelo Tesouro.
Kanczuk ponderou que o Brasil carrega um prêmio de risco ligado a sua situação fiscal e não há como impedir o mercado de expressar esse prêmio de risco na curva.
“Se eu fizer QE, se eu tirar o prêmio da curva na força, esse prêmio incluindo a questão fiscal, o que vai acontecer é que isso vai se refletir em algum outro ativo financeiro, mais notadamente o próprio câmbio”, afirmou ele.
Bastante questionado sobre um limite efetivo mínimo para a taxa básica de juros brasileira, o diretor pontuou que, no Brasil, a discussão sobre o chamado ‘lower bound’ leva em conta que a queda dos juros vai continuar tendo o mesmo efeito de elevar a inflação –parte disso via câmbio e por meio de seu impacto na atividade econômica.
Com juros reduzidos, o país torna-se menos atrativo para os investidores em renda fixa, o que reduz o fluxo de moeda estrangeira entrando no país, contribuindo para uma desvalorização do câmbio.
Trata-se, de acordo com Kanczuk, muito mais de uma gestão de risco, com a preocupação de o câmbio eventualmente desorganizar a economia. Isso porque uma alta acentuada e abrupta do dólar pode colocar em risco a estabilidade financeira, batendo diretamente no balanço das empresas que não têm hedge suficiente.
“O Banco Central tem bastante dado e monitora com muita atenção essa questão de estabilidade das empresas e sensibilidade ao câmbio, não está vendo absolutamente nenhum problema, tudo está parecendo ótimo, mas é uma questão de risco, do quanto você quer apertar esse botão sabendo que a partir de certo ponto ninguém tem certeza de como será a reação”, afirmou.
Ainda sobre o limite para a queda dos juros sem que o novo patamar cause instabilidade nos mercados financeiros, ele afirmou que a principal mensagem do Comitê de Política Monetária (Copom) é de que é preciso ter uma cautela muito maior que a usual nesse momento.
“A partir daquele ponto, tenho que começar a levar os riscos em conta de forma muito expressiva. Tenho que ir testando os meus limites de forma mais suave”, disse Kanczuk.
“Posso ir testando algumas coisas e vendo como elas se comportam. Não é que você de repente vai pular para algum equilíbrio que seja radicalmente diferente, é só que você tem que ter muito mais cautela”, completou.
Na ata da sua última reunião, o Copom reduziu a taxa de juros em 0,75 ponto, para 3% ao ano, e disse que considerava um novo corte de até igual magnitude para sua próxima reunião, em junho. Mas ressaltou que “novas informações sobre os efeitos da pandemia, assim como uma diminuição das incertezas no âmbito fiscal”, seriam essenciais para definir seus próximos passos.
Câmbio
Em relação ao câmbio, Kanczuk disse que o BC avalia ter as ferramentas necessárias para intervir no mercado em caso de disfuncionalidades via swaps, reservas e linhas, e não considera ser necessário outro instrumento para tanto.
“A gente se vê muito bem preparado pelo próprio estoque de reservas, e isso deve ser super claro, para conseguir resolver esse tipo de problema (de disfuncionalidade no câmbio). Não é necessário algum outro instrumento”, afirmou.
Sobre o efeito do repasse cambial (pass through) na inflação, ele frisou que o BC vê esse ponto como premente e está prestando “atenção imensa” a ele.
Se em outros momentos a queda forte das commodities cancelou esse efeito da alta do dólar nos preços domésticos, Kanczuk ressaltou que nas últimas semanas houve comportamento “bem distinto” das commodities, que subiram.
“Leitura do Copom é que o ‘pass through’ está vivo, controlado pelas commodities, e a gente sempre tem que levar isso em consideração quando pensa na política monetária”, afirmou.
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