Crise política pode fazer juros voltarem a subir, diz Mansueto
"Se esse país não conseguir o bom debate político, que respeite o contraditório, nós teremos uma conta muito salgada para pagar", disse o secretário
A percepção de risco sobre o Brasil pode encarecer a dívida pública e aumentar o custo dos gastos com a crise do novo coronavírus. O recado é do Secretário do Tesouro Nacional, Mansueto Almeida, em entrevista exclusiva ao CNN Brasil Business.
“Se esse país não conseguir criar o bom debate político, transparente, que respeite o contraditório, criar o mínimo de consenso para avançar nas reformas estruturais para país poder crescer mais rápido e a gente possa pagar os gastos com a crise, nós teremos uma conta muito salgada para pagar. O futuro não está dado. Mas se a gente não criar esse consenso, aí sim teremos muito problemas e a taxa de juros vai voltar a subir rapidamente”, disse Mansueto.
A crise política vem aumentando de temperatura em Brasília com o acirramento entre os poderes da República. Nos últimos dois dias, com a escalada na contundência das declarações do presidente Jair Bolsonaro, o mercado financeiro começou a reagir. Crises políticas sempre tiveram peso importante na percepção de risco do Brasil, o que impõe pressão sobre ativos financeiros, principalmente dólar e títulos públicos.
Nesta quinta-feira, 28, a bolsa de valores caiu e o dólar subiu 2%, depois de sete pregões de queda. As taxas dos contratos futuros de juros estão bem mais altas do que a Selic, hoje em 3% ao ano. Para os títulos com vencimento em 2025, a taxa é praticamente o dobro da taxa básica.
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O Secretário afirma que ele ainda não sente pressão mais forte dos investidores e que o Tesouro tem um bom colchão de liquidez para lidar com o financiamento da dívida pública. Mesmo assim, já está acontecendo um encurtamento dos prazos dos papeis colocados em mercado, um sinal de aumento de risco do país.
Mansueto também alerta para o perigo de deixar o aumento das despesas deste ano, para o combate aos impactos provocados pela pandemia, atravessar para 2021 e colocar sob ameaça o arcabouço legal e fiscal que existe no país, como teto de gastos e Lei de Responsabilidade Fiscal. O aviso tem endereço certo, vai para quem tenta forçar o governo federal a promover investimentos públicos e liderar a recuperação da atividade econômica.
“Não há espaço para mais gastos. Há várias formas de o Estado ajudar a economia, por exemplo com as reformas estruturais que melhorem o sistema tributário e os marcos regulatórios que acelerem privatizações e concessões. Isso são formas de o Estado intervir de uma forma positiva na economia. Não há espaço fiscal para o Estado ser o grande líder da recuperação do investimento”, diz Mansueto de Almeida.
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