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    ‘Novo da Havan’: Lucas Hang, filho de Luciano, vai investir R$ 30 mi em eSports

    A Havan Liberty, equipe de jogos eletrônicos comandada pelo jovem, construirá escritório de 2,4 mil metros ao lado do Parque Villa-Lobos, em São Paulo

    Matheus Prado, , do CNN Brasil Business, em São Paulo

    A Havan Liberty, equipe de esportes eletrônicos (ou eSports) comandada por Lucas Hang, um dos filhos de Luciano, o ‘Véio da Havan’, está de mudança para São Paulo. Fundada em 2018, a companhia tem R$ 30 milhões para investir nos próximos cinco anos.

    Com isso, a família Hang mostra que também quer surfar em um segmento que não para de crescer. São mais de 2 bilhões de jogadores no mundo, num mercado que movimenta mais de US$ 150 bilhões por ano, segundo dados da consultoria NewZoo.

    Destes, mais de US$ 600 milhões correspondem aos eSports, que são as competições profissionais da área. Número relativamente pequeno, mas que deve continuar ganhando tração.

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    E foi mirando esse crescimento que, depois de uma temporada em Brusque, no interior de Santa Catarina, a equipe decidiu que era hora de mudar para a capital paulista, cidade que recebe a esmagadora maioria dos campeonatos de esports. “Chegamos a um ponto inevitável do negócio, que era vir para São Paulo”, diz Lucas. 

    “Nos próximos 5 anos, vamos investir entre R$ 25 milhões e R$ 30 milhões e, por isso, resolvemos construir um gaming office com o tamanho das nossas ambições”, diz. Gaming office é um escritório com salas preparadas para receber os treinos das equipes de jogos, além de abrigar funcionários administrativos.

    O que é normal em outras áreas de atuação, é novidade no meio. O modelo mais utilizado no passado era o de gaming houses, com os atletas morando e trabalhando juntos na mesma casa. “Acredito nesse modelo, separando o lugar de trabalho do lugar de lazer. Com hora para chegar e para sair. Horários para comer, regras para cumprir”, explica. 

    Localizada perto do Parque Villa-Lobos, na Zona Oeste de São Paulo, a construção terá cerca de 2.400 metros e pode contar com 150 funcionários trabalhando in loco ao mesmo tempo (a empresa está contratando, inclusive). Para Lucas, apostar na estrutura é um passo essencial para lastrear crescimentos voltados para o longo prazo.

    A nova sede faz parte de uma série de novidades que a Liberty está chamando de Project: Evolve. Com uma equipe consolidada no League of Legends, foram anunciados times de outras modalidades, como Dota 2, Valorant, Counter-Strike: Global Offensive. Também foi anunciada, nesta quarta (30), uma atualização na apresentação visual da marca. 

    “A maior parte das nossas receitas vêm de patrocínio, ainda mais agora na crise. Também ajudam as receitas das ligas, venda de jogadores e a comercialização de materiais licenciados. Hoje é possível fazer uma equipe rentável, mas ainda estamos num patamar em que é necessário realizar investimentos para colher lá na frente”, diz.

    “Se eu quiser fazer uma equipe rentável no curto prazo, eu faço. Mas se quiser que a equipe cresça, preciso aceitar essas dores de crescimento. Saber que o negócio será extremamente rentável no futuro, mas que é preciso começar a investir já. Se não, posso até ganhar um dinheiro, mas não vou ser relevante no mercado.”

    Ou seja, a ideia é seguir uma prática muito comum entre as startups, queimar caixa para consolidar a empresa e ganhar participação de mercado, para só depois começar a dar lucro. No caso da Liberty, as captações podem nem ser tão difíceis assim, já que a bilionária Havan é sua patrocinadora. Outras empresas não endêmicas, como a BMW e o Tinder, também apostam no setor.

    Relação com o pai

    Perguntado sobre a personalidade polêmica de seu pai, Luciano, Lucas diz: “ele entrou nos últimos anos nesse Fla-Flu que o Brasil está metido, mas a imagem que as pessoas têm na internet não é necessariamente a visão que a gente tem dele no dia a dia. Tudo que ele entra, é de cabeça.”

    Diz ainda que a família costuma discutir política em casa, nem sempre concordam, e que falta um “pouco de malícia” para o pai entender em quem pode confiar. “Acredito que ele é uma pessoa do bem, talvez até do bem de mais para ajudar na política.”

    Lucas e os irmãos entraram cedo na Havan, aos 14, e passaram por diversas áreas de atuação na empresa. “Na gestão, tenho muito a aprender com ele. E o grande diferencial do meu pai é a humildade. Ele sabe delegar, fazer com que os funcionários também se sintam donos da empresa.”

    Em termos de relacionamento com a imprensa, no entanto, o jovem parece estar à frente do pai. Luciano já expôs publicamente dados de jornalista que o questionou e foi condenado por propagar fake news contra o reitor da Unicamp.  

    Fora dos servidores

    Ativo no Twitter, Lucas fala majoritariamente de dois assuntos: eSports e esportes. Quando seu Athletico Paranaense joga (mal), usa a rede social para “cornetar” os atletas e a comissão técnica. “Sempre que posso dou uma cornetada, e o Athletico está dando motivos”, brinca. A Havan também é patrocinadora da equipe e Lucas participa das decisões do marketing esportivo da marca. 

    Confira a entrevista completa:

    Quais foram seus primeiros passos na Havan? Seu pai queria que trabalhassem com ele?

    Ele sempre foi muito direto. Disse que nunca nos forçaria a trabalhar na Havan e queria que a gente trabalhasse em áreas que gostássemos. Mas eu e meus irmãos sempre tivemos contato direto com a loja. Aos 12, 13 anos, já ajudávamos em datas festivas, quando tinha muito movimento.

    Com 14, começamos a fazer um trainee e passamos por todos os setores. Começamos no depósito e fomos rodando. Também passamos pelo escritório, quando decidir ficar no setor de marketing. Ali achava que poderia ser um pouco mais útil. Hoje já não comando a área diretamente, mas ainda dou meus palpites.

    Quando surgiu a ideia para a criação da Havan Liberty?

    Desde 2015, estava no setor de marketing esportivo da Havan. Ali pude negociar patrocínios de times de futebol, vôlei, seleções e até campeonatos. Em 2018, o setor de compras da empresa queria introduzir uma linha gamer nas lojas e veio falar comigo, porque sabiam que eu gostava, além dos esportes tradicionais, dos eletrônicos.

    Meu amigo Samuel Walendowsky (hoje CEO da empresa) foi até a Havan e apresentou o mercado. Eles gostaram muito, mas não sabiam como entrar no meio. Pensamos em patrocinar equipes, campeonatos, mas percebemos que existia uma oportunidade muito grande para fazer isso de forma mais definitiva.

    Faltava uma equipe com essência de gestão, planejamento de longo prazo. Muitas equipes são gigantes hoje em dia, mas foram se formando naturalmente, nada cresceu organizado desde o início. Chegamos à conclusão que deveríamos ir pelo caminho mais difícil, que é começar do zero.

    Por isso a Havan Liberty não é uma empresa do Grupo Havan, são apenas parceiras comerciais. Trouxe meus irmãos como sócios e buscamos fazer algo que fosse bom para o cenário, emprestando um pouco da nossa experiência, já que estamos desde os 14 anos trabalhando na Havan.

    O mercado de esports vem crescendo, mas a rentabilidade das equipes ainda é um problema. Como solucionar isso?

    É um grande desafio. A maior parte da receita vem de patrocínio, ainda mais agora. Também ajudam as receitas das ligas, venda de jogadores e a comercialização de materiais licenciados. Hoje é possível fazer uma equipe rentável, mas ainda estamos num patamar em que necessário realizar investimentos.

    Considero que as equipes que estão dispostas a gastar mais do que estão recebendo para mostrar o seu valor dentro do cenário, conseguirão se destacar. As organizações vão precisar investir cada vez mais para, lá na frente, o setor se tornar rentável e os times receberem isso de volta.

    – Se eu quiser fazer uma equipe rentável no curto prazo, eu faço. Mas se quiser que a equipe cresça, preciso aceitar essas dores de crescimento.

    Saber que o negócio será extremamente rentável no futuro, mas preciso começar a investir já. Se não, posso até ganhar um dinheiro, mas não vou ser relevante.

    Vocês vão construir um gaming office, ou centro de treinamento, em São Paulo. Me conta sobre a estrutura.

    Havan Liberty
    Projeto do novo gaming office da Havan Liberty
    Foto: Havan Liberty/Divulgação

    Há poucos anos atrás, a maioria das equipes utilizava o modelo de gaming house, com os jogadores morando juntos, muitos deles no mesmo quarto, não respeitando horários, sem disciplina. Nessa linha, a principal oportunidade que a gente via no cenário era o modelo de gaming office, para gerenciar melhor os jogadores.

    Inicialmente, fizemos isso em Brusque, para mostrar que era possível fazer algo grande em uma cidade pequena, assim como fez a Havan. Montamos um escritório de 200 metros quadrados, o maior do Brasil, pensando em ter a melhor e maior infraestrutura para atender os atletas.

    Mas chegamos a um ponto inevitável do negócio, que era vir para São Paulo, onde ocorre grande parte dos campeonatos.

    – Nos próximos 5 anos, vamos investir entre R$ 25 milhões e R$ 30 milhões e, por isso, resolvemos construir um gaming office com o tamanho das nossas ambições. 

    O novo prédio vai ter 2.400 metros quadrados e vai comportar 8 salas de treinamento. Estimamos que 150 pessoas possam trabalhar lá ao mesmo tempo, entre jogadores e administrativo. Ficará ao lado do Parque Villa-Lobos, que é perto de onde boa parte dos jogos acontecem e tem opções de moradia e lazer para os jogadores.

    Acreditamos muito nesse modelo, separando o lugar de trabalho do lugar de lazer. Com hora para chegar e para sair. Horários para comer, regras para cumprir. Vamos focar na disciplina e cuidar dos atletas.

    O jogo League of Legends vai implementar um sistema de franquias no seu campeonato brasileiro, o que acha do sistema? (A Liberty disputa uma das 10 vagas na competição)

    Esse é o caminho para os esports que querem se manter em evidência. Dá mais segurança para as equipes investirem em infraestrutura, além de receberem mais dinheiro, já que se tornam sócias da liga. 

    Neste meio, muitos times nascem e morrem rapidamente e nem os próprios jogos têm garantias de que vão sobreviver por muito tempo. Este sistema dá chance para quem está participando crescer junto com o cenário.

    Existe um esforço para tentar regulamentar a atividade junto ao Estado. Entende que é necessário? Nessa mesma linha, o filho do presidente Bolsonaro, Renan, se reuniu com o secretário de Cultura, Mario Frias, para falar de “e-games”. O que achou disso?

    Essa tentativa de regulamentar os eSports já ocorre há algum tempo, mas acredito que o cenário está crescendo porque nasceu da iniciativa privada. Além disso, quem administra os campeonatos são as próprias empresas que criaram os jogos e isso dá certo, dá resultado. O governo não precisa se meter nisso.

    Essa regulamentação vai acabar encarecendo e deixando o controle dos produtos na mão de pessoas que não conhecem. Quem tem que estar à frente é quem realmente entende e vive o mercado.

    Não sei qual foi o teor da conversa entre o Renan e o secretário, não sei se foi à respeito dessa regulamentação. Mas, se o governo realmente quer ajudar, deveria chamar para conversar quem está na linha de frente. Os donos das organizações, empresas que criam jogos, organizam campeonatos.

    Mas, na minha visão, quanto mais o governo quiser controlar, mais o eSport vai perder. Mesmo não sabendo do conteúdo da conversa, entendo que a solução é deixar tudo na mão da iniciativa privada, porque está dando certo.

    Seu pai é uma figura polêmica no trato público. E na empresa, quais são suas semelhanças e diferenças com o Luciano gestor?

    Meu pai entrou nos últimos anos nesse Fla-Flu que o Brasil está metido, mas a imagem que as pessoas têm na internet não é necessariamente a visão que a gente tem dele no dia a dia. Tudo que ele entra, é de cabeça. Ele é muito motivado e faz tudo para apoiar o que acredita. 

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    Volta e meia discutimos política em casa, e nem sempre concordamos, mas isso é normal em todas as famílias. Ele é uma pessoa do bem, talvez até do bem de mais para ajudar na política.

    – A gente precisa ter um pouco de malícia para saber em que pessoas devemos confiar.

    Na gestão, tenho muito à aprender com ele. E o grande diferencial do meu pai é a humildade. Ele sabe delegar, fazer com que os funcionários também se sintam donos da empresa.

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