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    Com dólar perto de R$ 6, CVC vê turismo nacional como principal elo da retomada

    Leonel Andrade acredita que capitalização bilionária ajudará a empresa se consolidar como líder do setor de viagens no pós-pandemia; analistas divergem

    Luís Lima, do CNN Brasil Business, em São Paulo

     

    Há pouco mais de um mês no cargo, o CEO Leonel Andrade assumiu a CVC Corp no ápice de uma das piores crises enfrentadas pelo setor de turismo no país e no mundo. Com as pessoas trancadas em casa e aviões em solo, o faturamento da companhia praticamente zerou e as ações da companhia cotadas na B3 acumulam queda anual de mais de 70%. 

    Diante do cenário desafiador, o executivo diz que a empresa tem capacidade operacional para sobreviver à instabilidade, com um caixa capaz de cobrir despesas por mais de um ano. Mensalmente, os gastos somam cerca de R$ 60 milhões. Ele admite, porém, que será fundamental captar mais dinheiro para superar a turbulência e voltar a crescer no pós-pandemia. “Precisaremos de maior liquidez e caixa para retomar de forma mais consistente assim que a crise passar.”

    Uma esperada capitalização privada, coordenada pelo banco Itaú BBA, e que deve girar em torno de R$ 1 bilhão, foi a saída encontrada. Em entrevista ao CNN Brasil Business, o executivo diz que o caixa atual, estimado em R$ 350 milhões, somado a R$ 800 milhões em recebíveis futuros, serão suficientes para fazer uma “travessia da crise”, mas que, no pós-pandemia, é preciso estar “saudável”, o que demanda novos recursos. 

    Um recém empossado conselho de administração trabalhará nas próximas duas semanas para definir detalhes do projeto de capitalização. A ideia inicial é investir os recursos em tecnologia, novos projetos, produtos e parcerias. Segundo Andrade, há potenciais investidores interessados tanto no Brasil como no exterior, de olho em oportunidades, e confiantes de que a companhia sobreviverá às atuais turbulências. “Fundamentalmente a empresa tem muito baixo risco de não passar por essa crise”, avalia.  

    Analistas de mercado são reticentes com a visão do executivo (leia mais abaixo). Por isso, Andrade e a CVC tomam medidas para tentar mudar essa imagem. O plano por um uso estratégico do cofre, com a suspensão de investimentos em marketing, corte parcial de jornadas e salários e aposta redobrada em infraestrutura de tecnologia.

    No horizonte próximo, o executivo não prevê demissões em massa, mas admite que, como gestor, é preciso estar preparado para todos os cenários. “Não temos nenhuma redução de pessoas no momento, e não pretendemos fazer. Óbvio que não posso garantir que não vamos fazer, porque não sabemos até onde vai a crise. O que posso garantir é todo um trabalho com foco na manutenção dos empregos e da companhia como sempre foi.”

    Mesmo com todos os obstáculos, Andrade se diz otimista – e quer provar isso ao mercado. “Acredito que estaremos fortes e seremos protagonistas da retomada do turismo no Brasil e na América Latina. Somos a maior empresa (do setor de viagens) e, provavelmente continuaremos sendo.”

    Leonel Andrade, CEO da CVC Corp

    Leonel Andrade, CEO da CVC Corp: ‘sairemos mais fortes da crise’
    Foto: Divulgação

    A saída é o turismo local

    O turismo de lazer nacional, sobretudo para lugares mais próximos, deve dar os primeiros sinais de reação já no segundo semestre deste ano, com vendas a partir de setembro, prevê Andrade. Uma recuperação plena, no entanto, deve demorar um ano.

    Essa expectativa deve reverter o atual cenário de estagnação e dar alguma alívio à companhia, já que 70% dos embarques da CVC são para o Nordeste, região classificada pelo CEO como o “principal elo da retomada”. “Os clientes vão buscar, prioritariamente, espaços abertos, praias, campos”, diz. “A maior oportunidade estará no mercado doméstico”, reforça.

    Com o dólar perto de R$ 6, e um consumidor potencialmente menos endinheirado e com medo de aglomerações, viagens de longa distância, inclusive internacionais, devem reagir com mais força só no ano que vem, prevê Andrade. Como resposta, a CVC planeja oferecer pacotes diferenciados, mais baratos ou com prazos maiores, o que não implicará, necessariamente, em margens reduzidas para a companhia.

    Já o turismo corporativo, de viagens a eventos e negócios, também só deve retomar as atividade no ano que vem. “Dificilmente teremos algum evento este ano. A partir do ano que vem, com certeza volta. E volta forte, rápido, para níveis muito grandes a partir do segundo semestre do ano que vem”, avalia. 

    Aposta incerta 

    O cenário de incertezas sobre uma saída para a crise da Covid-19 motiva a recomendação de cautela ao investidor interessado em apostar nas ações da CVC. O papel só é indicado ao investidor mais arrojado e com pretensões de longo prazo, defendem analistas de mercado.

    “É preciso estar bem preparado para um nível de arrojo e altíssima volatilidade. É indicado a um perfil de investidor, o mais arrojado possível”, diz Márcio Loréga, analista da Ativa Investimentos. “A CVC está no centro do furacão. (…) O investidor tradicional não deve entrar nesse capital”, concorda Pedro Galdi, da Mirae Asset. 

    Após acumular valorização na Bolsa por três anos seguidos — em 2016 (83%), 2017 (106%), e 2018 (27%) — a companhia inverteu o rumo em 2019, com queda de 27%, afetada, sobretudo, pela falência da Avianca e problemas contábeis. Os números são da Ativa Investimentos.

    Nos últimos meses, a tempestade perfeita foi somada por um dólar mais caro, que desencoraja viagens ao exterior, o vazamento de óleo no Nordeste, região que concentra viagens da CVC no país, além de protestos em países latino-americanos, como Chile e Bolívia. 

    “O desempenho positivo de viagens corporativas não compensou, no último ano, o resultado das viagens a lazer, que concentra a maior parte da receita da CVC”, pontua Luis Sales, analista da Guide Investimentos. Em caso de compra, ele recomenda em uma proporção pequena sobre o capital, para evitar possíveis perdas maiores. 

    Este ano, para completar, veio a pandemia do novo coronavírus, que sepultou qualquer possibilidade de reação mais vigorosa no curtíssimo prazo. Em 2020, a queda acumulada das ações é de 72%, cotado perto do R$ 11. Na mínima, atingiu R$ 5,18. 

    Segundo Lórega, patamares referenciais, que podem indicar futuras oscilações, para cima ou para baixo, são as barreiras psicológicas dos R$ 16 e de R$ 8. “Se alcançar o primeiro patamar, pode até ultrapassar os R$ 20; agora, no segundo caso, pode indicar uma volta aos R$ 5”, avalia.

    O cenário de curto prazo, diz Sales, é bastante complicado, com pouca clareza para traçar quaisquer perpectivas, diante de desafios internos e do setor. “Não sabemos até quando a crise vai durar. (…) Os riscos são muito altos. É preferível esperar para recomendar o papel”, reforça o analista da Guide.