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    ‘Spotify nordestino’, Sua Música investe para produzir artistas regionais

    Segundo dados da Statista, o mercado global de música deve alcançar os US$ 65,1 bilhões em 2023, fortemente puxado pelo streaming

    Matheus Prado, , do CNN Brasil Business, em São Paulo

    Barões da Pisadinha, Tarcísio do Acordeon, Zé Vaqueiro, Vitor Fernandes. Estes foram alguns dos últimos expoentes da música nordestina a alcançar reconhecimento nacional, movimento que não para de crescer e é fruto da popularização dos ritmos regionais na internet. 

    No dia 10 de junho, 13 das 50 músicas mais ouvidas por brasileiros no Spotify eram interpretadas por artistas do Nordeste. Isso não quer dizer que as outras regiões não consumiam gêneros como forró e brega antes, apenas mostra que o caminho que estas produções percorrem até alcançar o restante do país pode ter ficado mais curto.

    E isso ocorre, pelo menos em parte, graças ao Sua Música, que começou como um site para agregar músicas de artistas locais e hoje investe para atuar na distribuição dessas canções e, mais profundamente, na produção e no gerenciamento de carreira de alguns desses artistas.

    Início do site

    O Sua Música foi criado em 2010, em João Pessoa, na Paraíba, como um grande agregador de canções nordestinas. À época, artistas em busca de exposição divulgavam CDs promocionais no Orkut ou distribuíam presencialmente em shows para que mais pessoas pudessem ter acesso.

    Pensando nisso, Éder Rocha Bezerra, o pai da criança, uniu o útil ao agradável. Criou um espaço para disponibilizar, de forma gratuita, este conteúdo para download. O site ganhou tração e, em 2013, foi comprado pelo trio de empresários Roni Maltz, Rodrigo Amar e Allan Trope. 

    “Conhecemos o Éder em 2013 e rapidamente entendemos o tamanho do mercado. Fomos a um show no interior de Pernambuco, em plena terça-feira, e tinha 30 mil pessoas no espaço. Fizemos, então, uma oferta pela marca, assumimos a operação e focamos em desenvolver a plataforma”, diz Maltz.

    Spotify do Nordeste

    Com a mudança de comando, o Sua Música foi evoluindo para se tornar um site e aplicativo no formato UGC (user generated content), ou seja, com cada artista podendo publicar suas próprias canções na plataforma. Algo parecido com o que temos hoje no Spotify, mas sempre possibilitando o download das músicas de forma gratuita.

    “Isso foi um grande diferencial do site, já que pouca gente tinha acesso a 3G e muitos dos usuários utilizavam telefones pré-pagos. E, por não ter receita vinda do consumidor, a operação se mantinha com publicidade no site, venda de espaços premium na plataforma para os artistas divulgarem o seu trabalho e realização de eventos”, diz.

    Aqui vale explicar que o serviço inverte a lógica dos serviços de streaming atual, já que os artistas não recebem a cada vez que suas músicas são executadas (apenas os detentores dos direitos autorais). Pelo contrário, investem na plataforma para expor o seu trabalho aos cerca de 10 milhões de usuários ativos por mês ali.

    O executivo diz que a empresa até lançou um serviço pago de streaming, mas que ainda é algo embrionário, sem grande representatividade no negócio. Desde 2019, a marca trabalha, por meio do Sua Música Digital, na distribuição das canções para outras plataformas além da sua, como Spotify e Deezer.

    Produtora

    Avançando nesse sentido, a empresa anunciou em 2021 que abriria uma produtora, a Sua Música Records, para atuar em ramos como planejamento digital, venda de shows e lives ao vivo. O modelo é assumidamente espelhado em casos de sucesso do funk paulista, como Kondzilla e GR6.

    “Esse mercado já é muito grande, então entramos para atuar só com artistas que estão na nossa plataforma. Outras empresas querem abraçar o mundo, mas não conseguem fazer um trabalho específico como o nosso. Por exemplo, eu não entendo de música gospel, então não fechamos com artistas desse gênero”, diz.

    “Temos o exemplo dos Barões da Pisadinha, que começaram e cresceram dentro da nossa plataforma, mas nós não tínhamos estrutura para ajudá-los de maneira mais completa. Agora, com a proximidade que temos com empresários e artistas, pretendemos crescer neste segmento.”

    Maltz e companhia também beberam na fonte do YouTube e TikTok para criar um hub de conteúdo. Trata-se, mais precisamente, de uma casa em Fortaleza, no Ceará, que levará o nome de Sua Música Space e servirá para gravação de músicas, geração de conteúdo para as redes sociais dos artistas e ativação de marcas do grupo.

    “Queremos ser uma empresa em que o artista entra e tem todas as soluções num só lugar. Estamos apostando nessa casa, pois sabemos que as redes sociais, como TikTok, já são e vão ser, cada vez mais, parte relevante do marketing dos artistas”, afirma.

    Empresa

    Sem dar grandes detalhes sobre a operação, o executivo afirma que a empresa, que hoje conta com 50 funcionários, tem crescido dois dígitos anualmente há seis anos. O braço de produção cuida da carreira de sete artistas: Matheus Alves, Daniel dos Teclados, Yury Pressão, Gil Bala, Forró do HF, Eduarda Brasil e Lucas Boquinha.

    “Estamos na era de ouro da música. Acredito que a indústria vai continuar crescendo 40%, 50% ao ano e que, mais do que nunca, a juventude vai querer retomar o tempo perdido”, afirma. No futuro, a marca quer expandir seus serviços para outros países, a começar pelos Estados Unidos.

    Segundo dados da Statista, o mercado global de música deve alcançar os US$ 65,1 bilhões em 2023, fortemente puxado pelo streaming.

    No primeiro trimestre de 2021 o Spotify registrou receita de 2,15 bilhões de euros, 16% a mais que no mesmo período do ano anterior, e lucro de 23 milhões de euros. As medidas de isolamento tiveram impacto positivo nos números da companhia. Apesar disso, e com crescimento da concorrência, a empresa espera uma queda no segundo trimestre.

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