Montadoras apostam no verde para salvar as contas, e não só o planeta
Grandes montadoras estão se voltando para um futuro totalmente elétrico, e isso tem a ver tanto com os resultados financeiros quanto com o meio ambiente
Nova York (CNN Business) – Praticamente todas as grandes montadoras do mundo estão se voltando para um futuro totalmente elétrico, e isso tem a ver tanto com os resultados financeiros quanto com o meio ambiente.
A Volkswagen planeja lançar cerca de 70 modelos totalmente elétricos até 2030 e já ultrapassou a Tesla nas vendas de veículos elétricos em muitos mercados europeus. Na semana passada, a General Motors (GM) disse que espera vender apenas carros com emissão zero de carbono a partir de 2035.
Não existe uma única grande montadora que não esteja comprometida com o desenvolvimento de veículos com emissão zero.
Mais simples e baratos
Há uma boa razão para essa mudança radical: os veículos elétricos não são apenas essenciais para cumprir regulamentações ambientais mais rígidas, mas também são muito mais baratos de se fabricar.
São muitas as vantagens de custo dos elétricos: ausência de motor de combustão interna, menos peças móveis e menor necessidade de mão de obra para a montagem.
A Ford estima que um veículo elétrico exigirá 30% menos horas de trabalho para a montagem do que um carro tradicional movido a gasolina.
Além disso, os sistemas de propulsão dos elétricos são muito mais simples de se compartilhar entre diferentes modelos do que os motores e transmissões dos veículos movidos a combustíveis fósseis, aumentando ainda mais a eficiência e reduzindo custos.
Atualmente, a GM usa mais de 500 combinações diferentes de trem de força em sua linha de carros tradicionais, mas poderia ter menos de 20 combinações para atender todos os elétricos que pretende produzir.
“Os veículos elétricos são mais simples de se fazer, mais lucrativos e apresentam maior crescimento”, disse Adam Jonas, analista automotivo do banco Morgan Stanley, em um comunicado à imprensa no ano passado.
O custo mais baixo de montagem de elétricos deixa as principais montadoras com pouca escolha a não ser fazer a troca, de acordo com Daniel Ives, analista de tecnologia da Wedbush Securities. “As montadoras tradicionais não podem dar meio passo em direção aos veículos elétricos. Tem que ser tudo ou nada”, afirmou.
Carro a gasolina deve ficar mais caro
Embora se espere que o custo de fabricação de EVs continue a cair, o da produção de veículos movidos a gasolina provavelmente aumentará por causa da dificuldade de cumprir com regulamentações de emissão mais rígidas entrando em vigor em todo o mundo.
“Os motores de combustão interna ficarão cada vez mais caros para atender às regulamentações ambientais”, disse Ken Morris, vice-presidente responsável pelos veículos elétricos da GM. “Acho que será mais difícil encontrar fornecedores de motores de combustão interna e das peças necessárias para cumprir a regulamentação, em comparação com a onipresença dos componentes de veículos elétricos”.
Preço dos elétricos vem caindo
A única coisa que impede os elétricos de serem mais baratos é o preço de uma série de componentes, especialmente as baterias. No entanto, os valores dos componentes de carros elétricos têm caído, com os preços das baterias caindo cerca de 85% nos últimos 20 anos, de acordo com estimativas do setor.
Os custos devem continuar caindo à medida que a produção de baterias se tornar mais eficiente e a procura aumentar. A Tesla afirmou, no segundo semestre do ano passado, que espera uma redução de 56% nos preços da bateria por quilowatt-hora (kWh) nos próximos anos.
“A tecnologia das baterias tem cada vez mais uma melhor relação custo-benefício. E isso vai continuar a melhorar”, disse Brett Smith, diretor de tecnologia do Center for Automotive Research, um think tank de Michigan.
Investimentos em pesquisa
Smith disse, ainda, que a mudança na economia da indústria automobilística significa que as montadoras não podem continuar a apostar seu futuro em carros movidos a gasolina, embora os elétricos representem bem menos de 5% das vendas mundiais hoje em dia.
“As empresas basicamente pararam de investir em pesquisas avançadas sobre motores de combustão interna”, comentou.
Morris disse que a GM continuará a desenvolver veículos movidos a gasolina porque a empresa seguirá com sua produção por mais de uma década, mesmo que atinja suas metas de emissão mais ambiciosas. No entanto, o vice-presidente da GM também disse que 60% dos gastos da empresa com pesquisa e desenvolvimento são hoje direcionados para carros elétricos.
A GM já afirmou que vai investir US$ 27 bilhões (cerca de R$ 147 bilhões) no desenvolvimento de elétricos, e a Volkswagen se comprometeu a investir ainda mais: cerca de US$ 43 bilhões (ou cerca de R$ 234 bilhões).
De olho na Tesla
Ives comentou ainda que outro fator importante que leva as montadoras tradicionais a fazer essa mudança é o enorme aumento no preço das ações da Tesla.
Embora a fabricante de carros elétricos tenha vendido apenas 500 mil veículos em 2020, o que corresponde a uma pequena fatia dos mais de 70 milhões de carros e caminhões leves vendidos no ano passado, as ações da Tesla subiram 743% e agora valem mais do que o valor combinado das 12 maiores montadoras do mundo.
“Toda diretoria de todas as fabricantes viu o movimento das ações da Tesla”, disse Ives. “Podia haver um certo ceticismo por parte das montadoras dois anos atrás, mas o desempenho da Tesla desde então concretizou o pensamento de que isso é o que tem de ser feito”.
(Texto traduzido, clique aqui para ler o original em inglês).