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    Quanto mais demorar a privatização da Eletrobras, pior para o Brasil, diz CEO

    A Eletrobras está para ser privatizada desde 2017, mas processo está lento em Brasília: a aposta do presidente Wilson Ferreira é de uma capitalização em 2021

    André Jankavski, do CNN Brasil Business, em São Paulo

    A privatização (ou capitalização) da Eletrobras (ELET3 e ELET6) já é assunto há vários anos. Desde o início do governo do ex-presidente Michel Temer, a intenção de privatizar a maior distribuidora e geradora de energia elétrica do Brasil era alta. Mas ainda não saiu do papel – a não ser, claro, as sete distribuidoras e 70 sociedades de propósito específico (SPE) que foram vendidas desde então. À frente desse processo está Wilson Ferreira Júnior, CEO da Eletrobras desde julho de 2016.

    Porém, o processo de venda continua emperrado. Recentemente, o próprio presidente da Câmara, Rodrigo Maia, admitiu que não há consenso para privatizar a Eletrobras em 2020. Ficou para 2021, portanto, mesma data que Ferreira Júnior acredita que acontecerá. Quer dizer, se não houver mais nenhum imprevisto.

    “Quanto mais tempo demorar, não será pior só para a Eletrobras: será para a União e para os brasileiros”, diz Ferreira Júnior. “Temos que olhar a agenda de privatizações como uma agenda dos brasileiros.”

    A questão é que a agenda de privatizações ainda está estagnada no governo do presidente Jair Bolsonaro. Uma das grandes promessas do ministro da Economia, Paulo Guedes, era de que o Brasil conseguiria arrecadar R$ 1 trilhão em privatizações (e mais R$ 1 trilhão com a venda de imóveis).

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    Em 2019, o governo arrecadou R$ 103,1 bilhões com a venda de participação em empresas – a maior delas foi a da Transportadora Associada de Gás (TAG), subsidiária da Petrobras, em que o governo arrecadou R$ 33,5 bilhões.

    A venda Eletrobras aparece como uma das principais metas do governo. Mas a saída de nomes importantes do Ministério da Economia, como o ex-secretário de Desestatização, Salim Mattar, jogou um balde de água fria nas intenções. Não por acaso, as ações da empresas tiveram grande volatilidade após a renúncia de Mattar.

    Isso fez com que a empresa fosse questionada pela B3 sobre o motivo desse sobe e desce no período de 10 a 21 de agosto. Depois de explicar que os investidores estão de olho no noticiário e que os planos da empresa continuam, as ações da empresa dispararam nesta segunda-feira (24).

    O principal argumento do executivo para a capitalização é a capacidade de investimento da empresa. Segundo ele, a Eletrobras, atualmente, pode investir R$ 6 bilhões ao ano. Porém, com uma capitalização, seria possível alcançar patamares de R$ 14 bilhões anuais.

    Wilson Ferreira Eletrobras
    Wilson Ferreira Júnior, presidente da Eletrobras: “Quanto mais tempo demorar, pior será para União e para os brasileiros”
    Foto: Eletrobras/Divulgação

    Para que isso aconteça, a Eletrobras faria uma chamada de capital e o governo não seguiria o aporte dos acionistas privados. Dessa maneira, segundo Ferreira Júnior, o governo não estaria vendendo nada, apenas não utilizaria o direito de manter a sua participação de 63% na companhia.

    A chamada de capital, que chegaria a cerca de R$ 15 bilhões, permitiria que o governo diminuísse sua fatia para 49%, o que transformaria a Eletrobras em uma corporation – empresa sem controlador definido, aos moldes de companhias como a Vale, B3 e Lojas Renner. Além disso, uma golden share, ao estilo realizado na Embraer, também está em discussão.

    Para justificar que a conta seria bom para o governo, o executivo relembra os valores da Eletrobras antes dele assumir.

    Nos piores momentos, especialmente com o efeito do risco hidrológico, que é quando o país passa por períodos chuvosos ruins, e efeitos negativos causados no setor após decisão da ex-presidente Dilma Rousseff de renovar contratos de concessão com a intenção de reduzir tarifas, a empresa chegou a valer R$ 9 bilhões na bolsa. Quatro anos depois, com a chegada de Ferreira, o valor de mercado da companhia alcançou R$ 53,6 bilhões.

    “E ela pode valer o dobro disso como uma empresa mais eficiente e com acionistas importantes”, diz o executivo, que afirma que o governo só teria a ganhar com a operação. “Ele tinha 63% de R$ 9 bilhões e pode ter 49% de mais de R$ 100 bilhões, é uma operação para o próprio governo.”

    Planos futuros

    Para o executivo, o Brasil ainda pode expandir muito em energia eólica e solar. Atualmente, a eólica representa apenas 1,8% da geração da Eletrobras e a solar é praticamente zero. 

    “É uma parcela pequena dentro da empresa, mas a Eletrobras é a segunda, ou terceira, maior em energia eólica no Brasil e a temos o maior laboratório de energia solar do país, em Petrolina (CE)”, diz Ferreira Júnior.

    Com investimento de R$ 54,3 milhões, a Companhia Hidro Elétrica do São Francisco (Chesf) criou o laboratório em Petrolina com capacidade para 2,5 MW. Além disso, a empresa criou uma usina solar flutuante no Reservatório de Sobradinho, na Bahia, que deve alcançar os mesmos 2,5 MW com investimento de R$ 2,5 milhões.

    Porém, os maiores investimentos deste ano estão devem acontecer nas termelétricas. A Empresa de Pesquisa Energética (EPE) tem 158 projetos para leilões de contratação de energia existente, mas os processos foram adiados por causa da Covid-19. 

    Além disso, a usina nuclear de Angra 3  juntamente com um parceiro privado, Isso já está nos planos do Programa de Parceira de Investimentos (PPI). Mas para retomar as obras mais aceleradamente, a Eletrobras aprovou a concessão de adiantamento para a sua subsidiária Eletronuclear de R$ 3,5 bilhões até 2021. 

    “A intenção é que Angra 3 seja inaugurada em 2026 e continuamos o debate para a interligação nacional com a linha transmissão Manaus e Boa Vista”, diz Ferreira Júnior.

    Mas para que tudo isso saia do papel e os adiamentos parem de acontecer ano após ano, a Eletrobras vai precisar de (muito) dinheiro. E Ferreira Júnior tem certeza que, dessa vez, a privatização vai acontecer.

    “O plano continua em curso e a decisão já foi tomada e temos até um projeto de lei que foi encaminhado. A questão não é mais se vai ser ocorrer a capitalização ou não, mas quando é que vai acontecer”, diz Ferreira Júnior.

    Um anitgo investidor, no entanto, não voltará a colocar dinheiro na Eletrobras, pelo menos por enquanto. O maior fundo soberano da Noruega, que administra mais de US$ 1 trilhão, excluiu a estatal de sua carteira de investimentos.

    O motivo? O “inaceitável risco de que a companhia contribua para sérias ou sistemáticas violações de direitos humanos”, o que foi relacionado pelo conselho executivo do fundo ao papel da estatal no desenvolvimento da polêmica hidrelétrica de Belo Monte, no Pará.

    Para Wilson Ferreira, que foi até exposto pela empresa em um fato relevante, houve impactos positivos para a região. “Tem os hospitais feitos pela companhia, salas de aula, 20% das casas daquela região foram feitas pela Eletrobra. Lamentavelmente, o fundo não pode considerar”, diz. 

    Assista à entrevista completa.

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