Vale tem lucro líquido de US$ 995 mi no 2º tri e retoma política de dividendos
Companhia teve um prejuízo de US$ 133 milhões no mesmo período do ano passado, após desastre de Brumadinho
A mineradora Vale anunciou nesta quarta-feira um lucro líquido de 995 milhões de dólares no segundo trimestre, ante um prejuízo de 133 milhões de dólares no mesmo período do ano passado, quando a empresa foi atingida pelo rompimento de uma barragem em Minas Gerais.
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A companhia também reportou um crescimento de 8,8% na geração de caixa medida pelo Ebitda ajustado, para 3,37 bilhões de dólares, devido principalmente aos maiores preços realizados do minério de ferro, “refletindo a demanda saudável vinda da China”.
O preço realizado CFR/FOB do minério de ferro da companhia totalizou 88,9 dólares por tonelada no segundo trimestre, um aumento de 5,1 dólares ante o primeiro trimestre, após a retomada da atividade industrial na China, com a redução de casos de Covid-19.
Essa melhora da economia chinesa, maior importadora do produto da Vale, resultou em um consumo da commodity em “níveis recordes” no período na China, destacou a Vale, citando o suporte do governo em gastos de infraestrutura. O frete marítimo do produto caiu 3,6 dólares/tonelada, totalizando 13,5 dólares/t no segundo trimestre, também beneficiando os resultados.
Se o minério de ferro responde pela maior parte do Ebitda da Vale, a companhia disse que o negócio de níquel teve geração de caixa de 243 milhões de dólares no período, ficando 107 milhões de dólares abaixo do trimestre anterior.
O lucro líquido da empresa, apesar de ter ficado abaixo da projeção da Refinitiv, de 1,5 bilhão de dólares, superou os 239 milhões de dólares registrados no primeiro trimestre, mesmo diante de impairment em ativos de 314 milhões de dólares, após o anúncio em maio da exclusividade para negociar a venda da produtora de níquel VNC.
Em meio às dificuldades adicionais impostas pela pandemia de Covid-19, a administração da empresa destacou que está caminhando para reduzir os riscos da mineradora, fechando o semestre com lucro líquido de 1,2 bilhão de dólares, ante prejuízo de 1,77 bilhão no mesmo período de 2019.
“Estamos caminhando para o ‘de-risk’ da companhia mesmo em um segundo trimestre de 2020 bastante complexo, enfrentando com responsabilidade, disciplina e senso de urgência esse momento desafiador trazido pela pandemia do COVID-19”, disse o diretor-presidente da Vale, Eduardo Bartolomeo, em nota.
Ele disse ainda que a companhia continua avançando na reparação de Brumadinho, na garantia da segurança das barragens e na estabilização da produção de minério de ferro –devido à desastre e Minas Gerais, a empresa teve de reduzir a extração em várias unidades, em função de obras de descaracterização de barragens e por normas mais rigorosas.
A empresa relatou que, no total, já desembolsou 11,5 bilhões de reais em iniciativas relacionadas à reparação por desastre de Brumadinho e descaracterização de barragens. As indenizações somaram 3,9 bilhões de reais, incluindo assistência emergencial mensal.
A Vale destacou que está tendo de ajustar a operação em um cenário de pandemia, que reduz o número de trabalhadores, ao mesmo tempo em que realiza o “ramp-up” de operações de minério de ferro, combinando com iniciativas de reparação por Brumadinho.
Mas todas os desafios não impediram a companhia de restabelecer a política de pagamento de dividendos, suspensa desde janeiro de 2019, após o rompimento da barragem que matou mais de 250 pessoas.
Além disso, o conselho aprovou pagamento de juros sobre capital próprio (JCP) deliberados em 19 de dezembro de 2019, de aproximadamente 1,41 real por ação.
“Como outro passo importante na frente da alocação de capital, também estamos anunciando a retomada da nossa política de dividendos”, destacou o diretor-presidente da Vale.
O anúncio foi feito em contexto de estabilidade da dívida líquida expandida (incluindo compromissos relevantes), que somou 15,3 bilhões de dólares em 30 de junho de 2020, disse a empresa, destacando que 70% dos vencimentos são após 2024.
Estabilização da produção
A Vale informou que entre as medidas para a chamada “estabilização da produção” de minério de ferro está a migração do processamento a seco da mina de Timbopeba, retomado em junho, para processamento a úmido, após a autorização temporária da Agência Nacional de Mineração (ANM) para dispor os rejeitos em cava.
Ainda no complexo Sudeste, a empresa disse que as usinas de Conceição estão utilizando filtragem e disposição de rejeitos nas cavas de Onça e Periquito, após o ramp-up no primeiro trimestre, como uma alternativa de curto prazo para a parada da barragem de Itabiruçu.
No Sistema Sul, o Complexo Vargem Grande implementou soluções alternativas para desobstruir parte da capacidade logística no site e a produção a úmido foi parcialmente retomada com a filtragem dos rejeitos, utilizando a barragem Maravilhas I e a pilha de estéril de Cianita como solução preliminar para a disposição de rejeitos.
Na unidade de Fábrica, as operações ferroviárias do TAS4 foram retomadas, após testes de vibração, permitindo a movimentação de estoques.
Na semana passada, a Vale havia informado que sua produção de minério de ferro no segundo trimestre somou 67,6 milhões de toneladas, aumento de 5,5% na comparação com o mesmo período do ano passado e de 13,4% ante o primeiro trimestre de 2020.