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    Pix virou até ferramenta de paquera, mas ainda não ‘pegou’ no comércio

    Para especialistas e executivos, o foco agora deve ser informar o empresariado sobre o meio de pagamento e oferecer taxas mais competitivas

    Manuela Tecchio, do CNN Brasil Business, em São Paulo

    Se o Pix já faz parte da vida dos brasileiros na hora de fazer uma transferência, ou até mesmo como ferramenta para paquerar, ainda é pouco comum ver o QR code no balcão do comércio. Dados da Abrasel (Associação Brasileira de Bares e Restaurantes), por exemplo, mostram que 38% dos bares e restaurantes do país ainda não se cadastraram no sistema de pagamentos instantâneos do Banco Central.

    Estatísticas do BC confirmam esse comportamento. Enquanto o número de transações de pessoas para empresas foi de 1 milhão, em novembro, as transferências entre usuários aconteceram quase 24 milhões de vezes. Mesmo em volume, a diferença é expressiva: os consumidores movimentaram R$ 1,3 milhão em compras, enquanto transferiram R$ 11,4 milhões para outros usuários.

    Se o Pix promete reduzir custos e manter o capital de giro das empresas aquecido enquanto, por outro lado, deixa a compra mais barata para o consumidor, por que o varejo ainda não aderiu massivamente ao sistema?

    Falta diálogo e informação

    “A demora e a dificuldade para ter acesso a uma política clara de preços, o desconhecimento sobre os custos da transação junto aos bancos é o que tem feito com que os empresários, especialmente os pequenos, esperem um pouco mais para aderir ao Pix”, afirma Kelly Carvalho, assessora econômica da Fecomercio (Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo).

    Entre os comerciantes que participaram do levantamento da Abrasel, 43% disseram que sentem dificuldade em integrar o Pix aos sistemas do negócio, 42% não acham as taxas cobradas por bancos atrativas e 28% sentem medo de fraudes e golpes. A soma é maior do que 100%, porque a pesquisa permitia múltiplas respostas.

    Para o coordenador do comitê de inovação do Banco Original, Raul Moreira, é preciso dividir esses empresários em dois grupos, ao menos. Enquanto grandes redes do varejo se anteciparam ao lançamento do Pix e prepararam seus sistemas para operar com o meio de pagamentos instantâneo, o pequeno e médio empreendedor ainda estudam como implementar a melhoria.

    “A comunicação é um ponto fundamental. Muitos têm dúvidas sobre o cadastro dos consumidores. Só que quem paga não precisa estar registrado. É um desafio enorme esclarecer questões básicas e isso não depende de integração tecnológica; é diálogo. Uma postura de favorecer o cliente, com taxas competitivas, e tirar as desconfianças em relação ao processo”, diz Moreira.

    O Banco Original, por exemplo, resolveu zerar as taxas para micro e pequenos empreendedores pelo menos até o final do ano. “Na nossa opinião, outras instituições também deveriam isentar profissionais liberais e pequenos negócios, justamente para melhorar essa relação. Em 2021, a economia ainda passa por um momento crítico e, se os comerciantes passassem a usar o Pix, poderia haver uma alavancagem das vendas e redução dos custos. Os MEI precisam desse suporte”, diz o executivo do banco.

    BC vê adesão crescente e gradual

    De acordo com o BC, ainda é cedo para querer cobrar uma adesão massiva do comércio ao Pix. Conforme disse a autoridade por meio de sua assessoria de imprensa, a implementação do sistema no varejo está crescendo diariamente, de forma gradual. 

    “Já existem inúmeras redes varejistas, pequenos negócios e autônomos que estão começando a aceitar Pix. Boa parte do varejo conta com sistemas de vendas que precisam ser integrados para a geração dos QR Codes e a conciliação dos pagamentos, o que requer um tempo de integração e ajustes nas soluções e softwares”, disse o BC em nota.

    O executivo do Banco Original afirma que, em novembro, quando o sistema foi lançado pelo BC, a época não era propícia para integração de um novo meio de pagamento, já que a maioria dos comerciantes atualiza seus sistemas operacionais e de caixa justamente no início do ano, passado o período mais forte de vendas, quando fazem o balanço do faturamento.

    Outra causa apontada pelo BC para a demora do aparecimento do serviço de pagamento em tempo real nos balcões do varejo é a competitividade da oferta de bancos. “É natural que as instituições estejam sentindo o mercado para se posicionar e, do outro lado, os comerciantes estejam pesquisando as melhores condições entre as diversas instituições”, disse a assessoria da autoridade.

    Saque de dinheiro em lojas

    Com lançamento programado para o segundo trimestre do ano, o saque no varejo por meio do sistema do BC é outra coisa que coloca “uma pulga atrás da orelha” do empresariado. Uma das preocupações é quanto ao limite do saque, que até agora não foi estabelecido pelo BC, e sobre a segurança do caixa.

    “Hoje, o pequeno comerciante usa uma quantidade limitada de papel moeda. Muitas das vendas são recebidas por cartão de crédito e débito. A partir do momento em que você vai oferecer saque no varejo, existe uma preocupação maior com roubos, por exemplo. Isso precisa ser mais detalhado e discutido antes de entrar em vigor para não ser mais uma dificuldade para o comerciante na crise”, diz Carvalho, da Fecomercio.

    Para Moreira, do Original, o desafio é o mesmo: informar. “Havia um anseio grande da sociedade de encontrar uma forma mais simples e barata de transferir dinheiro. Isso foi atendido. Agora, é preciso demonstrar que o sistema é maior ainda e dar sequência à agenda do BC, com o Pix Agendado, Saque Pix, e o que vier. Esse é o desafio.”

    A Fecomercio tem realizado encontros digitais periódicos com os comerciantes e publicado cartilhas no site para explicar melhor o funcionamento do sistema. “A gente sabe que esse sistema traz agilidade, barateia os custos e é seguro. Quem ganha é o empreendedor”, diz Carvalho.

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