Crise hídrica: Petrobras importa mais para elevar oferta de gás natural em 36%
A maior importação também ocorre diante da parada programada de 30 dias da plataforma do campo de Mexilhão e do gasoduto Rota 1, a partir de 15 de agosto
Em meio à alta demanda por termelétricas causada pela crise hídrica, a Petrobras está tomando medidas com potencial de elevar em 36% a oferta de gás natural na comparação com a demanda registrada no primeiro trimestre deste ano, com maior importação e maximização de produção de algumas unidades.
Ao ser questionada sobre medidas do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), que exigem maior disponibilidade de gás natural para despacho termelétrico, a Petrobras afirmou à Reuters que a oferta poderia subir para 110 milhões de metros cúbicos diários, com a produção local atualmente maximizada a mais de 46 milhões de m³/dia e a importação de gás natural boliviano elevada ao limite de 20 milhões de m³/dia.
Além disso, a importação de Gás Natural Liquefeito (GNL) em alguns meses deste ano alcançou 14 cargas por mês, mais do que o dobro do visto tem tempos recentes, enquanto a empresa também está ampliando a capacidade do terminal de regaseificação na Baía de Guanabara em 50% com autorização da reguladora ANP.
“O esforço ocorre em momento de demanda em ascensão, devido ao incremento do despacho termelétrico determinado pelo ONS no quarto trimestre de 2020 e à aceleração da atividade econômica”, disse a Petrobras, ao ser questionada sobre informação de fonte do setor elétrico relativa a medidas para aumentar a oferta de gás.
O diretor-geral do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), Luiz Carlos Ciocchi, disse nesta terça-feira (15) em audiência na Câmara para debater a crise hídrica, que mudanças nas vazões dos reservatórios de hidrelétricas e o uso de energia termelétrica deverão permitir que o Brasil passe pela crise hidrelétrica de forma “segura”, afastando riscos de abastecimento de eletricidade.
Ainda sobre a importação de gás boliviano, a Petrobras disse que busca a celebração de contrato interruptível com a estatal YPFB, “de forma a aumentar a oferta oriunda daquele país”.
A petroleira afirmou também que posicionou seus dois navios regaseificadores afretados nos Terminais de Regaseificação de GNL, possibilitando uma injeção total de 34 milhões de m³/dia.
Esse volume de injeção de gás natural oriunda dos terminais deve subir para até 44 milhões de m³/dia, com a ampliação do terminal de regaseificação do Rio de Janeiro, de 20 milhões para 30 milhões de m³/dia.
A Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) está autorizando a expansão, disse o diretor-geral da autarquia Rodolfo Saboia, na mesma audiência na Câmara.
GNL fundamental
A Petrobras disse que a oferta de GNL é fundamental para o atendimento das termelétricas, cuja demanda está em torno de 37 milhões de m³/dia.
Dessa forma, o total já adquirido pela Petrobras em 2021 para entrega até setembro é de 67 cargas de GNL, ante 43 e 33 nos anos de 2019 e 2020, respectivamente, segundo informação obtida na empresa, após consulta.
A maior importação de GNL também ocorre diante da parada programada de 30 dias da plataforma do campo de Mexilhão e do gasoduto Rota 1, a partir de 15 de agosto, para manutenção.
O gasoduto Rota 1 escoa o gás natural produzido em Mexilhão –que respondeu por quase 10% da produção do país em abril–, e em outras plataformas do pré-sal e pós-sal da Bacia de Santos para consumo termelétrico.
A esse respeito, a Petrobras disse que está atuando para conciliar a manutenção da plataforma de Mexilhão e do gasoduto Rota 1 às paradas programadas de usinas termelétricas próprias e de terceiros, reduzindo, assim, a demanda por gás natural dessas térmicas no período, “em cronograma articulado antecipadamente com o ONS, buscando o mínimo impacto possível ao setor”.
(Por Rodrigo Viga Gaier; com reportagem adicional de Roberto Samora em São Paulo e Marta Nogueira no Rio de Janeiro)