Preço do petróleo fica negativo pela 1ª vez. Veja o que significa e os impactos
Os preços mínimos registrados pela commodity surpreenderam investidores, mas devem se estabilizar no médio prazo. Brasil não deve ser tão afetado
O preço do petróleo despencou. Pela primeira vez na história, o valor do barril de petróleo referência nos Estados Unidos ficou negativo. Ou seja, os produtores estavam preferindo pagar do próprio bolso para não terem mais o contrato em suas mãos. Mas por que isso está acontecendo?
A pandemia do novo coronavírus continua fazendo da economia global algo completamente instável. Não há especialista que crave o tamanho do rombo que a COVID-19 terá em crescimento (no caso, recessão), desemprego e consumo. O petróleo, portanto, é uma das vítimas dessa incerteza e também das pessoas que estão em casa durante a quarentena.
Afinal, para se dar apenas um exemplo da utilização da commodity, quantas pessoas estão dirigindo?
Para completar, a disputa entre Arábia Saudita e Rússia, que inundou o mundo com mais barris de petróleo, trouxe ainda mais dramaticidade a essa história. Apesar de no último dia 12 de abril, os países terem se acertado por um corte na produção de petróleo, o efeito de decisão não é tão rápido assim.
Todos esses fatores fizeram o preço do petróleo despencar. Em menos de três dias, o WTI, que é o petróleo referência dos Estados Unidos, chegou a cair cerca de 50%. O barril chegou a custar US$ 6,90, mas já está em recuperação nesta quarta-feira (22). No caso do petróleo Brent, vendido no Reino Unido e que o Brasil utiliza como referência, também teve uma desvalorização, mas não em níveis tão baixos como nos EUA.
“Os estoques estão em um nível ridiculamente alto e, do ponto de vista, técnico reduzir produção não é uma questão tão simples”, diz o Rafael Schiozer, professor da Fundação Getulio Vargas e especialista no setor. “Os campos offshore (que ficam em alto mar), por exemplo, existem problemas técnicas que não permitem mudanças de uma hora para a outra.”
Logo, esse excesso de oferta quando não há demanda registrou essa volatilidade recorde no preço do petróleo no início desta semana. Mesmo assim, ainda não é algo para se preocupar, pelo menos na visão de especialistas.
Isso porque os contratos futuros de petróleo, que costumam desenhar um cenário do preço da commodity lá na frente, estão apresentando uma normalidade, com exceção, é claro, do mês de maio. Os contratos para junho, por exemplo, estão em torno de US$ 20. Para os últimos meses do ano, quando se espera que a economia global tenha voltado a uma certa normalidade, está beirando os US$ 40.
“O preço negativo de maio foi uma jogada de especulação de investidores que estavam alavancados (muito expostos às flutuações) tiveram que interromper o investimento porque o contrato de maio estava vencendo. É uma espécie de aperto no investidor”, diz Pablo Spyer, diretor da corretora sul-coreana Mirae no Brasil.
Por aqui, segundo especialistas, a queda no preço do petróleo não terá tanto impacto, além dos já precificados por investidores. Não por acaso, a ação da Petrobras caiu pouco mais de 1% no pregão da segunda-feira (20). O problema da estatal é o mesmo de várias empresas do setor: como se manter rentável com preços tão baixos, afinal a exploração da commodity não é nenhum pouco barata.
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A volatilidade deve continuar por um tempo, mas com os efeitos do coronavírus sendo melhores medidos com o tempo, somada à estabilização do preço do petróleo, é de se esperar que a estabilidade volte daqui uns meses. Um cenário positivo, no entanto, ainda está bem distante.