Burlar teto colocaria o país em uma nova crise, diz ex-secretário do Tesouro
Segundo Carlos Kawall, incertezas quanto aos gastos públicos e a elevação da dívida podem comprometer a recuperação da economia
Se o governo federal e o Congresso Nacional decidirem burlar o teto de gastos, o Brasil estaria rumo a uma nova crise a partir do próximo ano. A avaliação é de Carlos Kawall, ex-secretário do Tesouro Nacional.
“Não só não teríamos uma recuperação da atividade e do nível de desemprego, que deve chegar a patamares recordes no final deste ano – com cerca de 16%–, como teríamos, depois da queda do PIB [Produto Interno Bruto] de cerca de 5% no ano de 2020, uma nova crise, uma nova recessão em 2021”, disse em entrevista à CNN nesta terça-feira (6).
O economista acredita ainda que as incertezas quanto aos gastos públicos e a elevação da dívida do governo podem comprometer o processo de recuperação da economia brasileira.
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“Neste ano, por conta da pandemia, o governo terá um déficit público da ordem de R$ 1 trilhão. Então, ele precisa tomar emprestado esse montante muito expressivo de recursos para atender os gastos com a pandemia e a rolagem da dívida, que neste ano, portanto, crescerá muito”, argumentou.
“A dúvida é a incerteza com relação à sustentabilidade do gasto público a partir do ano de 2021, que tem gerado essa alta dos juros de longo prazo, que é muito negativa não só para o custo da dívida pública, mas para a própria recuperação da economia”, continua.
Questionado se o Tesouro pode enfrentar problemas para financiar sua dívida, Kawall afirma que já é possível ver sinais de estresse.
“Esses sinais são importantes e mostram a importância de retomarmos o rumo das reformas e da manutenção do teto de gastos a partir de 2021”, disse.
(Edição: Sinara Peixoto)