Ford discute a venda de fábrica na Bahia com outras montadoras
Montadora anunciou que fechará suas fábricas e encerrará a produção no país
A Ford tem discussões em andamento com outras montadoras globais de veículos para a venda de seu complexo fabril em Camaçari (BA), afirmou nesta terça-feira o governador baiano, Rui Costa, após reunião de grupo de trabalho criado para minimizar os efeitos da decisão da companhia norte-americana de parar de produzir no país.
“Eles verbalizaram que já têm diálogos abertos com outras montadoras globais, mas que teriam assinado protocolo de sigilo”, disse Costa a jornalistas após a reunião, que contou com representantes sindicais e da federação industrial da Bahia. O Estado abriga a maior fábrica da Ford na América do Sul.
Costa não deu detalhes sobre os eventuais interessados na fábrica da Ford em Camaçari, que até atualmente produz os modelos EcoSport e Ka. Procurada, a Ford afirmou que não comenta especulações.
O governador, porém, disse que o governo estadual contatou as embaixadas da China, Japão e Coreia do Sul para tentar obter apoio para encontrar interessados em assumir o complexo fabril.
Na véspera, a companhia informou em comunicado à imprensa que “vai continuar a facilitar alternativas razoáveis para as partes interessadas assumirem as fábricas”.
Na entrevista, o governador da Bahia negou afirmações do presidente Jair Bolsonaro, que afirmou nesta terça-feira que a Ford queria subsídios para manter suas operações no país.
“Para o governo do Estado, a Ford não solicitou nenhum novo incentivo e não acho que o que levou à decisão de fechamento tenha sido ausência de incentivos”, disse o governador da Bahia. Segundo ele, o que levou a Ford a optar pelo encerramento da produção no Brasil até o final deste ano foi “ausência de uma política industrial nos últimos seis anos”, acrescentou.
“Estamos falando de uma situação macroeconômica que torna inviável a produção industrial no Brasil não só para a Ford, mas para vários segmentos industriais”, disse Costa, referindo-se à queda do real ante o dólar, que torna difícil a importação de insumos usados na produção.
Mais cedo, o JPMorgan divulgou relatório em que afirma que a Ford amargou prejuízo de 300 milhões de dólares em 2019 nas operações na América do Sul e que com a decisão de encerrar a produção no Brasil a empresa deve atingir o equilíbrio financeiro na região em 2020.
A Ford afirma que emprega em Camaçari 4.059 funcionários, mas representantes sindicais e o governador citaram números maiores, chegando a mais de 10 mil funcionários incluindo os trabalhadores das cinco empresas fornecedoras da montadora que estão no complexo fabril.
O presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Camaçari, Júlio Bonfim, presente na reunião, afirmou que na próxima segunda-feira os trabalhadores vão se reunir com a empresa para negociarem as compensações das demissões.
Segundo ele, a categoria tinha negociação para que a fábrica recebesse três novos produtos nos próximos anos o que garantiria estabilidade de emprego até março de 2024. “Vamos juridicamente ver o que podermos construir de valor agregado indenizatório”, disse Bonfim, lembrando que no caso do fechamento da fábrica da Ford em São Bernardo do Campo, em 2019, foi acertado o valor de 2 salários por ano trabalhado, limitado a um teto de R$ 500 mil.
Na véspera, a Ford afirmou que vai assumir encargo de 4,1 bilhões de dólares com o fechamento das fábricas no país, mas não especificou o valor relacionado às demissões.
Costa afirmou que apenas em salários, a Ford em Camaçari movimentava R$ 500 milhões por mês na região metropolitana de Salvador e que em 2018 o Estado arrecadou R$ 200 milhões com a fábrica, mas os valores foram caindo para 150 milhões em 2019 e cerca de 100 milhões em 2020, em meio à queda nos volumes vendidos.
Segundo o governo baiano, o Estado concedeu à Ford R$ 948 milhões em benefícios fiscais entre 2018 e 2020, enquanto o investimento da companhia em Camaçari entre 2015 e 2019 foi de R$ 2,5 bilhões.
Financiamentos do BNDES
Procurado, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) afirmou que a Ford tem dois contratos de financiamento direto com a instituição de fomento, no valor total de R$ 335 milhões, contratados em 2014 e 2017.
Os contratos têm cláusulas envolvendo manutenção do emprego durante a implementação dos projetos alvo dos financiamentos, ” que já ocorreu”. Estes empréstimos já passaram da metade do prazo total, estando com pagamentos em dia, afirmou o banco.
“O banco aguarda as respostas (da Ford) para avaliar os impactos da decisão da companhia sobre os financiamentos diretos ainda em curso”, afirmou o BNDES em comunicado, acrescentando que pediu à montadora esclarecimentos sobre o fechamento das fábricas no país.