BRF aposta em China, EUA e Europa para faturar R$ 100 bi em 2030, diz CEO
Com o aumento do lucro e do caixa, empresa deve acelerar plano de expansão global em 2021 e explorar novos mercados
A Sadia é conhecida de uma maneira diferente no mercado árabe. Por lá, é normal ouvir as pessoas falando da marca da BRF como “Sádia”, com um sotaque bem carregado. Por causa da “Sádia”, a BRF, que é uma das maiores companhias de alimentos do mundo, conseguiu ter uma das marcas mais conhecidas do Oriente Médio. E a partir de 2021, também quer ser famosa em mercados ainda maiores como Estados Unidos, Europa e China.
A empresa quer iniciar uma expansão internacional mais robusta neste ano. Apesar de ser grande exportadora, a BRF enxerga crescimento em produtos de valor agregado, como pratos prontos, alimentos processados, entre outros. E aposta também na Sadia para obter sucesso em outras fronteiras.
“Estamos olhando as oportunidades na América do Norte, Europa e China, e todas elas para termos uma produção local e também produtos de valor agregado que tragam conveniência, diz Lorival Luz, presidente da BRF em entrevista ao CNN Business. “Para cada um desses mercados, vamos ter um mix e expandir a marca Sadia ou pode ser até mesmo ‘Sádia’.”
Esse avanço internacional é parte de um plano ambicioso da BRF: ter um faturamento de R$ 100 bilhões até 2030. A título de comparação, a BRF encerrou 2020 com receita de R$ 39,5 bilhões, alta de 18% em comparação ao ano anterior. Ou seja, ainda faltam mais de R$ 60 bilhões para alcançar o objetivo.
Para isso, a empresa vai desembolsar R$ 55 bilhões na criação de unidades produtivas em diferentes continentes (atualmente, a BRF possui apenas fábricas no continente americano e no Oriente Médio) e também em aquisições – especialmente nos EUA, Europa e China. O Brasil, claro, faz parte dessa expansão.
Não que serão todos os movimentos de uma vez. Na verdade, Luz não confirma nem qual vai ser o primeiro mercado a ser mais explorado, mas garante que 2021 a empresa terá novidades.
E o executivo garante que há dinheiro para essa expansão. Uma prova disso, segundo ele, está no balanço de 2020 da companhia, divulgado na quinta-feira (25). O Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização), importante medida de geração de caixa, cresceu 12,3% no quarto trimestre, a R$ 1,58 bilhão.
Ele também aponta que A BRF encerrou o último trimestre com o índice de alavancagem em 2,75 vezes. Apesar de ter sido 0,25 vez maior do que o apresentado um ano antes, ainda é considerado um patamar saudável por especialistas.
“Toda nossa expansão será feita com disciplina e mantendo a alavancagem abaixo de 3 vezes. Temos um endividamento adequado, sem vencimentos de curto prazo”, diz Luz. “E com a alta do Ebitda eu posso fazer mais investimentos sem afetar a alavancagem.”
Os analistas gostaram dos resultados da BRF e estão recomendando a compra da ação BRFS3, mas apontam alguns desafios. O Bradesco, por exemplo, enxerga um espaço para o papel chegar a R$ 32, uma alta de praticamente 50% ao preço atual, de cerca de R$ 22. A XP acredita em uma valorização de até R$ 30.
Mas há também preocupações. Um exemplo é a questão da redução do preço dólar, que pode impactar as exportações. O BTG Pactual também aponta um receio de que os preços do frango caiam e impacte no balanço da BRF.
Luz, no entanto, acredita que o momento continua sendo positivo.
“Dólar sempre impacta empresas como a nossa, mas ainda vemos uma vantagem competitiva por lidarmos com frangos, suínos e derivados, que podem ser substitutos da carne bovina, que está em sua máxima histórica”, afirma ele.