Por que nenhuma montadora quer fabricar o iCar, carro dos sonhos da Apple
O grupo Hyundai Kia interrompeu a conversa sobre um possível acordo sobre o iCar na segunda-feira (8)
Londres (CNN Business) – A lista de montadoras que podem fazer parceria com a Apple está diminuindo.
O grupo Hyundai Kia interrompeu a conversa sobre um possível acordo sobre o iCar na segunda-feira (8), dizendo que “não estava conversando” com a gigante da tecnologia sobre o desenvolvimento de veículos elétricos autônomos.
A Apple não quis comentar. Não está claro a posição atual da empresa no desenvolvimento de planos para qualquer carro em potencial, mas patentes têm sido concedidas para uma série de invenções automotivas. O “Projeto Titan”, seu esforço supostamente secreto para entrar no ramo automotivo, tem sido uma fonte frequente de rumores nos últimos anos.
A negação de Hyundai Kia saiu depois de reportagens sugerirem que o grupo sul-coreano estava perto de fechar um acordo para fabricar carros elétricos para a Apple, possivelmente no estado da Geórgia, dos Estados Unidos. As ações da Hyundai e da Kia caíram 6% e 15%, respectivamente, perdendo alguns ganhos recentes provocados pela especulação de uma parceria com a empresa de tecnologia, avaliada em US$ 2,3 trilhões (cerca de R$ 12,5 trilhões).
Os investidores podem estar exagerando na reação. Hyundai e Kia teriam polido suas reputações fazendo parceria com a Apple, e suas fábricas teriam produzido mais carros. Mas não está claro se a parceria com a Apple teria ajudado a levar as empresas ao topo da indústria automotiva global.
“Se você é a Apple, quer claramente o controle sobre tudo relacionado ao seu produto”, pontuou Demian Flowers, analista automotivo do Commerzbank. “Você quer contratar um fabricante, não ter um parceiro”.
Especialistas do setor automotivo geralmente concordam que, se a Apple quiser entrar no mercado de carros, precisará de um parceiro que já os fabrique. Os custos de investimento, experiência e força de trabalho necessários para fabricar milhões de carros por ano dificultam a entrada de qualquer empresa – mesmo uma com tanto dinheiro quanto a Apple – no setor.
Com a especulação crescendo recentemente, as empresas Ford, General Motors, Tesla, Honda, Nissan e Stellantis, o novo grupo automotivo formado a partir da fusão da Fiat Chrysler e PSA, foram consideradas por analistas como potenciais parceiras da Apple. No entanto, há boas razões para nenhuma deles unir forças com a empresa de tecnologia.
A questão central é se a Apple está disposta a compartilhar sua experiência em tecnologia com uma montadora, o que daria à empresa parceira uma grande vantagem na corrida para produzir veículos elétricos e autônomos que se integrem perfeitamente com tecnologias como redes 5G e computação em nuvem.
Mas compartilhar pode não ser o que a Apple tem em mente.
“A Apple não vai ajudar a empresa que fizer isso”, disse Flowers. “A Apple não vai compartilhar nada. O único benefício que alguém obterá da Apple serão os volumes”.
Um acordo que não inclui o compartilhamento de tecnologia e estreita colaboração em produtos futuros deixaria a montadora em uma situação semelhante à da Pegatron e da Foxconn, que fabricam iPhones para a Apple, mas não colhem as enormes recompensas financeiras.
A replicação desse modelo de negócios é algo que as principais montadoras parecem querer evitar.
“A Volkswagen quer desenvolver seu próprio software de direção autônoma, criar o seu sistema operacional. Ela quer controle sobre seus dados, competir com os caras da tecnologia, as Teslas da vida e qualquer outra pessoa que vier”, afirmou Flowers.
“Pergunte à Volkswagen se ela seria o fabricante contratado de um dos caras da tecnologia. Não acho que ela vai topar”, acrescentou.
Jürgen Pieper, analista do banco alemão Metzler, concorda que as grandes montadoras têm mais a perder. “Elas não querem abrir as portas para a Apple”.
Fabricantes de automóveis menores que não conseguem investir tanto em tecnologia elétrica e autônoma podem estar mais abertos a uma parceria com a Apple. A Hyundai foi uma das empresas que se encaixou no perfil, segundo analistas. Há quatro outras: Honda, Nissan, Stellantis e BMW.
“Talvez a BMW veja as coisas de forma um pouco diferente, dizendo, ‘OK, em algum momento temos que aceitar que a Apple está entrando no negócio de automóveis e, se isso estiver acontecendo, queremos ser o parceiro em vez de qualquer outra pessoa’”, disse Pieper.
A Apple pode tentar evitar batalhas sobre a marca e o controle criativo contratando um produtor contratado, como a Magna, que já fabrica carros para montadoras como Mercedes-Benz, Toyota, BMW e Jaguar. A Magna até desenvolveu sua própria arquitetura de engenharia de veículos elétricos.
Se a Apple encontrar um parceiro entre as principais marcas de consumo, o ritmo das mudanças na indústria só aumentará.
“Estamos ansiosos por novos concorrentes que certamente irão acelerar ainda mais a mudança em nosso setor”, disse recentemente no LinkedIn o CEO da Volkswagen, Herbert Diess. “Já disse isso antes: uma empresa de mobilidade será novamente a empresa mais valiosa do mundo, seja ela Tesla, Apple ou Volkswagen AG.”
(Texto traduzido, clique aqui para ler o original em inglês).