BC: Brasileiros com endividamento de risco somavam quase 5 milhões em 2019
Em dezembro de 2019, cerca de 4,6 milhões de brasileiros se encaixavam em pelo menos dois dos critérios do que o Banco Central (BC) classifica como endividamento de risco. O número equivale a 5,4% da população brasileira com operações de crédito aberto. Os dados são do relatório de Endividamento de Risco no Brasil do BC, publicado nesta terça-feira (7).
De acordo com o BC, o endividamento de risco se classifica quando o tomador de crédito se encaixa em pelo menos dois dos seguintes critérios: com inadimplência de parcelas de crédito superior a 90 dias, comprometimento de mais de 50% da renda mensal para pagamento de dívidas, contratação de mais de uma modalidade de crédito, e renda mensal abaixo da linha de pobreza após a quitação de empréstimo.
“A ocorrência simultânea de dois ou mais desses indicadores caracteriza o endividamento de risco, ou seja, quando o cidadão tem um volume de dívida acima de sua capacidade de pagamento, e cuja persistência e baixa qualidade do crédito prejudicam o gerenciamento de seus recursos financeiros e, em última instância, sua qualidade de vida”, explica o BC.
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Para o diretor de relacionamento, cidadania e supervisão de conduta do BC, Maurício Moura, quando o cidadão perde o controle da parte financeira de sua vida, todos os outros aspectos são prejudicados.
“A situação limite nesse processo de perda de controle financeiro é justamente o superendividamento”, observou.
Moura ressaltou, no entanto, que o superendividamento não é um problema nacional ou brasileiro ou de economias em desenvolvimento. “Países com economia avançada também sofrem com graves problemas de endividamento. Outra coisa é que o endividamento de risco não é o superendividamento. Mas é um bom indicativo do que pode ser o superendividamento no Brasil”, disse.
Do total de consumidores com endividamento de risco, o maior grupo, de 10,3 milhões, se concentrava como inadimplentes. Outros 9,8 milhões estavam com mais de 50% da renda comprometida. Já aqueles com operações em multimodalidades, somavam 3,4 milhões. Outros 2 milhões ficaram com a renda abaixo da linha de pobreza após o pagamento de dívidas.
Mais vulnerável
O relatório revela ainda que aqueles com renda média entre R$ 2 mil e R$ 10 mil e acima de 54 anos são financeiramente mais vulneráveis. “Tal recorte se justifica pelo maior nível de relacionamento bancário dessa população, com acesso a uma maior gama de produtos financeiros e a maiores limites de crédito”, conclui.
O BC concluiu no relatório que a elaboração de políticas públicas voltadas especificamente para o atendimento do endividado de risco exige uma abordagem tanto preventiva quanto de tratamento.
“Do lado da prevenção, indicam-se iniciativas de melhoria da educação financeira, alertando sobre os perigos potenciais da tomada de decisão mal informada e sobre a necessidade de entendimento dos orçamentos pessoal e familiar e de comparação entre produtos e serviços financeiros antes da contratação”, sugere o estudo.
“Do lado do tratamento, privilegiam-se as políticas focadas na renegociação das dívidas com o auxílio das instituições financeiras e da rede de proteção ao consumidor e, para os casos mais problemáticos, na orientação à resolução extrajudicial de conflitos”, completa.
Moura destacou que mesmo durante a pandemia, o BC segue atuando em programas de educação financeira, incluindo aqueles direcionados para brasileiros que ainda não estão inseridos no sistema.
“Para os que já estão no sistema financeiro, também. O objetivo final da educação financeira é que o cidadão tome as rédeas de sua vida financeira, para que ele tome crédito de maneira adequada, contratando aquele que, de fato, vai agregar valor e trazer qualidades para sua vida e não aquele que vai o colocar em uma situação difícil no futuro”, completou.
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