Recuperar a confiança de consumidores e investidores será tarefa dura nos EUA
Cerca de 16 milhões de pessoas entraram com pedidos de auxílio-desemprego apenas nas últimas três semanas, um cenário que impõe muitas dificuldades
O espaço aéreo dos Estados Unidos ficou fechado por três dias após os ataques de 11 de setembro de 2001. Levou três anos para a indústria se recuperar, apesar da triagem rigorosa dos passageiros e da criação de uma nova agência dedicada à segurança do transporte.
Quando a construção de casas começou a cair em 2006, antes da crise financeira e da recessão, demorou cinco anos para que o equilíbrio entre construtores e compradores voltasse a se mostrar saudável o suficiente para permitir que a construção começasse a crescer de maneira confiável. Algumas pesquisas sugerem que toda uma geração de potenciais compradores de casas ficou assustada com o episódio e permanece à margem.
À medida que os governadores e o governo Trump discutem quando reiniciar uma economia devastada pelo surto do novo coronavírus, eles podem ter esses exemplos em mente: quando o comportamento público sofre um choque, é lento o processo de recuperação.
“Isso é diferente da última crise e é mais difícil de entender. Temos um aspecto de saúde e um aspecto econômico, e não podemos separá-los”, disse Clark Ivory, presidente da Ivory Homes, construtora de Utah, em um seminário sobre sobrevivência de empresas na semana passada. “Será um desafio de três anos.”
E o dano econômico está aumentando. Cerca de 16 milhões de pessoas entraram com pedidos de auxílio-desemprego apenas nas últimas três semanas. As vendas no varejo caíram 8,7% em março, a maior queda já registrada. O governo federal se comprometeu com mais de 2 trilhões de dólares em medidas emergenciais de gastos, assumindo níveis de dívida que rivalizarão com os da Segunda Guerra Mundial.
Enquanto isso, o JP Morgan Chase deu início na terça-feira ao que provavelmente será uma horrível temporada de balanços corporativos.
Não há dúvida de que essa queda será histórica em profundidade. Mas a natureza do evento por trás dele é o principal obstáculo a um reinício econômico: uma crise de saúde que matou mais de 28 mil pessoas no país, de acordo com uma contagem da Reuters, e deixou medo e confusão em seu rastro.
“Aversão a perda” é um sentimento poderoso. Algumas pesquisas sugerem que ele fica mais forte quando as pessoas sentem que os resultados dependem não de chances aleatórias, mas de suas escolhas pessoais –nesse caso, se devem retornar a um cinema, restaurante ou evento esportivo.
“Como os consumidores estão respondendo? Como as famílias estão respondendo? Como os líderes empresariais estão respondendo? … Eles perdem a confiança em apenas ir e fazer coisas?”, questionou Raphael Bostic, presidente do Fed de Atlanta, em entrevista esta semana a uma estação de rádio de Miami.
O sentimento dos consumidores e das empresas dos EUA caiu drasticamente. Economistas começaram a tentar incorporar essas informações e dados econômicos recebidos em projeções de médio prazo sobre a profundidade do impacto e o ritmo da recuperação.
Nenhum parece bom.
Em análise recente, um grupo de pesquisadores –incluindo o professor da Universidade de Stanford Nick Bloom, criador de um índice de incerteza frequentemente citado– projetou que o Produto Interno Bruto (PIB) ao fim deste ano ainda estaria 11% aquém do de 2019.
Para retomar o crescimento econômico, “a condição necessária é que as paralisações obrigatórias sejam revertidas. É provável que seja Estado por Estado, em alguns casos até cidade por cidade”, disse Chris Varvares, um dos chefes para economia norte-americana do IHS Markit, em uma discussão online esta semana com a Associação Nacional de Economia Empresarial.
“Não é uma condição suficiente. Precisamos que os consumidores continuem suas vidas diárias. Isso estará ligado ao número de novos casos (de coronavírus) … (e) se os tratamentos que estão sendo testados são eficazes.”
Economistas que debatem a forma da recuperação econômica foram desafiados a ir além dos padrões: um “V” rápido versus um “U” prolongado.
Agora, estão surgindo previsões de um “W”, que sobe e desce algumas vezes com o ressurgimento do vírus, formas de “marca de verificação” que levam um período prolongado para recuperar o terreno perdido, ou mesmo uma “escada” –o salto que Trump está antecipando na sequência de um longo período com pouco crescimento até que uma vacina seja encontrada.
*Com informações da Reuters