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    Disney ou Beto Carrero? O que esperar para o dólar em 2021

    Para especialistas, decisão sobre juros nos EUA e no Brasil não deve afetar muito o câmbio no curto prazo

    Tamires Vitorio, do CNN Brasil Business, em São Paulo

     

    Montagem de Roosevelt usando máscara em nota de Dólar.
    Foto: Viacheslav Lopatin/Shutterstock

    De R$ 15 mil a R$ 40 mil (US$ 2.680 a US$ 7.140): é esse o valor que uma viagem para a Disney pode custar atualmente, levando em conta gastos como passaporte, visto, passagens, ingressos, hospedagem, transporte, alimentação, entre outros. Esses valores seriam suficientes para passar sete dias no parque Beto Carrero por seis vezes no mesmo ano. Ou 17 vezes, se o montante for de R$ 40 mil. 

    “Supondo que não estivéssemos em pandemia, viajar para a Disney seria comum, é claro. Mas o patamar [do dólar] está muito mais alto do que antes. Imagina você viajar com tudo custando quase seis vezes mais do que o normal? É muita coisa”, diz Fernanda Consorte, economista-chefe do banco Ourinvest.

    É claro que as viagens não essenciais devem ser evitadas em tempos de Covid-19. Brincadeira à parte, o exemplo serve para mostrar como o real perdeu valor frente ao dólar nos últimos anos.

    Podemos esperar mudanças para o dólar em 2021? Veja abaixo o que dizem os especialistas.

    Impacto dos juros nos EUA e no Brasil

    As expectativas para a decisão do banco central americano, o Federal Reserve (Fed), em relação às taxas de juros do país são bastante parecidas entre especialistas no mundo todo: elas devem permanecer as mesmas. 

    Isso porque o objetivo do Fed é manter os juros próximos a zero nos próximos dois anos, ao mesmo tempo em que injeta estímulos na economia, com foco em uma recuperação de médio e longo prazos, ignorando um possível aumento na inflação futura. 

    A manutenção dos juros nos Estados Unidos pode acabar beneficiando o Brasil de certa forma, principalmente se a decisão do Banco Central do Brasil no dia 17 deste mês for a de aumentar a taxa de juros (Selic), que está em 2% ao ano desde agosto.

    Quando os juros de um país desenvolvido estão baixos, os investidores tendem a olhar com mais atenção para países emergentes que têm uma taxa mais atrativa, caso do Brasil —o que impacta diretamente no câmbio e pode afetar o valor do dólar.

    Mas é bom manter a calma. Como não é só de juros que o câmbio é feito, o dólar pode acabar não cedendo para um patamar muito diferente do atual, a R$ 5,662 no pregão desta quinta-feira (4). Emerson Marçal, economista e professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV), acha que nenhuma das duas decisões dos bancos centrais deve aliviar totalmente a pressão imposta ao câmbio brasileiro.

    Estamos falando em uma pequena subida da Selic, que não vai mudar muito o mercado de câmbio, mas, sim, sinalizar que o Banco Central está entendendo o que está acontecendo. Na ponta do lápis, o efeito não será tão grande a ponto de reverter a situação.

    Emerson Marçal, economista e professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV)

     

    ‘Filme queimado’ junto a investidores

    Para Juliana Inhasz, economista e professora do Insper, a decisão do Fed pode não ter reflexo no Brasil no curto prazo.

    Nossa perspectiva de sair da crise é muito ruim, porque imunizamos devagar a população. E a situação já não era boa antes da pandemia. Como temos problemas que não foram contornados durante 2020, e que provavelmente não serão neste ano, o que acontece é que os investidores olham para o Brasil e acham que o mercado não é tão sólido.

    Juliana Inhasz, economista e professora do Insper

     

    Segundo Inhasz, a dívida elevada do país, junto com a decisão de pagar uma taxa de juros baixa, acabou deixando o Brasil menos atrativo para quem investe, o que diminui a circulação do dólar por aqui, aumentando o preço da moeda consideravelmente.

    “Isso faz com que saia cada vez mais dinheiro, e o dinheiro que vem é especulativo: bate, fica o tempo necessário para ganhos e vai embora”, diz. Essa volatilidade, segundo ela, também faz com que a taxa de câmbio fique mais alta e sensível a qualquer movimentação, seja ela interna ou externa. 

    As movimentações internas continuam a ter um impacto sério na cotação do dólar nos últimos meses. “O que vem aumentando tanto a taxa de câmbio no Brasil neste ano são questões locais que afetam muito a decisão do investidor, como a forma como estamos lidando com a pandemia e a postura do governo Bolsonaro”, diz Fernanda Consorte, do banco Ourinvest.

    O Brasil é uma vitrine e precisamos pensar em quão bonita ela está para atrair os investidores estrangeiros. Isso faz com que a taxa de câmbio varie.

    Fernanda Consorte, economista-chefe do banco Ourinvest

     

    A vitrine brasileira não está em seus melhores dias. Com um risco-país alto, o Brasil caiu três posições no ranking de maiores economias globais nesta quarta-feira (3), no mesmo dia em que o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) anunciou que o Produto Interno Bruto (PIB) do país recuou 4,1% no ano passado, tendo o terceiro pior resultado da história.  

    Para Emerson Marçal, da FGV, os problemas fiscais precisam ser solucionados para que o mercado de câmbio passe por uma despressurização e o dólar caia.

    “O Congresso precisa resolver essa situação. Já passamos o limite de endividamento que um governo pode ter sem encaminhar uma solução fiscal”, diz. “Se ficar claro ao longo do tempo como o problema será resolvido, você até pode ter um pouco mais de dívida, sem grandes problemas, mas não é o que está no horizonte no momento.”

    Para o dólar realmente ceder, só depois de resolvermos a questão fiscal brasileira.

    Emerson Marçal, economista e professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV)

     

    Segundo o Boletim Focus mais recente, a expectativa do mercado é que o dólar feche este ano cotado a R$ 5,10.

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