Vale e Eletrobras ultrapassam lucros do bancos no 2º tri. Isso deve continuar?
Bradesco, Santander, Itaú e BB têm reduções grandes em seus lucros causados por provisões para calotes e empresas de commodities aproeitam para chegar ao topo
A Covid-19 mexeu no ranking das maiores empresas do país ao se analisar os números no segundo trimestre. Porém, a doença também mudou o topo das companhias mais lucrativas no período. Os bancos brasileiros, que corriqueiramente alcançam o olimpo de empresas mais lucrativas, sofreram muito com os efeitos da pandemia. A maior parte dessa diminuição de ganhos foi causada pelo aumento das provisões, que é o dinheiro reservado para possíveis calotes.
Isso fez com que Bradesco (BBDC3), Itaú (ITUB3), Banco do Brasil (BBAS3) e Santander (SANB11) tivessem diminuições gigantescas nos lucros.
O Itaú, por exemplo, reportou queda de 50%, enquanto o Bradesco e o Santander Brasil ficaram na faixa dos 41%. O Banco do Brasil teve a menor queda entra as instituições financeiras, cerca de 24%.
Não é por acaso que as ações também não estejam performando bem nos últimos meses. Os papéis de todos os “bancões” estão 30% abaixo do valor registrado no primeiro pregão do ano. Banco do Brasil tem a maior queda (-37%), seguido de Bradesco (-36,7%), Itaú (-34%) e Santander (33%).
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Enquanto os bancos caíram, Vale (VALE3), Eletrobras (ELET3 e ELET6) e JBS (JBSS3) subiram. Entre abril e junho, a Vale teve, de longe, o maior lucro das empresas do Ibovespa, cerca de R$ 5,3 bilhões – deixando para trás os efeitos da tragédia de Brumadinho, em Minas Gerais, que deixou 254 mortos e 16 desaparecidos.
Na vice-liderança, a Eletrobras apareceu com lucro de R$ 4,6 bilhões. A estatal conseguiu alcançar esses valores mesmo tendo uma redução de 18% nos ganhos – ou seja, o tombo dos bancos foi muito maior.
Em entrevista ao CNN Business, o presidente da Eletrobras, Wilson Ferreira, afirmou que esse tipo de número poderia aumentar ainda mais, caso a empresa foi privatizada, o que deve acontecer em 2021. Quer dizer, se o Congresso permitir.
No ranking semestral, os bancos continuam dominantes – mas com uma diferença bem menor do que a de outros tempos. Entre os cinco primeiros, apenas a Vale não faz parte do setor bancário.
Os bancos já fizeram provisões bilionárias e, agora, os investidores esperam se todo esse dinheiro separado será, de fato, para cobrir rombos de inadimplentes.
“Temos que acompanhar se haverá muitas dívidas, que ao passar de 90 dias, podem ser vendidas como crédito podre”, diz Pedro Galdi, analista da Mirae Asset.
Caso esses números aumentem, é possível que a Vale continua tendo ganhos maiores do que os bancos. Isso porque a mineradora está em um cenário perfeito: preço do minério está em alta, assim como o dólar está valorizado frente ao real.
“Se as condições se mantiverem como as atuais, a Vale vai ter um ótimo terceiro trimestre”, diz Galdi.
Ambev é destaque negativo
Mas apesar da tamanha perda dos bancos no período da Covid-19, a empresa que mais deixou de lucrar no primeiro semestre deste ano, foi a empresa de bebidas Ambev (ABEV3). Conhecida como uma forte geradora de caixa (e de dividendos), a Ambev sofreu – e muito – com o fechamento de bares e restaurantes, parte importante de sua receita.
A Ambev viu o seu lucro líquido cair pela metade no segundo trimestre em relação ao mesmo período do ano passado. O motivo? Vendas e volumes afetados pela pandemia do coronavírus e despesas financeiras maiores.
No semestre, a queda foi ainda maior: 55%, a R$ 2,3 bilhões. A queda foi punida pelos investidores. Desde janeiro, as ações da companhia caíram 33,3%. E as baixas margens foram apontadas como motivo de preocupação por especialistas, como os analaistas do BTG Pactual (BPAC3).
Os analistas acreditam que mesmo com o aumento das vendas do digital e a impossibilidade de rivais conseguirem fazer investimentos para expandir as operações (a Ambev tem mais de 60% do mercado de cerveja), ainda não está claro como a empresa conseguirá aumentar os seus ganhos com os rumos da pandemia ainda incertos.
“E a Ambev continua a trazer declarações cautelosas em relação à recuperação dos resultados futuros”, disseram os analistas Thiago Duarte e Henrique Brustolin em relatório à época da divulgação dos resultados.
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