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    Por que Bezos, Musk e outros bilionários apostam na exploração do espaço?

    Corrida espacial envolve bilionários de olho em um mercado que deve chegar a US$ 1,4 trilhão já na próxima década

    Tamires Vitorio, do CNN Brasil Business, em São Paulo

    Planeta Terra
    Golfo do México visto do espaço
    Foto: Nasa/Unplash

     

    Competir pelo posto de homem mais rico da Terra não parece ser suficiente para Elon Musk e Jeff Bezos. Ambos os bilionários (que juntos têm uma fortuna estimada em US$ 362 bilhões) também querem ultrapassar a fronteira da atmosfera terrestre e alcançar o espaço.

    E eles não são os únicos participantes da corrida dos bilionários para explorar a Via-Láctea. Richard Branson, do Virgin Groups, fundou a Virgin Galactic para expandir seus negócios para além do planeta em que vive. Branson, a 40ª pessoa mais rica do mundo segundo a Bloomberg, tem uma fortuna estimada em US$ 6,86 bilhões.

    Nos últimos vinte anos, a corrida espacial ganhou novos contornos, indo além da briga entre os Estados Unidos e a antiga União Soviética no século passado, quando se disputou quem colocaria o primeiro homem na Lua.

    Mais do que uma questão de Estado, buscar um lugar no espaço se tornou uma missão privada. E não é para menos: a indústria espacial foi avaliada em US$ 385 bilhões em 2020, segundo a consultoria Euroconsult

    E esse valor ainda pode crescer. Segundo o analista Ron Epstein, do Bank of America, o mercado deve chegar a valer US$ 1,4 trilhão já na próxima década, se aproximando dos US$ 1,5 trilhão da indústria de turismo.  

    Epstein, em uma carta para investidores enviada no final do ano passado, afirmou que “mesmo com a Covid-19 tendo atrasado alguns programas públicos e privados, a pandemia não parece ser prejudicial para o investimento geral na indústria”. “Isso se dá, em grande parte, ao fato de que os gastos espaciais são, geralmente, feitos de negócio para negócio ou para governo, perfil que se recupera mais rápido do que os negócios cujo consumidor final é o cliente”, explicou.

    A mesma previsão (embora mais conservadora) é feita pelo Morgan Stanley, que, em 2020, afirmou que a indústria espacial deve passar deUS$ 1 trilhão em 2040. Apesar da crescente exploração do espaço, a empresa aposta que a área que terá o maior crescimento a curto e médio prazo é a de satélites para internet de banda larga — e não a de voos comerciais, pelo menos por enquanto. 

    “A demanda por dados está crescendo a uma taxa exponencial, enquanto o custo de acesso ao espaço (e, por extensão, dados) está caindo em ordens de magnitude”, diz Adam Jonas, analista do Morgan Stanley, em um relatório. “Acreditamos que a maior oportunidade no setor é a de fornecer acesso à Internet para partes sub e não atendidas do mundo, mas também vai haver aumento da demanda por ampliação de banda para tecnologias como carros autônomos, Internet das Coisas, inteligência artificial, realidade virtual e vídeo”, completa. 

    A Starlink, de Musk, já colocou 11.670 satélites para conexão de banda larga no espaço — mas a meta, segundo a companhia, é chegar a marca de 42 mil. A escolha pelo investimento não é arbitrária: o bilionário quer colonizar Marte, e, para isso, precisa ter um espacinho na indústria global de US$ 1 trilhão que é a internet. 

    Os jogadores 

    Elon Musk, Richard Branson e Jeff Bezos
    Três bilionários competem para ter seu lugar no espaço
    Foto: Getty Images

    Na corrida espacial dos bilionários, Musk parece estar vencendo. Isso porque, no ano passado, a sua SpaceX foi a primeira empresa privada a fechar um acordo com a Nasa para realizar um voo tripulado para a órbita terrestre. Deu certo.

    Apesar de alguns insucessos no caminho da companhia espacial do dono da Tesla (que envolvem explosões de espaçonaves não tripuladas), foi descoberto que os foguetes Falcon 9 podem ser reutilizados. E o objetivo de Musk continua o mesmo: pousar em Marte em 2024.

    O bilionário já falou diversas vezes sobre seus planos de colonizar o planeta vermelho. Em seu perfil no Twitter, Musk afirmou que irá construir 100 naves espaciais por ano, capazes de transportar 100 mil pessoas da Terra para Marte sempre que as órbitas dos planetas se alinharem — o que pode levar mais de 780 dias para acontecer.

    Mas Musk afirmou que quer enviar cerca de um milhão de humanos para Marte até 2050, realizando viagens para a órbita da Terra a cada 30 dias. Os viajantes, então, ficariam parados em algum lugar do espaço por um período até chegarem ao planeta. Com a tecnologia atual, Musk estipula que isso poderia ser feito em 26 meses. 

    Sem querer ficar atrasado na disputa, Bezos anunciou que irá ao espaço no primeiro voo tripulado da Blue Origin, junto ao seu irmão, Mark Bezos, já no dia 20 de julho deste ano. Um terceiro tripulante, que arrematou um ingresso por US$ 28 mil em um leilão (e permance no anonimato), também fará parte da empreitada. A viagem toda tem a duração estimada de 11 minutos. 

    O objetivo de Bezos é, em um futuro breve, fazer um “turismo espacial”. A Blue Origin pretende vender ingressos para viagens rápidas a 100 quilômetros acima da Terra — a distância é a altitude considerada internacionalmente a fronteira do espaço sideral, embora o governo dos Estados Unidos a considere ser em torno de 80 quilômetros. 

    Já o britânico Branson tem prometido, mas demorado para cumprir. Na década passada, ele afirmou que a Virgin Galactica viajaria ao espaço em 2009. Em 2014, durante uma tentativa, uma espaçonave experimental passou por uma colisão fatal que deixou um tripulante morto. Em 2020, voos de teste foram realizados com sucesso, o que fez com que Branson apostasse suas fichas em 2021. 

    Os planos dele são bem parecidos com o de Bezos: realizar viagens turísticas pelo espaço. Com um voo curto, também a 100 quilômetros de altitude da Terra, a aeronave terá capacidade para levar seis passageiros e dois pilotos. 

    A UBS estima que, se tudo der certo, em uma década, o turismo espacial deve chegar a ser uma indústria de US$ 20 bilhões anuais, competindo diretamente com as aéreas. 

    “Embora o turismo espacial ainda esteja em uma fase incipiente, pensamos que conforme a tecnologia se torne comprovada e o custo caia devido à tecnologia e à competição, o turismo espacial se tornará mais popular”, escreveram os analistas do UBS Jarrod Castle e Myles Walton em nota divulgada em 2019. “O turismo espacial pode ser o ponto de partida para o desenvolvimento de viagens de longa distância na terra servidas pelo espaço.”

    É bom apertar os cintos. A próxima viagem marcada pós-pandemia pode ter um destino extraterrestre.

    O privado, o público e o espacial

    Somente no ano passado foram fechados diversos contratos entre empresas privadas e o governo dos Estados Unidos para a realização de voos espaciais, o que mostra o quanto o setor público e privado têm cada vez mais trabalhado em conjunto para a exploração do espaço. 

    A Euroconsult aponta que, no ano passado, a receita dos governos para a área caiu 2%, mesmo sem alteração no orçamento, enquanto a receita comercial foi de US$ 315 bilhões. A parceria, então, se justifica. 

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