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    Como os ricos podem ajudar a salvar o planeta das mudanças climáticas

    As decisões de compra dos ricos têm importância maior na luta contra as mudanças climáticas do que as da maioria das pessoas. Entenda

    O ator Leonardo DiCaprio: Um dos milhares de investidores que prometeram não apostar nos combustíveis fósseis
    O ator Leonardo DiCaprio: Um dos milhares de investidores que prometeram não apostar nos combustíveis fósseis Foto: Facebook/Divulgação

    Stephanie Bailey, da CNN

    Os ricos não apenas têm saldos bancários maiores e estilos de vida mais luxuosos do que o resto de nós: eles também deixam pegadas de carbono maiores.

    Quanto mais coisas você possui e mais viaja, mais combustíveis fósseis são queimados e mais gases de efeito estufa são emitidos na atmosfera.

    Viajar de avião, comprar produtos de luxo, manter mansões aquecidas e dirigir supercarros são ações que geram altas emissões de carbono.

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    A organização beneficente Oxfam estima que a emissão média de alguém entre o 1% mais rico do mundo pode ser 175 vezes maior que uma pessoa entre os 10% mais pobres. Estudos também mostram que os pobres sofrem mais com as mudanças climáticas.

    Mas alguns argumentam que os ricos podem fazer mais para ajudar a resolver a crise climática. Veja como eles podem fazer a diferença.

    Gastar com sabedoria

    As decisões de compra dos ricos têm importância maior na luta contra as mudanças climáticas do que as da maioria das pessoas.

    Ilona Otto e seus colegas do Instituto Potsdam para Pesquisa de Impacto Climático estima que a típica família “superrica” de duas pessoas (que eles definiram como tendo ativos líquidos de mais de US$ 1 milhão, excluindo seu imóvel principal) tem uma pegada de carbono de 129 toneladas de CO2 por ano. Isso é cerca de 65 toneladas de CO2 por ano por pessoa, o que é mais de dez vezes a média global.

    Otto observou que, como a amostra do estudo era pequena, os números são ilustrativos. “Provavelmente nossas estimativas são ainda mais baixas do que as verdadeiras emissões de milionários”, analisou a pesquisadora.

    “Em relação às suas próprias escolhas de estilo de vida, os ricos podem fazer muita coisa, como por exemplo, colocar painéis solares nos telhados de suas casas. Eles também podem comprar carros elétricos e o melhor seria se evitassem usar aviões.”

    No estudo, as viagens aéreas foram responsáveis por mais da metade da pegada de um casal superrico.

    Os ricos também têm mais flexibilidade para fazer mudanças.

    “Um consumidor de alta renda provavelmente tem acesso e pode comprar produtos mais amigáveis ao clima ou produtos de agricultores locais”, afirmou Tom Bailey, que contribuiu para um novo relatório que destaca o consumo em cidades de alta renda.

    “As cidades e as pessoas de alta renda também têm recursos para experimentar novos produtos, serviços e soluções”, explicou, acrescentando que os ricos têm capacidade de criar um mercado para produtos mais sustentáveis.

    Desinvestimento

    Além de escolher em que gastar seu dinheiro, os ricos podem escolher em quais setores investir. Ou não investir.

    A Oxfam calculou que o número de bilionários na lista da Forbes com interesses comerciais no setor de combustíveis fósseis aumentou de 54 em 2010 para 88 em 2015, e o tamanho de suas fortunas aumentou de mais de US$ 200 bilhões para mais de US$ 300 bilhões.

    No entanto, há uma tendência de investidores ricos vendendo suas ações em setores que prejudicam o clima, conhecida como desinvestimento.

    Mais de 1,1 mil organizações e 59 mil indivíduos, com ativos combinados totalizando US$ 8,8 trilhões, se comprometeram a se desfazer de combustíveis fósseis por meio do movimento online DivestInvest.

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    Entre eles está o ator norte-americano Leonardo DiCaprio, que assinou o compromisso em seu nome e no de sua fundação. Também faz parte desse time um grupo de 22 indivíduos ricos da Holanda que prometeu remover sua riqueza pessoal das 200 maiores empresas de petróleo, gás e carvão.

    “Ao não investir em carvão, petróleo, gás e em algumas montadoras que produzem carros normais, ou na aviação, eles conseguem direcionar o fluxo financeiro”, detalhou a pesquisadora Ilona Otto.

    No caso do desinvestimento, um pouco de dinheiro retirado pode ajudar muito. “Fizemos algumas simulações que mostram que com o movimento de desinvestimento não é preciso que todos façam o desinvestimento”, disse Otto.

    “Se a minoria dos investidores desinvestir, os outros investidores não irão investir nesses ativos de combustíveis fósseis porque terão medo de perder dinheiro, mesmo que não tenham preocupações ambientais”.

    Riqueza significa poder

    Pessoas ricas não são apenas tomadoras de decisões econômicas, mas também podem ter influência política. Elas podem financiar partidos políticos e campanhas e ter acesso a legisladores.

    Otto argumentou que os ricos poderiam usar seu poder político para instigar mudanças positivas na política climática.

    “Essas pessoas com as emissões mais altas têm a maior poder para mudar algo. Há muitas pesquisas sobre os pobres, o impacto da mudança climática sobre os pobres, os objetivos de desenvolvimento sustentável e assim por diante. Porém, quando se trata de ação, sustentabilidade e transformação, os pobres não podem fazer nada porque estão ocupados sobrevivendo.

    Mas os instruídos, os ricos e os superricos são um caso completamente diferente. Eles têm dinheiro e recursos para agir e também usam as redes sociais”, detalhou.

    Financiamento de pesquisas

    Os ricos também podem apoiar pesquisas climáticas. Em 2015, o fundador da Microsoft, Bill Gates, comprometeu US$ 2 bilhões de sua fortuna para financiar pesquisa e desenvolvimento de energia limpa.

    Em maio de 2019, um grupo de cientistas escreveu a 100 instituições de caridade e famílias ricas no Reino Unido para pedir um “aumento extraordinário” no financiamento para questões ambientais e climáticas.

    Ryanair afirmou que aplicará uma série de medidas de prevenção contra a Covid-19
    Passageiros em avião da Ryanair: a empresa está entre os maiores emissores de gases de efeito estufa da União Europeia
    Foto: Hannah McKay – 23.ago.2018/Reuters

    “Imploramos que você considere urgentemente um investimento significativo para evitar mais catástrofes ecológicas – seja por meio de seus investimentos pessoais ou de sua filantropia”, dizia a carta.

    Há muitos incentivos para que os ricos exijam ações climáticas: um relatório de 2019 da ONU advertiu que atrasar as políticas climáticas custará às principais empresas do mundo US$ 1,2 trilhão nos próximos 15 anos.

    Agir como modelo

    Os superricos também podem ter influência nas emissões de carbono de outras pessoas.

    “O status elevado em nossas sociedades continua associado a uma alta riqueza material. As pessoas aspiram se tornar como os muito ricos e imitar o estilo de vida deles”, disse Otto.

    As viagens aéreas, por exemplo não são mais apenas um prazer para os superricos: são também uma grande fonte de emissão.

    Em 2020, a companhia aérea de baixo custo Ryanair foi a única empresa que não era do setor de carvão a entrar na lista dos dez maiores emissores de CO2 da Europa, ficando em nono lugar. Todas as outras são usinas ou minas de carvão, sendo a primeira colocada uma usina termoelétrica da Polônia. 

    “Nós, como sociedade, temos que buscar novas maneiras de levar uma vida ‘rica’ que seja independente da riqueza material”, disse Stephanie Moser, da Universidade de Berna, na Suíça, que revelou que a pegada de carbono de uma pessoa é melhor indicada por sua renda do que por suas crenças ambientais.

    “Temos que redefinir a riqueza em nossas sociedades de forma que viver uma ‘vida boa’ seja possível sem altas emissões de gases de efeito estufa”.

    (Texto traduzido, clique aqui para ler o original em inglês).

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