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    Ações nos EUA vêm batendo recordes; até quando isto deve continuar?

    Alguns especialistas argumentam que as ações podem ser negociadas em níveis elevados por longos períodos

    Paul R. La Monica, do CNN Business, em Nova York

    As ações estão perto de bater recordes, com negociações nas bolsas atingindo os últimos níveis semelhantes ao da bolha de tecnologia de 1999-2000 e pouco antes do crash histórico de 1929. Mesmo assim, os investidores parecem despreocupados.

    O mercado raramente esteve com preços tão altos. Uma medida conhecida como a relação P/L (preço/lucro, ou P/E, na sigla em inglês) da CAPE Shiller, que olha os preços das ações divididos pelos ganhos ajustados em dez anos, é cerca de 33. Isso é quase o dobro da média histórica.

    É um pouco mais caro do que a relação P/L de 27 de 1929, pouco antes da era da Grande Depressão, de acordo com uma pesquisa de Jim Reid, estrategista do Deutsche Bank.

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    Reid está preocupado que isso signifique que as ações estejam à beira de um grande retrocesso. E não é só ele.

    “A reversão à média é como a gravidade. Não dá para resistir a isso por muito tempo”, afirmou Todd Lowenstein, executivo de estratégia de ações do The Private Bank no Union Bank, em uma entrevista ao CNN Business. “As avaliações vão acabar voltando a ser a norma. Elas ainda importam”.

    Mas, e se desta vez for diferente?

    Alguns especialistas argumentam que as ações podem ser negociadas em níveis elevados por longos períodos, especialmente porque as taxas de juros estão muito baixas e provavelmente permanecerão próximas de zero por vários anos. E a relação P/L atual ainda está abaixo do pico de perto de 50 durante o boom das empresas ponto.com.

    Além do mais, os investidores parecem mais do que dispostos a perdoar, ou até mesmo ignorar, os altos preços e avaliações de empresas que apresentam consistentemente lucros sólidos e crescimento nas vendas. Basta olhar para a Amazon, que nunca foi barata desde que abriu o capital em 1997.

    As ações de tecnologia caras sobrevivem

    A Amazon é negociada em uma avaliação enlouquecedora de 70 vezes o lucro esperado para 2021. Nem isso desanimou os investidores, incluindo fãs importantes da velha guarda – provavelmente porque os analistas esperam que a Amazon registre ganhos anuais de lucros de mais de 35% nos próximos anos.

    Até a Berkshire Hathaway de Warren Buffett possui um pequena participação na Amazon.

    “Definitivamente, houve muita aceleração no mercado, mas isso é indicativo do que se espera no futuro”, disse Charlie Ripley, estrategista sênior de investimentos da Allianz Investment Management, em entrevista ao CNN Business.

    “As avaliações estão em alta no setor de tecnologia, mas a pandemia acelerou algumas tendências e, no final das contas, essas empresas estão gerando fortes lucros”, acrescentou Ripley.

    Reid, do Deutsche Bank, admitiu em seu relatório que “pode levar uma vida inteira de investimentos e mudanças estruturais” para que as avaliações voltem às normas históricas. Em outras palavras, ações caras podem permanecer em níveis estratosféricos por anos –até décadas.

    Enquanto as grandes empresas de tecnologia, que dominam os principais índices, continuarem a registrar ganhos sólidos de lucros, as ações ainda poderão subir mais.

    Em suma, duas siglas resumem a mentalidade do mercado atual: FOMO, “o medo de perder” na sigla em inglês, acontece quando os investidores sentados à margem percebem que as ações estão subindo em um chamado frenesi de compra causada pela TINA (que pode ser traduzido como “não há alternativa” no mercado de ações dos EUA).

    “Ainda há muito dinheiro esperando para entrar”, disse Chad Oviatt, diretor de gestão de investimentos do Huntington Private Bank. “Embora algumas ações individuais estejam sobrecompradas, todo o mercado não está”.

    Oviatt disse à CNN Business que os investidores podem estar subestimando até que ponto os lucros vão se recuperar em 2021, dizendo que as previsões atuais de um aumento de cerca de 20% podem ser muito baixas e que os lucros podem subir mais de 25% no próximo ano.

    O que sobe deve eventualmente descer?

    Mesmo assim, Oviatt reconhece que o mercado não está barato. Os investidores conservadores deveriam procurar empresas pagadoras de dividendos, acrescentou ele, uma vez que muitos investidores famintos por uma renda consistente não encontrarão muito em títulos de baixo rendimento.

    Pode haver, porém, um acerto de contas para as caras growth stocks.

    “Estou preocupado com as altas avaliações”, disse John Lynch, diretor de investimentos da Comerica Asset Management. “Adoraria dizer que os ganhos recentes são justificados, mas o crescimento pode não ser tão bom quanto os investidores esperam no primeiro trimestre de 2021”.

    Lynch teme que os investidores estejam subestimando a possibilidade de o mercado finalmente esfriar no próximo ano.

    O diretor de investimentos tem um preço-alvo atual de 3.875 pontos para o S&P 500 em 2021. Isso é 5% acima dos níveis atuais – um ganho respeitável, mas dificilmente arrasador. Lynch disse à CNN Business que os lucros terão que crescer muito mais dramaticamente para que as ações justifiquem seus preços atuais.

    Lowenstein, do Union Bank, acrescentou que os investidores estão ignorando muitos riscos que podem reduzir as avaliações do mercado. Segundo ele, o Fed, o banco central dos EUA, pode finalmente começar a insinuar que os aumentos das taxas estão ocorrendo à medida que a economia se estabiliza. Isso poderia enviar ondas de choque pelo mercado.

    O analista disse também que os fortes ganhos das ações deste ano também podem ser um sinal de que os investidores já estão avaliando que o pior pode ser no ano que vem na frente da pandemia. Portanto, os ganhos de 2021 podem simplesmente ter sido adiantados para agora.

    Em outras palavras, o próximo ano pode ser o inverso de 2020. Wall Street pode sofrer mesmo quando os consumidores que não estão no mercado de ações finalmente começarem a se sentir melhor.

    “O mercado está seguindo o caminho do sucesso esperado da vacina, enquanto a economia segue o caminho do vírus e paralisações”, comparou Lowenstein.

    “Há um abismo entre os ativos financeiros e a economia real”, acrescentou. “A economia pode ter um desempenho melhor do que as ações em 2021 porque o retorno à normalidade está precificado”.

    (Texto traduzido, clique aqui para ler o original em inglês)

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