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    A Oi não está sendo fatiada e o futuro dela é a fibra ótica do 5G, diz CEO

    Empresa aposta na venda de ativos e no investimento em infraestrutura de fibra ótica para sair do buraco em que se encontra

    Matheus Prado, , Do CNN Brasil Business, em São Paulo

    Mal das pernas após ser considerada uma “supertele” campeã nacional, a Oi apresentou no último dia 15 de junho uma proposta de aditamento, ou alteração, ao seu plano de recuperação judicial, que se arrasta desde 2017. 

    Na assembleia com credores, marcada para agosto, a companhia vai defender a criação de quatro unidades produtivas isoladas (UPIs): redes móveis, torres, data centers e infraestrutura de fibra. Com isso, pretende segregar os ativos e vender parte deles para investir no seu novo core business: a fibra ótica.

    Em entrevista ao CNN Brasil Business, Rodrigo Abreu, CEO da tele, explica o movimento. “Muita gente acabou lendo a proposta como se a empresa estivesse sendo fatiada, mas na verdade não é isso”, diz. “Essa flexibilidade é necessária porque existia uma figura de sucessão para quem comprasse os ativos. Se não tiver as UPIs, quem compra acaba virando um sucessor das dívidas das companhia, o que inviabiliza o processo.” 

    Data centers e torres, que a empresa não considera mais ativos essenciais, já possuem propostas de compra, inclusive. Os primeiros, em processo mais adiantado de negociação, receberam proposta vinculante de R$ 325 milhões da Elea Digital, empresa do banco de investimento Piemonte Holding. A venda aguarda somente o leilão judicial para ser concluída.

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    Os outros dois setores, considerados fundamentais pela marca, terão tratamento diferenciado. “A divisão de telefonia móvel tem apresentado um bom crescimento nos últimos anos, mas continua sendo a quarta companhia do país”, diz. O preço mínimo estabelecido para uma possível venda deste setor é de R$ 15 bilhões. Já a UPI de infraestrutura de fibra, que será uma “figura jurídica” para receber investimentos para a área, ficará em 49% com a Oi.

    Com isso, a gestão espera desalavancar recursos e avançar com seu plano centralizado na implementação de fibra, setor que a empresa ampliou participação nos últimos 18 meses e cresceu mais de 700% no último ano. “Quando anunciamos o plano, declaramos que o futuro da companhia seria a fibra. Pouco mais de um ano depois desse anúncio, estamos batendo mais de 1,2 milhão de assinantes de banda larga de fibra”, explica Abreu. 

    O número ainda é pequeno em termos de Brasil e a empresa não tem cobertura em São Paulo, mas o presidente acredita que estes números são escaláveis. “Uma projeção divulgada no ano passado previa que a companhia pudesse chegar a 4 milhões de usuários em fibra até 2022”, diz. “Com o aditamento do plano, a ambição cresceu. Queremos olhar para 2025 e ter 7 milhões de casas conectadas com fibra.”

    E a oferta promete ser ainda maior, ou seja, a área coberta por fibra da companhia. “Hoje estamos passando por mais de 6 milhões de casas. A ideia é chegar, até o final do ano que vem ou até o meio de 2022, a 16, 20 milhões de casas. E, em 2024, chegar a passar em 30 milhões de casas com o serviço.”

    5G

    Além da aplicação natural da infraestrutura com na oferta de internet de banda larga, a fibra ótica também será essencial para o avanço estrutural da tecnologia 5G no Brasil. Nesse sentido, Abreu acredita que a velocidade com que o processo de implementação da modalidade vai ocorrer no Brasil importa pouco para os planos de desenvolvimento da empresa.  

    “Independente de começar um pouco mais devagar ou pouco mais rápido, com menos ou mais operadoras, com menos ou mais vendors, a fibra vai ser necessária. Essa é a única certeza do ponto de vista de tecnologia”, diz. “E ela vai ser muito necessária de uma maneira capilar, distribuída por muitas antenas, muitos pontos de acesso. O que dá uma previsão de crescimento independente de como seja feito o processo.”

    Apesar disso, diante da guerra comercial entre China e Estados Unidos, que pode culminar com a saída da chinesa Huawei dos EUA e do Brasil, a Oi não é favorável às restrições. “Nunca é bom restringir tecnologia. O que precisa é existir processos de governança de segurança, governança de dados”, diz. “Mas isso é natural. As operadoras têm grandes operações de segurança e uma preocupação com privacidade absurda. Nós somos alvos diários de tentativas de ataque e não vai ser diferente no 5G.”

    Resultados trimestrais

    Mesmo com a reestruturação em curso, o primeiro trimestre de 2020 trouxe resultados muito ruins para a companhia. A Oi teve um prejuízo líquido consolidado de R$ 6,25 bilhões no primeiro trimestre de 2020, contra lucro de R$ 679 milhões nos mesmos três meses do ano anterior. Além disso, a dívida bruta consolidada cresceu 34,1% e ficou em R$ 24,44 bilhões no período.

    Abreu argumenta que o câmbio teve uma atuação decisiva nestes números. “Quando há uma variação tão brusca de câmbio como a que aconteceu no primeiro trimestre, o resultado de qualquer companhia que tem uma dívida com parcela considerável atrelada à moeda estrangeira acaba sendo impactado artificialmente simplesmente por esse movimento”, diz. “Só nisso, foram quase R$ 4 bilhões de diferença de resultado.” 

    No entanto, o executivo também tenta diferenciar o resultado financeiro do operacional. “São duas áreas muito distintas, uma puxando para cima, outra puxando para baixo”, diz. “Os resultados do cobre, da telefonia fixa, da concessão, são um problema estrutural do mundo inteiro. A telefonia fixa vai desaparecer”, reflete. O setor que cresce, como já citado acima, é a fibra, que ainda não consegue carregar os resultados da empresa.

    Em relação à crise propriamente dita, a companhia também sentiu impactos, predominante na telefonia móvel. O setor registrou uma queda de vendas de quase 50% com o fechamento de lojas e a restrição no trânsito de pessoas.

    Ações

    Com tudo isso, a empresa ainda tenta retomar seu status de gigante na bolsa de valores. Durante a crise, as ações da empresa chegaram a ser vendidas por menos de R$ 0,50, ganhando o embaraçoso título de ‘penny stock’. Esse nome é dado para ações que são negociadas na B3 por menos de R$ 1.

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    Depois da proposta de aditamento, no entanto, o cenário começou a melhorar, apesar de estar longe do cenário ideal (OIBR3 era negociada a R$ 1,19 no dia 3 de julho). “Felizmente se entendeu que o impacto real da crise não era da magnitude que se via na desvalorização de ação”, defende Abreu. Atualmente, a empresa vale um pouco mais de R$ 7,2 bilhões (cerca de um terço de sua dívida bruta).

    Com tudo isso, analistas divergem bastante quando o assunto é investir nos papéis da Oi. Mas um relatório publicado pela Nord Research projeta uma valorização dos papéis da empresa, mesmo sem ainda estabelecer um preço-alvo.

    “Em se concretizando nossa estimativa-base, o potencial de retorno em OIBR3 se traduz em mais de duas vezes em um cenário mais pessimista, e mais de três vezes em um cenário mais otimista em relação ao que ela valia na data de divulgação da sua proposta de aditamento do RJ.”

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